MORCEGO
Pedaço de noite
que a carne
e o sangue geram
negra borboleta
de frio império
cópula de amor e ódio
na infernal espera
O SAPO
No fundo deste brejo
há um sapo
bem maior que o mundo
pois quando ele canta
o sol se põe
O sol e o sapo
não se amam
mas o sapo e o brejo
são verdadeiros irmãos
O BOI
Bicorne da mansidão
passa o boi imenso
nos esteios quatro
da existência
Farinha de ossos
Filé — queijo — bife
da mãe
e do filho
Nos homens simples
a vontade
da carne
de sol.
A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998. 324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3 Ex. bibl. Antonio Miranda
Re vi vendo
Hoje de partidas
partos e idas
idas e vindas
me fiz ausente
neste contínuo presentas
porto de idas
partidas
Entre rios e lágrimas
me fiz faço e desfaço
em risos e tinos
destinos
Flor em tino
eu e meu pai
ele o outro
eu o outro caminho
desatinos
Tantos rios negros
Corixos, corixões e saudades
tantas águas
Araguaias, Coxipós
Araguaianas, Aruanãs
Leopoldinas
Cuiabás, curimatãs
Seminários
tantas árias e areias
cactos e girassóis
ladainhas véspera
e laudes
Amazonas, Rios-Negros
encontro de águas
pontes desfeitas
ilhas e águas
Igapós, igarapés, ubás
montarias, canoas
e travessias
tantas travessias
Águas, águas e mais águas
Atlânticos
Rio
Rio, pontes e prantos
sal e salsugem
sargaços
Por quanto sal eu posso
Universidades, humanidades
Repúblicas e monarquias
Onde estou?
Por onde eu ia?
Lagos, lagoas, igapós
agapanto e nenúfares
sapos, quelônios e ofídios
vilarejos, cidades e metrópoles
megalópoles
Aqui me vejo
estrangeiro em minha terra
estrangeiros em meus dias
quantas xenofobias
Hoje parto deste porto
com maresia no peito
e sargaços n´alma
Meu bem — meus bens
meu amor — meus amores
meu dia — meus dias
minha alma — minha palma
quantas melodias
(In Poemas do GEN/30 anos/ 1994)
*
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Página ampliada e republicada em maio de 2022.