A bala, a faca, só cava
o peito
de quem cala.
Socava a fala no peito
de quem fala.
Ferido o peito, a faca
dispara calalacrando
a abertura da bala.
Que é de corte e furo
que o homem é homem.
Que é de quase-nada
que se consome e constroe.
Que é de quase-nada ao
quase-tudo: um tempo de bala.
Que o que é do homem
se faz em fuso,
em trama de bala e faca,
em furo.
Embala, emfaca, embainha
que no corpo resvala e revela
as marcas da facabala
que partiram do outro, do ontem,
do sempre. Tesouro antigüo.
Quem cala atira pra dentro
abala o que já é
não-sem.
Cava no nada. Sulca.
Trilha, trama
e trauma. Bala faz!
E também a faca
que, mais corta, mais cresce,
mais fere, mais afina.
A fina faca de corte
mais vida que morte
às vezes alucina.
A faca, a bala, apelo!
A pelo a faca ensina.
Embanhada, embainhada, temperada
a faca, a bala a sina.
A bala atirada, a faca afiada.
No corpo criado
a alma afina.