Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA GOIANA
Coordenação de Salomão Sousa

 

 

 

DHEYNE DE SOUZA

 


 

Nasceu em Cristalândia (TO), em 02.07.1983. É bacharel em Língua Portuguesa e Literatura, pela Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Goiás – onde iniciou o curso de Artes Visuais. Atualmente, mora em Goiânia-GO, escreve principalmente poesia, tem trabalhado com artes plásticas e colabora nos ambientes de “Histórias Possíveis” (historiaspossiveis.wordpress.com) e “Vida Miúda” (www.vidamiuda.blogspot.com). Seu blog é: dheyne.wordpress.com

 

Tem um blog: dheyne.wordpress.com. É membro do grupo de vocalização de poesia Corpo de Voz. Tem um canal no YouTube de leitura de poesia prosa prosema, em parceria com Helô Sanvoy: www.youtube.com/pequenosmundos. Seu livro publicado é Pequenos Mundos Caóticos (2011). 

 

toda escolha tem uma renúncia

 

todo mérito, um demérito

 

todo todo, um oco

 

nada, um

 

 

 


Pequenos mundos caóticos (III)

 

– o que me escura é vesgo, é tormento, é uma cratera amante no assoalho. é muito bom que você escute bem isso, porque talvez isso bem te levante, te interceda, te desejo até deus. o que me corrói é isso que eu faço que eu digo que eu rasgo de verbo de tecido de mente, é essa roupa suja, seu perfume gasto, sua voz enorme, que é mancha quando justamente me ouve, porque eu sei que é no meu dito que estão tuas cordas, tuas linhas, tuas fissuras de pele, tua cortina amarela. não é mais sol o que entra nesse teu cubículo vestido, porque sabe que tudo o que digo é teu nu, é teu ventre, é tua miragem avessa que apalpa teu tato. o que mente, o que mente, o que mente é a minha linguagem, a minha renitência, a minha mesura. rejeita a pátria de tua dor, sua esfera nos vasos. eu não quero te tirar daí, eu não quero te mudar de nada, eu não quero te criar coragem. eu te sou  o caos. o que faço aqui nessa voz é te despir o sexo, recusa a minha língua e te recusa os mundos, todos os teus fantasmas não são noturnos nem bêbados nem insanos nem versos, são na tua carne crua. abre tua boca, abre teu clero, abre a tua in sa ni da de. e me atira da primeira porta que não for ausência.

 

 

Imagem extraída da exposição "VARAL POESIA GOIANA 1917-2016" exposta durante do I COLÓQUIO DO POESIA GOIANA, na Universidade Federal de Goiás, de 13-14 de junho de 2017.

 



 

 

 

NA VOZ DAS JANELAS

 

Eu posso te tocar o lábio, te soprar o olho, te rimar a face

Eu posso te sonar a espera, te afinar a busca, te entornar a ordem

Eu posso escandir teu som, libertar teu verso, rasurar sua língua

Eu posso entupir de letra toda a partitura de seu gozo cru

Eu só não posso esperar as portas ritmarem ilesas os verbos das tuas mãos

enquanto

o vento morre gasto nas outras janelas.

 

 

 

 

A FÚRIA DO MOVIMENTO

 

o mundo coça leve lá embaixo

lá onde a cidade mastiga e dorme como placas furiosas

 

o organismo de um material elétrico é o sono daquelas luzes daquelas casas daqueles olhos

despejados

vista

do universo a cidade é ainda menos

tantas multidões de órgãos trotando o líquido

tanto fôlego

na fúria do movimento

simulado

 

 

 

SEMBLANTES DA LINGUAGEM

 

As ruínas de tua língua descobrem aldeias na minha pele.

Varro as soleiras de teus arrepios com o hálito de minhas janelas.

O vento que nos cobre veste os verbos desinibidos das nossas mãos.

 

Somos sons gasosos,

frestas vesgas,

papiros virgens

em um chão de hieroglifos.

 

Eu rasgo de urros

a língua de tua mudez.

 

Eu bebo os sulcos as valas os vãos

deito o terreno

espadas e arcos e balas nos dentes

eu fruto salgueiro aldrava veneno

água

meus lábios sulcados nos vãos das vidraças

eu silêncio

o portão

o jardim

a estrada. 

 

 

SE PONDO LONGE

 

como um sol

que deita pra sempre

lentamente morno

displicente e nuvem

 

 

 

MEDIOCONTOS II

 

tem vinte medidas provisórias para o próximo ano.

se falhar a expectativa do riso, expectorante.

se calar quando devia falar calmamente nem muito nem pouco só o suficiente, mais água.

se por acaso buzinar mesmo estando em direito em sentido em vias de, cortes.

se desistir, multa. em convivência social.

porque espera ter fôlego, não esperança.

 

 

 

MEDIOCONTOS V

 

fez um balanço da vida

digo, contou os anos, os feitos, os defeitos e o que sobrava de expectativa

os resultados parecem não ter sido satisfatórios, dada sua indisposição para passar a limpo

tinha o hábito de passar a limpo

estender a roupa no varal, parar a alguns centímetros de distância, olhar por mais centímetros de tempo. talvez as cores, talvez os suores, talvez a propriedade do limpo, a chance, o sufixo

o saldo de estar autenticamente calmo triste ereto

os móveis tinham mais pó

o tempo menos

a lua sem

sentou-se no parapeito procurando inventar um parapeito mas já não havia palavras

ou seja mitos

ou seja o que for

tomou mais um café mesmo sabendo que não podia

 

 

 

POIESIS

 

enquanto os risos escorriam nos pés

na grama

nos galhos

nos céus

dos outros no tempo

em que sempre voltamos

jamais estaremos

 

uma criança, longe, muda, exangue, sentada

num canto daquele muro

(como no canto dos outros muros que agora a

derrubam

feito um sino mudo)

 

nesse canto lhe deram uma rosa

era uma rosa comum, cor-de-rosa, jovem, justa, virgem

não soube o que fazer com tanta verdade

embora sequer soubesse disso

de que agora a memória sabe

do jeito que a memória sabe saber reticente

 

poderia ter passado a tarde toda

aquela criança

talvez eras

com a rosa nas mãos

 

poderia dizer do cheiro daquela pétala uma obra aberta

do tônus firme do seu corpo frágil

das inverossimilhanças do contorno

na sua cor silenciosa

dos rosas da rosa

 

se fosse dizível

 

mas quando o sol se punha

naquela época

 

pés sujos

risos suados

cabelos ventados

fôlegos rotos

 

mas a rosa

intacta

naquelas mãos tão pequenas meu deus e que já sustinham o medo

de ser túmulo

 

qual teria sido o erro

que cometeram aqueles dedos

incapazes ainda de todo mal que agora teciam tão displicentemente

 

tomaram-lhe a rosa sem

não foi sequer capaz de

 

despedaçaram todas as pétalas e sépalas

ouviam-se ranger suas veias

enquanto ensinavam que era assim

que se brincava com as flores

 

foi a primeira vez para ela

que a poesia

colheu o seu silêncio

humano

 

 

 

 

 

DA VIA

 

daquele instante que escapa de esquina

perdido entre os cabelos das horas

 

daquele tempo de postes

de uma cidade-via

de mãos duplas

olho e neblina

e horas

 

da dobra do momento quando resvala na vida

como uma casa que procura um cão

e interrompe o trânsito

 

 

 

 

 

Extraído de

 

 

POESIA SEMPRE. Número  31 – Ano 15 / 2009.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009.  217 p.    ilus. col. Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                Soa a morte

 

        entre mortalhas e coroas, um urro
         ponto de cicatriz.
         nu e escuro, um riso
         um inferno concreto, de último suspiro a cada instante
         o céu de vendas, a cada instante
         um adeus de corda
         um vergão de costas
         beijando cores no chão
         que são vidros nos olhos
         que são abas caídas
         que são corpos detidos
         envergados e
         sãos.

 

 

         Corpo relicário

 

        Há no teu ventre um colar de percalços
         tecidos à pele
         um anel de silêncios
         escapulados ao colo
         brochuras avessas ao chão.

         Há nos teus olhos uma cilada ade brincos
         um labirinto de pós
         um penhasco de olhos.

         Há no teu mural de semblantes
         soslaios de adornos.

 

 

         Semblantes da linguagem

 

 

 As ruínas de tua língua descobrem aldeias na minha pele.
Varro as soleiras de teus arrepios com o hálito de minhas janelas.
O vento que nos cobre veste os verbos desinibidos das nossas mãos.

         Somos sons gasosos,
         frestas vesgas,
         papiros virgens
         em um chão de hieroglifos.

         Eu rasgo de urros
         a língua de tua mudez.

         Eu bebo os sulcos as velas os vãos
         deito o terreno
         espadas e arcos e balas nos dentes
         eu fruto salgueiro aldrava veneno
         água
         meus lábios sulcados nos vãos das vidraças
         eu silêncio
         o portão
         o jardim
         a estrada.

         Caminho leve seus ombros nos lábios titubeantes
         Ouço rangerem mobílias na sua pele
         Minhas unhas descascam telhados no seu dorso nu
         Eu sinto brejos sacudindo-se nos seus poros
         E sopro ao pé das tuas montanhas de eco

         Uma lareira.

 

 

Página publicada em julho de 2011; AMPLIADA em junho de 2017; ampliada em setembro de 2018

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar