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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA GOIANA

Coordenação de SALOMÃO SOUSA                                           




GERALDO COELHO VAZ


 

Geraldo Coelho Vaz nasceu em Goiânia (GO), em 24 de setembro de 1940. Fez os cursos primário, ginasial e Técnico em Contabilidade na cidade de Catalão (GO). Cursou Direito na Universidade Católica de Goiás. As atividades literárias de Coelho Vaz tiveram início ainda em Catalão, no Grêmio Lítero-Cultural Águia de Haia. Professor de Direito Penal e de Processual Penal, na Escola dos Oficiais da Polícia Militar. Desde sua estréia em livro, em 1963, passou a participar de órgãos culturais e atuar na imprensa, com destaque no jornal O Quarto Poder. Entrou para a Academia Goiana de Letras e para a Academia Catalana de Letras, e é um dos fundadores da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás, a qual presidiu por três vezes.  

Ocupou diversos cargos, cabendo destacar que foi secretário de Estado de Cultura, presidente da Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira, além de ser membro do Conselho Municipal de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Recebeu o troféu “Tiokô”, conferido pela UBE-GO. Em 2004, recebeu a medalha “Hugo de Carvalho Ramos”, do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, e o prêmio Clio de História, pela Academia Paulistana de História, com o livro “Senador Canedo – vida e obra”, e a comenda “Grão-Mestre da Ordem do Mérito Anhanguera”, do Governo goiano, no grau de Comendador pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Goiás.

Vem construindo sem vaidade uma obra ampla, de lirismo puro, como completa Gabriel Nascente: “numa total lucidez”, que não se arroga ser a verdade última dentro da poesia goiana, mas que ocupa espaço por total merecimento.

 

Bibliografia: Poemas da ascensão, RTFG, 1963; Mensagem livre, Ed. Oriente, 1971; Águas do passado, Líder,  1986; Corpo noturno, Ed. Kelps, 1991. Deixam de figurar aqui os livros jurídicos e de história.

 

 

MENSAGEM LIVRE

 

I

 

Não será da tarde

que farei meu poema.

Nem do sol

farei minha canção.

Do sal da terra,

argamassa, areia,

estrume e viola

farei com carinho

         poemas de amor.

 

Dos olhos de minha amada

e de tristezas

brotarão da terra

meus poemas e canções.

 

Cantarei na viola

existência do homem

que luta pelo seu dia,

         canta alegria

         e não espera por esperar.

 

Farei minha canção

do sal da terra

poemas de amor.

 

 

MEMÓRIA

 

Trago na minha memória

coisas de longes tempos:

A timidez de minha vizinha

e o tropel de cavalos na rua esquecida

de minha infância.

O sorriso puro de minha mãe.

A alegria contagiante de meu pai.

 

Trago na minha memória

figuras de longes tempos.

Muitas delas jazem no esquecimento.

Outras não as vejo,

mas as tenho dentro de mim.

Brotam e desabrocham

em gestos de longa data.

 

Trago na minha memória

lembrança da pequena cidade.

Sua iluminação na praça principal

e o frio que gela os músculos.

O chocolate quente do bar do coreto,

as papoulas orvalhadas

e os gerânios que embelezam e perfumam

o jardim noturno da cidade.

 

Trago na minha memória

as coisas que jamais morreram em mim.

 

 

NUM GESTO DE LUTA

Num gesto de luta
aproveita o intervalo.
Espetáculo verdadeiro
de verdadeiro entusiasmo.

Um nome.
Um peixe que sobe,
saltita, pula e dança.
Dança trotando
e retorna às águas do mar.

É o velho e o mar.

Mãos firmes
na corda da pescaria
sangra a firmeza do sonho.
Sonho grande
na grandeza de um peixe.

Luta perpassa a hora,
horas contínuas
de vida e coragem.

Hemingway fascinante
no espetáculo da novela,
da guerra entre dois,
da vitória e da vida.

 

 

TARDE CINZENTA

 

Tenho medo da tarde cinzenta

porque ela me traz

um enorme desejo de ser infeliz.

 

E nesse instante,

mais que um instante,

a voz grave do coração

me cerca e procuro fugir.

 

Os sinos da minha terra

gritam o pavor corpóreo

do homem que desconheço

e o horror da vida

e do mistério

que sempre me acompanham.

 

Tenho medo da tarde cinzenta.

 

 

MENSAGEM LIVRE

 

V

 

O homem  tira peso dos ombros

e corta vida dos campos.

 

No ato não há carinho.

Apenas fria fúria.

O homem ilumina a natureza

para sua construção.

 

Do trabalhador, suor e sangue

servem de chuva

que fecunda terra.

 

Ergue para os céus

trabalho-operário

no tempo-espaço

com luz.

 

A pedra é penetrada

e a terra se abre

em amor e trabalho.

 

Em cada gota de suor

uma idéia

floresce no  homem.

                   — Vencerá um dia.

 

Com ferramenta e não

prega no portal

prego da vida.

                   — Vencerá um dia.

 

Haja sol ou não sol.

Na claridade será espalhada

a mensagem da idéia.

Na sombra vence descanso

de séculos.

 

A construção chega ao fim

e todos vivendo a dor

                   do corpo

descansam na casa do

                   do amor e sacrifício.

 

 

CORPO NOTURNO

 

15

 

No suor do teu corpo

que galopa,

sou teu cavalo.

Penetro o fogo

entre tuas patas.

Falo

de amor.

 

16

 

Quero arder

no ventre da noite.

Queimar o poço

em chamas de desejos.

Ferir-te com

minha tocha de fogo

e sentir o gosto

de teus gemidos.

 

17

 

Entre rosas, flor ferida.

Sou teu espinho,

mancha,

vermelho,

em teu lençol de lírio.

 

 

Poema publicado em:

 

BRITO, Elizabeth Caldeira, orgSublimes linguagens.  Goiânia, GO: Kelps, 2015.   244 p.  21,5x32 cm.  Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques.  ISBN 978-85-400-1248-6  (p. 38)

 

 

 

 

 

 

 

 




 

 

 
 
 
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