POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
GERALDO COELHO VAZ
Geraldo Coelho Vaz nasceu em Goiânia (GO), em 24 de setembro de 1940. Fez os cursos primário, ginasial e Técnico em Contabilidade na cidade de Catalão (GO). Cursou Direito na Universidade Católica de Goiás. As atividades literárias de Coelho Vaz tiveram início ainda em Catalão, no Grêmio Lítero-Cultural Águia de Haia. Professor de Direito Penal e de Processual Penal, na Escola dos Oficiais da Polícia Militar. Desde sua estréia em livro, em 1963, passou a participar de órgãos culturais e atuar na imprensa, com destaque no jornal O Quarto Poder. Entrou para a Academia Goiana de Letras e para a Academia Catalana de Letras, e é um dos fundadores da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás, a qual presidiu por três vezes.
Ocupou diversos cargos, cabendo destacar que foi secretário de Estado de Cultura, presidente da Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira, além de ser membro do Conselho Municipal de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Recebeu o troféu “Tiokô”, conferido pela UBE-GO. Em 2004, recebeu a medalha “Hugo de Carvalho Ramos”, do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, e o prêmio Clio de História, pela Academia Paulistana de História, com o livro “Senador Canedo – vida e obra”, e a comenda “Grão-Mestre da Ordem do Mérito Anhanguera”, do Governo goiano, no grau de Comendador pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Goiás.
Vem construindo sem vaidade uma obra ampla, de lirismo puro, como completa Gabriel Nascente: “numa total lucidez”, que não se arroga ser a verdade última dentro da poesia goiana, mas que ocupa espaço por total merecimento.
Bibliografia: Poemas da ascensão, RTFG, 1963; Mensagem livre, Ed. Oriente, 1971; Águas do passado, Líder, 1986; Corpo noturno, Ed. Kelps, 1991. Deixam de figurar aqui os livros jurídicos e de história.
MENSAGEM LIVRE
I
Não será da tarde
que farei meu poema.
Nem do sol
farei minha canção.
Do sal da terra,
argamassa, areia,
estrume e viola
farei com carinho
poemas de amor.
Dos olhos de minha amada
e de tristezas
brotarão da terra
meus poemas e canções.
Cantarei na viola
existência do homem
que luta pelo seu dia,
canta alegria
e não espera por esperar.
Farei minha canção
do sal da terra
poemas de amor.
MEMÓRIA
Trago na minha memória
coisas de longes tempos:
A timidez de minha vizinha
e o tropel de cavalos na rua esquecida
de minha infância.
O sorriso puro de minha mãe.
A alegria contagiante de meu pai.
Trago na minha memória
figuras de longes tempos.
Muitas delas jazem no esquecimento.
Outras não as vejo,
mas as tenho dentro de mim.
Brotam e desabrocham
em gestos de longa data.
Trago na minha memória
lembrança da pequena cidade.
Sua iluminação na praça principal
e o frio que gela os músculos.
O chocolate quente do bar do coreto,
as papoulas orvalhadas
e os gerânios que embelezam e perfumam
o jardim noturno da cidade.
Trago na minha memória
as coisas que jamais morreram em mim.
NUM GESTO DE LUTA
Num gesto de luta
aproveita o intervalo.
Espetáculo verdadeiro
de verdadeiro entusiasmo.
Um nome.
Um peixe que sobe,
saltita, pula e dança.
Dança trotando
e retorna às águas do mar.
É o velho e o mar.
Mãos firmes
na corda da pescaria
sangra a firmeza do sonho.
Sonho grande
na grandeza de um peixe.
Luta perpassa a hora,
horas contínuas
de vida e coragem.
Hemingway fascinante
no espetáculo da novela,
da guerra entre dois,
da vitória e da vida.
TARDE CINZENTA
Tenho medo da tarde cinzenta
porque ela me traz
um enorme desejo de ser infeliz.
E nesse instante,
mais que um instante,
a voz grave do coração
me cerca e procuro fugir.
Os sinos da minha terra
gritam o pavor corpóreo
do homem que desconheço
e o horror da vida
e do mistério
que sempre me acompanham.
Tenho medo da tarde cinzenta.
MENSAGEM LIVRE
V
O homem tira peso dos ombros
e corta vida dos campos.
No ato não há carinho.
Apenas fria fúria.
O homem ilumina a natureza
para sua construção.
Do trabalhador, suor e sangue
servem de chuva
que fecunda terra.
Ergue para os céus
trabalho-operário
no tempo-espaço
com luz.
A pedra é penetrada
e a terra se abre
em amor e trabalho.
Em cada gota de suor
uma idéia
floresce no homem.
— Vencerá um dia.
Com ferramenta e não
prega no portal
prego da vida.
— Vencerá um dia.
Haja sol ou não sol.
Na claridade será espalhada
a mensagem da idéia.
Na sombra vence descanso
de séculos.
A construção chega ao fim
e todos vivendo a dor
do corpo
descansam na casa do
do amor e sacrifício.
CORPO NOTURNO
15
No suor do teu corpo
que galopa,
sou teu cavalo.
Penetro o fogo
entre tuas patas.
Falo
de amor.
16
Quero arder
no ventre da noite.
Queimar o poço
em chamas de desejos.
Ferir-te com
minha tocha de fogo
e sentir o gosto
de teus gemidos.
17
Entre rosas, flor ferida.
Sou teu espinho,
mancha,
vermelho,
em teu lençol de lírio.
Poema publicado em:
BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6 (p. 38)
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