POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
LUIS DO COUTO
No ano de 1904, o grande poeta Luiz Ramos de Oliveira Couto estréia na literatura com o seu livro Violetas, seguido mais tarde por Lilazes (1913) e Moema (1924).
Foi além de poeta arrebatado, um grande jurista e combativo jornalista na imprensa de Goiás e do Triângulo Mineiro. Nasceu em Goiás em 1888 e faleceu na mesma cidade, em 1948, aos 60 anos de idade.
Fonte da biografia: https://www.dm.com.br/opiniao
EXCÊNTRICA
Salve! Senhora das castanhas tranças
de ebúrneas faces e de olhar sereno!
Sois a deusa das minhas esperanças,
por quem vivo feliz e por quem peno.
Às vezes sois iguais às pombas mansas,
outras vezes matais com um vago aceno…
Trazei os lábios risos de crianças,
trazei nos níveos seios o veneno.
No vosso caminhar pela existência
dais a uns, da paixão, a rubra essência,
feris a outros com terríveis lanças!
No vosso caminhar pela existência
dais a uns, da paixão, a rubra essência,
feris a outros com terríveis lanças!
Eu gosto dessa excêntrica figura
de olhares ternos, de elegante altura…
– Salve! Senhora das castanhas tranças!
TUDO VOLTA ?
A Augusto Rios
E vão-se as aves, meigas, forasteiras,
Da estação linda consagrada às flores,
Deixando em pranto os leques das palmeiras,
Deixando o prado sem os seus rumores...
As copas das virantes laranjeiras
A pouco e pouco vão perdendo as cores,
E vão caindo as folhas das mangueiras
E vão perdendo os bosques os verdores...
Mas, depois de tudo volta sorridente:
A estação, o campo que chorou,
A água cristalina, o céu nitente...
E volta a passarada que voou,
A flor, o bosque, o prado, o sol nascente,
- Só não volta o prazer a quem amou!
(De Violetas, 1904)
À SESTA
Descansa o sertanejo à fresca sombra
De um grande cedro antigo... Que paz bendita, que macia alfombra
Naquele sítio amigo...
Feliz descansa. A rude fronte inclina.
Do sono baixa o véu... Pelos lados desdobra-se a campina,
Em cima o azul do céu...
Além, tranquilo, pasta o gado. Corre
A linfa cor de prata, E serpenteia pelo campo e morre
No silêncio da mata..
Doirada flor bizarra entreabre o cálix,
E o vento a acaricia E espalha na mudez dos verdes vales
Olímpica harmonia...
De vez em quando o som de uma harpa
Um pássaro modula Cantos, e ao longe um pombo numa escarpa Mimosa pomba arrula..
Crestado o rosto pelo sol, descansa
E dorme a sono solto O sertanejo. A brisa oscula, mansa,
Seu cabelo revolto...
E a natureza portentosa e grande
Esplêndida, festiva, Tem a feição de uma alma que se expande
Numa alegria viva..
Largas sombras se estendem na planura
Dos galhos enfolhados. - São pequenos oásis de frescura
Nos ermos abrasados... O sertanejo dorme. Tem risonhos
Os lábios; perto flores
Vecejam: e ele dorme e os sonhos
Dedica aos seus amores...
E o sol em meio vai, no céu nitente
Do seu itinerário.
Alagando de luz vermelha e quente
O campo solitário...
(De Lilazes, 1913)
COUTO, Luiz do. Violetas e Lilazes. Poemas. (Rogério Arédio Ferreira – org.) Apresentação: Ms. Elizângela Gonçalves Pinheiro. Goiânia: Kelps, 2013. 102 p. 15 x 20,5 cm.
ISBN 978-85-400-0586-0-0
Ex. bibl. Antonio Miranda - Doação do livreiro Jose Jorge Leite de Brito, em 2021.
No livro, aparece o Copyright em nome do organizador da reedição da obra de Luiz Couto, proibindo a reprodução até mesmo parcial de textos do autor. Mas já havíamos publicado uma página em homenagem ao poeta, com três de seus poemas, originários de suas obras Violetas (de 1904) e Lilases (1913), no presente Portal de Poesia.
Na edição da obra de Luiz do Couto, de 2013, a apresentadora, Elizângela Gonçalves Pinheiro, professe de Literatura da UEG, revela:
"Com esta organização, Rogério Arédio Ferreira reforça o trabalho de redescobrimento de Luiz Ramos Couto, um poeta pouco conhecido e porque não dizer esquecido pela crítica."
Por isso achamos conveniente anunciar a edição da recente edição, com a intenção de divulgar e promover o trabalho para o redescobrimento do autor. E escolhemos apenas um poema dele, chamando a atenção para a edição e para ressaltar, como frisou a professora, "o bom gosto do romantismo e submergir no ritmo e na rima cadenciados que essa época viveu", mantendo também a grafia da época.
Perversos
Eu levo o funeral da minha crença
Dentro desta alma espedaçada e fria,
Lugubre como a dor enorme e immensa,
De uma pesada e lúgubre agonia!
Noites escuras! Ai! que treva densa,
Cheia de prantos e melancolia,
Cerca-me a vida! Invade-me a descrença,
Com ella o olvido e o lucto e a dor sombria!
E assim mesmo sorris minhas penas,
Perversos! Corações de gelo! Hyenas!
Quando tendes a mesma ou peior sorte!
Não posso, como vós, viver mentindo:
Passar a vida eternamente rindo,
Tendo no peito a gelidez da morte!
Página ampliada em julho de 2021.
Página publicada em dezembro de 2019
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