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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA

 

CARLOS RODRIGUES BRANDÃO

 

Nasceu a 14 de abril de 1940, na cidade do Rio de Janeiro.  

Em 1998 recebeu o título de Comendador do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e de Professor Benemérito do Centro de Memória da Unicamp (CMU). Em 2006 foi agraciado com a medalha Roquette Pinto Pinto da Associação Brasileira de Antropologia. Em 2008 e 2010, com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e pela Universidade Federal de Goiás. Professor emérito pela UNICAMP.

No entanto, foi na Unicamp que Carlos Brandão desenvolveu a maior parte de sua vida acadêmica, até a aposentadoria em 1997. Desde então, continua atuando nesta Universidade como professor colaborador, assumindo orientações tanto no Programa de Antropologia como no Doutorado em Ciências Sociais. Na década de 1980, participou da criação do Centro de Educação e Sociedade (Cedes) e do Centro Interno de Estudos Rurais (Ceres). Foi também vinculado ao Núcleo de Pesquisas Ambientais (Nepam).

Em Goiânia, durante sua permanência nos anos 60 e 70, foi um dos fundadores do Movimento Praxis, ao lado de Heleno Godoy, Luís Araújo e Carlos Fernandes Magalhães, quando publicou os livros Mão de Obra (poemas práxis, 1968) e Os objetos do dia (1968, prêmio do 2º Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica Estadual de Goiás, em 1974.

 

NASCENTE, Gabriel. A Nova poesia em Goiás: antologia dos poetas goianos.  Goiânia, GO: Oriente, 1978.  384 p.  13,5x18 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda

"A palavração, antes de tudo, se impõe pela sua simplicidade rica de estrutura. É ordenado. Não tem nem um pouco de despistamento. Com seus quatro blocos, vai direto a um sistema de gênese da (s) palavra(s). Nos comunica um movimento sucessivo e progressivo dos campos de energia e significação que toda palavra detona."    MÁRIO CHAMIE (carta ao autor)

 

311 OFÍCIO DE DIZER

 

dizer: se pedra o duro

se entra o homem: o muro

dizer: se trigo o pão

se vai no homem: ação

dizer se noite o fundo

se entra o homem: um mundo

dizer: se verbo o verso

se vai no homem: inverso

dizer: se foi, a fato

se entra o homem: a luta

dizer: se flor a graça

se vaio homem: a safra

dizer se terra o grão

se entra o homem: à mão

dizer: se foi, o fato

se vai com homem: o ato

se vai em outro: o trato

dizer: se palha um feixe

se entra o homem: um cesto

se chega outro: o texto.

 

("Mão de obra", pág. 49, Goiânia, 1968)

 

 

 

312 DIZER-DIZENDO

 

a. onde é a forja fazer da forja

o ferro onde a forja ganha o nome

onde é o ferro fazer do ferro

a arma onde o ferro encontra o uso

o fato onde a arma ganha impulso

onde é o fato fazer do fato

o texto onde o fato apura o senso

b. onde é o texto fazer do texto
o fato onde o texto toca a arma
onde é o fato fazer do fato
onde ó o ferro fazer do ferro
a forja onde o verbo volte ao mundo.

 

("Mão de obra", pág. 50, Goiânia, 1968)

 

 

 

313 A PALAVRAÇÃO

 

 

palavra:
quando feita
já a norma
o traço
o tipo: o fato
(não o retrato)

 

palavra:
quando feita
já a causa
a face a
força: o aço
(não o retraço)

 

palavra:
quando feita
já a cifra
o tempo o
termo: o ato
(não o retrato)

 

Palavra:
quando feito
já a marca
o marco o
meio: o passo
(não o retraço)

 

         ("Mão de obra", pág. 51, Goiânia, 1968)

 



A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas  de Assis Brasil.  Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998.   324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3                  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

112 Morto a caminho

a1.   passa pela morte a morte 
       e pouco mais. Sendo nela
esse morto em barro feito
passa como sendo barro-vela.

a2.  na vela que acesa acende
tal quando aberta a janela
na casa escura (no corpo)
uma imagem clara em tela

a.3. da vela do ser no barco
e nele faz o que a flor faz
o movimento que sai dela
a uma laranja amarela

b.1  dessa que no casco (vela)
é parte acima da quilha
e levando um morto, leva
uma praia a outra ilha

b.2  dessa vela ao barco atenta
a quem pouco maravilha
e que põe no sopro o peso
de seu caminho — sua trilha

c.1   dessa que se asteia (vela)
a mastro inteiro, e no corpo
leva no morto o que é morte
ao se abrigo — seu porto

 

                                           (Mão de obra/ 1968)

 

*

 

 

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Página ampliada e republicada em maio de 2022.

 

 

 

 

 

 

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Página publicada em junho de 2017



 
 
 
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