já sem o ritual do jogo erótico
e já vestindo o gesto obrigatório
de quem precisa, com jeito,
recontar os sorrisos vivos
que sobraram.
Contabilizada seja
toda uma história e
empilhe-se as carícias-ilhas
soçobradas.
Venho com as serestas
que (só) sobraram
aguardar o veredicto
das células-sobras abatidas:
no passivo eu choro os lábios
em cuja porta não cresceu
o indicativo de alimento;
no ativo enterro beijos
cuja glória resumiu-se em ser
prato de entrada
de um almoço cancelado.
E a cada peça vou cheirando,
em período de balanço,
a extensão da epiderme;
como se cada centímetro desse corpo
superasse a condição de corpo
para tornar-se o templo de um tempo
onde, diariamente, veio a vida
beber água. (Ainda existe poço?)
Presume-se, ainda existe alma!
Mas se ainda existe água,
certamente existe o corpo:
— com beleza
com certeza —
com leveza —
Ainda existe o corpo-alma
e é preciso em emergência,
trafegar esta vida dupla e siamesa:
— Vem a mim, antimatéria!
Em auto-imperativo, vem!
E vamos ao pleno dos cantos, pois
de ponta-a-ponta requer-se auditoria.