POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
AUGUSTA FARO
Nasceu em Goiânia (GO), em 4 de novembro de 1948. Bacharelou-se em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás. É mestra em Teoria da Literatura e Lingüística também pela UFG. Tem trabalhos sobre educação, artes, sociologia e história publicados em vários jornais e revistas especializadas. Prêmio Tiokô de Poesia, 1996. É colaboradora do Almanaque de O Popular, com página literária infantil, e é diretora-fundadora do Centro Educativo Piaget, pioneiro no Centro-Oeste. É membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, da Academia Goiana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, do Gabinete Literário da Cidade de Goiás, da União Brasileira de Escritores de Goiás e do Conselho Estadual de Cultura. Sua obra ganhou repercussão nacional, com adoção em vestibulares e reedições, depois que o seu livro de contos A Friagem foi resenhada pela revista Veja, em 1999, por Roberto Pompeu de Toledo.
Bibliografia: Mora em mim uma Canção Menina, poemas, Fundação Cultural de Goiás, 1982; Lua pelo Corpo, poemas. Editora da UFG, 1984; O Estado de Graça, poesia, Presença/RJ, 1988; O Azul é do Céu?, poemas infantis, Graf. O Popular, 1990; O Dia tem Cara de Folia, poemas infantis, Graf O Popular, 1991; O Usar a Cuca é melhor do que a Pança, conto infantil, Graf. O Popular, 1992; A Dor Dividida, um Caso de Aids, novela infantil, Editora Kelps,1994; Avesso do Espelho, poemas, prêmio nacional UBE-Rio de Janeiro, Multicomunicação, 1995; Por quem chora Potira?, lenda indígena, Editora Kelps, 1996; A Menina que viajou para o Sol, contos infantis, Editora Kelps, 1997; A Friagem, contos, prêmio Octávio de Faria, UBE-Rio de Janeiro, 1995, Editora Kelps, 1998.
COMPROMISSO
Nada a ver com a voz
mas a palavra
Nada a ver com o pulso
mas o sangue
Nada a ver com as chaves
mas a terra
Nada a ver com as sombras
mas os gestos
Nada a ver com a oferta
mas o pranto
Nada a ver com o fardo
mas o caminho
Nada a ver com a guitarra
mas a canção.
RETRATO
Aparente momento
atuando no tempo.
Pausa de paz desenhada
impressa transparência
— um sorriso.
Depois do instante
aderido às veias do papel
— quais as faces?
PRESSÁGIO
A dor que em mim permanece
é dor
arqueada na tarde ,
junco ausente da haste.
A dor divide,
partida de pássaro,
presságio de nuvens ,
no espaço o tempo coagulado.
Dor antiga
esfinge no retrato
deserto de meus dias desenhado.
BALANÇO
Metade de mim é manca
outra parte se arrasta
um tanto meu se desfaz
outra tenta se afirmar.
Parte de mim desconheço
parte reconheço e fico
outra porção me reparto
multiplico os duros olhos
e somos a boca fechada.
O que resta de mim,
salgo com sal grosso
e ponho no varal
para secar.
* * *
A solidão me bebeu, bebeu
como se fosse eu
toda água do mundo.
Fui traspassada pela tarde
e sangrou sol
por todos os lados.
MOIRA
Nasci do ombro esquerdo de minha avó,
por isso tenho um olho no meio da testa,
que vê o fundo dos rios
e o contorno mais longe das montanhas.
Nasci em noite de tempestade
quando um raio abriu a concha
da escuridão mais escura.
Nasci olhando de lado,
como quem vê a poesia
brotando do chão
e me encharcando os sapatos.
MEYA PONTE. REVISTA QUADRIMESTRAL DE LITERATURA. No. 16 Editor: Arnaldo Sarty. Pirenópolis, Goiás: 2003. 162 p. 16 x 22,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
Taj-Mahal
Meu corpo todo costurado de pérolas
e os pés unidos como casal de pombos
envolta em celofane cor de água
sorrio o sorriso de antigas lembranças
enquanto soam os relógios da sala.
Lá fora os muros estão coberto de musgos
e não posso tocá-los com os dedos
e nem chamar os pássaros com meu canto
A morte encarrega seu corpo de viúva
e me cobre de margaridas pálidas
Não respiro, senão acordo
meu sonho
que ainda se esconde sob meus
cílios deitados.
Agora permaneço.
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