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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





CARLOS WILLIAN LEITE

 

 

Carlos Willian Leite, natural de Iporá - GO. Poeta, formado em Comunicação Social e Teosofia. Publicou o livro As Intempéries do vento, Prêmio Cora Coralina de 1999.

É editor da revista Bula.

 

Os poema escolhidos saíram publicadoS em LITERATURA – Revista do Escritor Brasileiro, n. 31, de 2006, editada pelo nosso colaborador e amigo Nilto Maciel.

 

A DOR FUNDAMENTAL

 

não há caminho e

nada valho

meu rir lascivo

é uma coreografia de enganos

 

eu cresci como crescem

os espantalhos

 

eu cresci sem planos

 

 

A RUPTURA

 

o mesmo dialogo

a mesa posta

 

como quem povoa catálogos

e se debruça sobre todas as repostas

 

é bem outra a distância que separa

essa forma melancólica de acabar

então espero que o senhor vá para

e me deixe aqui no meu lugar

 

 

O LIMO DAS PEDRAS DE MIM MESMO

 

Vós jamais sabereis

do fogo, do ar,

das águas queimando a língua,

do frio ventre das vertente

– na cova –

sepultando as sementes!

 

Dos encantadores de abelhas

e suas abelhas encantadas,

ó senhores, sabei!,

restou-me apenas o trágico ofício

de debulhar o trigo sobre a nódoa da terra

e – dos vivos –

recolher as cinzas da aurora morta!

 

Nunca sabereis por que na Barca desta fala cheia

sou meu único e imenso vazio,

quando alma é Heráclito

e nunca se banha nas mesmas águas do rio!

Nunca!

Deste tinir de martelo, sangrando nos olhos do dia

– Living of the Day –

jamais entendereis,

sobremaneira quando os galos tecem o fog das manhãs

e os (lí)rios dormecem

– náufragos –

nas águas do estio: um grito, por certo,

ali há de caminhar meus olhos,

ao fogo das sombras no fundo do rio!

E se vasto é o caminho

como apedrejar gestos na

solidão dos mímicos

ânforas e pardais

senão através dos ecos,

as cordas vocais?

 

Sabeis muito bem,

que a linguaferus,

que te habita a esmo,

é o limo das pedras de mim memso!

 

A vida por direito me tem sido assim:

carpas & lascas no tablado

(todotosco)

e manchado de carmim!

 

Acredito: o que voa nos céus

não é pássaro

nem tempestades:

são as asas de um barco adejando

no silêncio das idades.

 

Ó Hipólito a vida não se resume

em corcéis que choram na noite

 

A vida é mais: um barco de @rrobas

e lentilhas (solitário)

ancorando no meu cais.

 

         (Extraído de Usina de Letras)

 

 

 

Extraído de

 

POESIA POESIA SEMPRE. Número  31 – Ano 15 / 2009.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009.  217 p.    ilus. col. Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                A dor fundamental

 

         não há caminhos e
         nada valho
         meu rir lascivo
         é uma coreografia de enganos

         eu cresci como crescem
         os espantalhos

         eu cresci sem planos

 

 

         Os limites provisórios

 

         e pastam em nós os rebanhos
         escondidos à sombra de nós mesmos
         à superfície enferrujada das pálpebras
         dos anos
         onde noturnas pequenas aves
         ciscam o mármore dos relâmpagos

         fátua fauna de árvores e homens
         de pássaros que conduzem
         os ventos
         sobre as fibras secas do coração

         velhas caves de silêncio e palha
         de um rio que não volta à nascente
         mesmo carregado nos ombros
         nos escombros áridos dessa solidão

         cai a tarde em alarido
         o relógio ainda sonolento pare horas
         e os homens envelhecem nas margens da tarde
         no fundo do corpo onde a morte mora

         sei
         porque a mim mesmo ensinei
         o surdo alfabeto da sorte:

         morrer é ficar encantado
         entre a corda
         o abismo
         e as sombras
         que sobram da morte

         outros homens amaram a madrugada
         jogaram dados com seus mortos

         naqueles dias
         o tempo era um bêbado
         encostado nos muros

         por ele
         sonharam licores e conhaques

         e vagaram na mesma insônia dos copos

         mas não escarei o coração estrangeiro
         quando a vida passar pela janela
         carregando seus olhos

         a vida sempre passa pela janela
         viajando segredos e homens
         perdidos
         pendurados entre as farpas dos varais.

 

 

         II

 

         eram vaga-lumes os sonâmbulos da cidade
         o quarto era calabouços

         os homens arrastavam-se nos campos de centeio
         e soavam tambores
         e tinham a cor do fogo e dos dias

         um grito:
         o silêncio apunhalado na tarde

         o rito:
         um louco de chapéu engraçado
         furou os olhos de deus

         e deus agora está cego e clama nomes e auroras

         *holden, holden holden caulfield        
         olha o teu abismo de apanhar homens

         mas não deixa que teus olhos
         ceguem outros olhos
         e clama
         e chora

         sei
         porque a mim mesmo ensinei
         a suicida ceifa dos dias
         essa ampulheta que teima
         em prosseguir
         quando um homem desce ao Hades
         e bebe o elixir dos profanos
         nos idos de sua lida

         alguma parte em si fica poeta
         pelo resto da vida

         o poema é navalha que corta e consola
         o poeta um maestro de facas

 


Página ampliada e reúplicada em setembro de2018

 

 

 
 
 
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