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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA

 

 

 


GUIDO HELENO

 

Nasceu em Anápolis, Goiás em 1943. Mudou-se para Brasília ainda criança, onde formou-se em Jornalismo.

Faleceu em 2017.

 

 

 

Último roteiro

 

Se eu morrer de enfarte             

Que seja noite, bem tarde

E tenha estrelas no céu

Embora não possa vê-las.

Uma coruja romântica

Piando um cântico antigo

Para que eu leve comigo

Lembranças de meus amores.

Quero flores bem diversas

Em volta, muita conversa

E uma bandeira do time

Que nunca foi campeão.

Quero milagres de peixes

Tristes migalhas de pão

Lágrimas coloridas

Em arco-íris noturno

Que só os pobres de espírito

Possam vê-lo jorrando.

Mas se não morrer de repente

E de repente for ficando

Quero estar vivo e vivendo

Nunca, nunca vegetando

Poder ler e escrever

Andar em todo lugar

Comer o que quiser

Qualquer mulher, amar.

 

 

 

        Marcatempo

 

       a manhã brotou em pântanos, galos e neblina
lâmina de orvalho no pasto
leitosa foto de um Goiás ainda inteiro
lá estou eu plantando estacas
braços finos e o rosto de espanto
enquanto pássaros distraem crianças em seus cantos
leves ventos a sacramentarem rituais em todos os campos

 

        lá estou eu senhor a bradar blasfêmias
têmporas esmaecidas pelo tempo de espera

        muge o gado a santa complacência
de ser pingo e ponto em um canto de esfera

 

        gira o planeta agitando o rabo para o Sol
cãozinho triste que se enrosca nas pernas do dono
roda a vida no referencial de um curral encardido
marcando uma cruz na folhinha de parede
o dia existe no rabisco rural que se traça no papel
no sinal trêmulo que se imprime na memória

 

        lá estou eu a escrever histórias
contando prosas, inventando versos
ouvindo rezas, morrendo aos poucos
na solidão de um barranco esquecido.

 

 

 

A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) Organização, introdução e notas  de Assis Brasil.  Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998.   324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3                     Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Estados

em minas
como em goiás
sente-se a mansidão dos pastos
vê-se um gado gordo mascando o tempo
pisoteando o esverdeado orvalho das madrugadas
adubando o alimento com as própria fezes

em minas
como em goiás
ouve-se uma boa estória de lobisomem
contada com poucas palavras

Pois todos são de pouco falar e comer
mais de ouvir e jejuar

em minas/como em goiás
há muito sentimento nos corações dos chagásicos
há muitos calos nas mãos endurecias pelos cabos das
[ enxadas
lixa viva que alisa o tempo sem muita pressa
mas muito cansaço
em minas/como em goiás
o amarelo nos olhos/pés descalços beirando barrancos/
[ abrindo tristes “trieiros”
sinuosamente estreitos/tantos caminhos levando aos
[ mesmos casebres

em minas
como em goiás
em todos os homens/mulheres/crianças
mistura de raças
sentimento próprio da própria terra
para quem as terras geralmente são impróprias.

                                          (Pássaro de luz/ 1982)


Tristíssima Trindade

fabricava cadeiras gestatórias
altares
andores
confessionários em sucupira
chamava-se José
carpinteiro por vocação e atavismo

apaixonou-se por uma mulher de nome Luzia do Amparo
ele ainda pergunta duas vezes se o nome não era Maria

foram morar na Vila Cairo
um conjunto residencial de casas pré-moldadas
infelizes e carente
até que a morte ou as balas
os estraçalhem
para sempre

veio um filho com diarréia
de nomo Cristino da Silva
anjo precoce até na morte
que até hoje não ressurgiu dos mortos

embora a trombeta já tenha
soado o terceiro
aviso
do juízo
final

                                  (Ofício do agora/ 1985)

 

*

 

 

Página ampliada e republicada em abril de 2022


 

Página publicada em dezembro de 2019

 

 


 

 

 
 
 
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