CARLOS WILLIAN LEITE
Carlos Willian Leite, natural de Iporá - GO. Poeta, formado em Comunicação Social e Teosofia. Publicou o livro As Intempéries do vento, Prêmio Cora Coralina de 1999.
É editor da revista Bula.
Os poema escolhidos saíram publicadoS em LITERATURA – Revista do Escritor Brasileiro, n. 31, de 2006, editada pelo nosso colaborador e amigo Nilto Maciel.
A DOR FUNDAMENTAL
não há caminho e
nada valho
meu rir lascivo
é uma coreografia de enganos
eu cresci como crescem
os espantalhos
eu cresci sem planos
A RUPTURA
o mesmo dialogo
a mesa posta
como quem povoa catálogos
e se debruça sobre todas as repostas
é bem outra a distância que separa
essa forma melancólica de acabar
então espero que o senhor vá para
e me deixe aqui no meu lugar
O LIMO DAS PEDRAS DE MIM MESMO
Vós jamais sabereis
do fogo, do ar,
das águas queimando a língua,
do frio ventre das vertente
– na cova –
sepultando as sementes!
Dos encantadores de abelhas
e suas abelhas encantadas,
ó senhores, sabei!,
restou-me apenas o trágico ofício
de debulhar o trigo sobre a nódoa da terra
e – dos vivos –
recolher as cinzas da aurora morta!
Nunca sabereis por que na Barca desta fala cheia
sou meu único e imenso vazio,
quando alma é Heráclito
e nunca se banha nas mesmas águas do rio!
Nunca!
Deste tinir de martelo, sangrando nos olhos do dia
– Living of the Day –
jamais entendereis,
sobremaneira quando os galos tecem o fog das manhãs
e os (lí)rios dormecem
– náufragos –
nas águas do estio: um grito, por certo,
ali há de caminhar meus olhos,
ao fogo das sombras no fundo do rio!
E se vasto é o caminho
como apedrejar gestos na
solidão dos mímicos
ânforas e pardais
senão através dos ecos,
as cordas vocais?
Sabeis muito bem,
que a linguaferus,
que te habita a esmo,
é o limo das pedras de mim memso!
A vida por direito me tem sido assim:
carpas & lascas no tablado
(todotosco)
e manchado de carmim!
Acredito: o que voa nos céus
não é pássaro
nem tempestades:
são as asas de um barco adejando
no silêncio das idades.
Ó Hipólito a vida não se resume
em corcéis que choram na noite
A vida é mais: um barco de @rrobas
e lentilhas (solitário)
ancorando no meu cais.
(Extraído de Usina de Letras)
Extraído de
POESIA POESIA SEMPRE. Número 31 – Ano 15 / 2009. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009. 217 p. ilus. col. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
A dor fundamental
não há caminhos e
nada valho
meu rir lascivo
é uma coreografia de enganos
eu cresci como crescem
os espantalhos
eu cresci sem planos
Os limites provisórios
e pastam em nós os rebanhos
escondidos à sombra de nós mesmos
à superfície enferrujada das pálpebras
dos anos
onde noturnas pequenas aves
ciscam o mármore dos relâmpagos
fátua fauna de árvores e homens
de pássaros que conduzem
os ventos
sobre as fibras secas do coração
velhas caves de silêncio e palha
de um rio que não volta à nascente
mesmo carregado nos ombros
nos escombros áridos dessa solidão
cai a tarde em alarido
o relógio ainda sonolento pare horas
e os homens envelhecem nas margens da tarde
no fundo do corpo onde a morte mora
sei
porque a mim mesmo ensinei
o surdo alfabeto da sorte:
morrer é ficar encantado
entre a corda
o abismo
e as sombras
que sobram da morte
outros homens amaram a madrugada
jogaram dados com seus mortos
naqueles dias
o tempo era um bêbado
encostado nos muros
por ele
sonharam licores e conhaques
e vagaram na mesma insônia dos copos
mas não escarei o coração estrangeiro
quando a vida passar pela janela
carregando seus olhos
a vida sempre passa pela janela
viajando segredos e homens
perdidos
pendurados entre as farpas dos varais.
II
eram vaga-lumes os sonâmbulos da cidade
o quarto era calabouços
os homens arrastavam-se nos campos de centeio
e soavam tambores
e tinham a cor do fogo e dos dias
um grito:
o silêncio apunhalado na tarde
o rito:
um louco de chapéu engraçado
furou os olhos de deus
e deus agora está cego e clama nomes e auroras
*holden, holden holden caulfield
olha o teu abismo de apanhar homens
mas não deixa que teus olhos
ceguem outros olhos
e clama
e chora
sei
porque a mim mesmo ensinei
a suicida ceifa dos dias
essa ampulheta que teima
em prosseguir
quando um homem desce ao Hades
e bebe o elixir dos profanos
nos idos de sua lida
alguma parte em si fica poeta
pelo resto da vida
o poema é navalha que corta e consola
o poeta um maestro de facas
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