POESIA DE GOIÁS
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
DOMINGOS FÉLIX DE SOUSA
(1923 - 2012)
Domingos Felix nasceu em Jaraguá, em 23 de janeiro de 1923, cursou o ginásio em Silvânia, depois Filosofia em Cuiabá e Direito no Rio de Janeiro. Foi professor da Escola Técnica Federal de Goiás, do Atheneu Dom Bosco e teve atuação fundamental nos projetos de criação da PUC-Goiás e da UFG. Foi ainda cronista esportivo do jornal Última Hora, ao lado de Samuel Wainer, e colaborador do Cinco de Março.
Morte: 19 de setembro de 2012 (89)
Goiânia, Goiás, Brasil
B U C Ó L I C A NO. 1
Volto do fim do tempo e muito esquecimento
me exila dessa mata onde hoje, preservada,
rediviva, passeia a minha sombra póstuma,
que há muito não sei por onde esquiva andava. Abraço-me convulso à sombra e ao limo, aos húmos da noite que agasalha as velhas cicatrizes
e tece em fios de sonho a diáfana presença
que é palavra e silêncio, exaltação e calma.
É minha a solidão, meu o amor retomado, transfundo-me em milagres e ao contato antigo
sinto a vida fremir em seiva pelos caules.
Entre espectros passeio e porque amo e sonho
tomo a vida entre as mãos de novo poderosas
e me integro ao mistério imortal das estrelas.
P O E M A
Eu escrevo meus versos em plena consciência
de toda a maldade dos homens,
de todo o desencanto da existência.
A luz do sol diluindo-se nas sombras
há de cair oblíqua e leve como uma carícia
sobre o papel ainda branco de esperanças
onde se desenha a tua imagem.
Depois, as sombras virão de todo sobre os olhos cansados
e não verei mais os meus versos escritos entre as pautas
como um rastro de sangue correndo de meus dedos trémulos.
Sobre o nível papel
sentirei o teu vulto como doce miragem.
A noite há de descer cobrindo os destinos dos homens.
A noite há de descer sobre minha maldade
e o meu desencanto.
Mas como suave consolo
ficará comigo tua imagem.
(Extraído de A outra face - 1947)
Segundo Ionice Barbosa de Campos, este livro “trouxe o Modernismo para Goiás”)
Página publicada em dezembro de 2019
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