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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA

 

 

ANTÔNIO JOSÉ DE MOURA

 

Natural de Mambaí (GO), onde nasceu a 30 de julho de 1944, Antônio José de Moura iniciou seus estudos primários em sua terra natal, transferindo-se, com a família, para Goiânia, fixando residência no Setor Campinas, a "Campininha" de José Mendonça Telles, sede e mater da nova capital de Goiás onde fez contabilidade na Escola Técnica de Comércio, de Campinas, base para o curso de Direito da hoje centenária Faculdade de Direito da UFG, de que tive a honra de ser diretor no período de 1980-1986. Advogado, Moura conquistaria o cargo de procurador do Estado. Jornalista, membro da Associação Goiana de Imprensa e da União Brasileira de Escritores/GO, foi redator do Suplemento Literário de O Popular, de saudosa memória.
Mais informação em: http://www.ubebr.com.br/perfil/atuais/antonio-jos-de-moura

 

NASCENTE, Gabriel. A Nova poesia em Goiás: antologia dos poetas goianos.  Goiânia, GO: Oriente, 1978.  384 p.  13,5x18 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

"Quilômetro Um, de Antônio José de Moura, é de 65. O Sr. Antônio José de Moura é um poeta consciente, de preocupações sociais mais que metafísicas, e entre o que é atual e contemporâneo, fica no segundo, podendo ser enquadrado dentro da linha dos bons poetas do ciclo de 22 (notadamente Drummond e Cassiano".  HELENO GODOY

 

         CICLORURAL

1   Fazenda Jabuty, Mozarlândia.
A caveira na cancela lembra o dono.
A saga deste campo é a água
caindo (cristalina) no monjolo.

Os dedos interrogam o cofre-forte
e mexem no baú do tetravô.
Os olhos gerenciam o criatório.
(A ganância aumenta e a terra chora).

2   A montanha é escura: traz em si
os mistérios da terra indecifrada.

Um berro de bezerro é chamado
do mundo que perdeu meu avozin´
(Deus me livre se os comunas entram nisso,
major Afonso pensa, se entedia-se).

Caviloso,
o tempo entra e agoniza a tarde.

A peroba (de pé) assiste tudo.

3    "Ih, seu moço, dá tanta puta em Rialma"

                                                     (anônima)

Aqui sé Ceres.
Do outro lado do rio é Rialma.
A canoa atravessa, o senhor cai
do outro lado barranco, sem problema.

No rio sem alma
corre o desgosto dos que estão sem encosto.
No rio das almas
burlesqueiam em sonhos as mocinhas:
(Há padres pregando e meninas indo).

Pela cheia das águas,
a colheita vem e esverdeja a gente.
Arroz é frio antes de ser quente.
Arroz é brejo antes da brancura
e do prato de sopa que comemos.

Foi em Rialma quer acordei pro mundo:
quando,
entre estrôncio e estrondo,
o homem pisa a lua,
aqui na terra a miséria erra
ruas sem nome nos mocambos,
campos de fome nas cidades:

                   — aguentar, quem há-de?

 

                   ("Porta sem chave", 1970)

 

CANTO-CHÃO DO HOMEM PRÁTICO OU MANIFESTO DO
QUE NÃO ENCONTROU MULHER NA NOITE DE SÁBADO    

"É livre a manifestação do pensamento"
(Parágrafo Quinto do Art. 141 da
Constituição Federal)                                                                                                                         

Vontade de amar uma mulher
de maneira violenta e total.
Eu — terrenamente anti-Gagárin,
anti-Sheppar, anti-Cosmos, anti-incenso.
Ela: feminina, Eva, nua,
sem brincos, sem colares, sem essências,
absolutamente fêmea e animal.

Vontade de amar uma mulher
de amor-nu, de amor-cama, genital,
sem limitações-objeto, sem pensamentos
pousados em apólices, em política.
Maldosamente nu. Terrenamente fiel,
e fanático, e guerreiro, e mordedor.
Ela nua, fanática, mordedora;
ela — laranja que se chupa, fruta que se come,
que se come por homem terrenal.

Vontade de amar uma mulher cuja quentura
transborde fogo das entranhas, suor, sal,
mar, carne sugada, suco de lábios
e de seios de ventre.

Após, dormir o sono-cansaço imensamente,
profundamente pedra e vegetal.

Acordar com a manhã despertando vidraça
e amar novamente o amor-cama, o amor-laranja,
o amar-fruta, o amor-carne, animal,
animalescamente nus, terrenamente dois.
Depois, tomar banho, beijar face, vestir terno,
ficar terno, metafísico ante a mesa.
Ler jornal, Vietnã, guerra, Cosmos,
beijar lábios, ficar prático e resoluto.
Cotidianamente resoluto.

                            ("Quilômetro um", 1965)

 

A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas  de Assis BrasilRio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998.   324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3                  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Minha admiração pela obra crítica da literatura brasileira  de ASSIS BRASIL vem de muito tempo, desde a época em que ele atuava como jornalista literário no JORNAL DO BRASIL, onde eu publicava alguns textos desde a época do Suplemento Dominical, com Reynaldo Jardim e Ferreira Gullar. Comecei a adquirir livros dele — muitos — e o informava que o acompanhava e, tempos depois, comecei a divulgar o que ele compilava nas antologias de poesia brasileira, e os textos que escrevia, com muita competência, sobre os autores.
Comecei com Salomão Sousa, responsável pela seção de poesia goiana em nosso Portal de Poesia –
www.antoniomiranda.com.br, e com a notícia da morte do grande piauiense, aos 92 anos, em 28 de novembro de 2021 – e também "carioca" como eu, que vivi no Rio de Janeiro, boa parte de minha vida ou por lá andava desde sempre... decidimos ampliar a divulgação dos textos, não só dos poetas e, mais recentemente, sobre o que ele escreveu sobre os autores que divulgava, na certeza de que ele sempre viu com simpatia o nosso trabalho.


ANTONIO JOSÉ DE MOURA
por ASSIS BRASIL

 

Conflito

O INSTINTO MAU:
"Vamos beber esta noite
conhaque e Brahma gelada,
para andarmos solenemente
pisando em nuvens,
piscando estrelas
e procurando a poesia que se escondeu no lixo.

Vamos voar extáticos
como passarinhos embalsamados
à espera do milagre impossível
da ressurreição.
Vamos compor versos estrábicos
sobre tiranos e tiranias
e versejar automaticamente
em arábicos e romanos
a infinidade numérica das Marias.

Vamos mentir descaradamente:
— Dormi na Europa
um sono francês
com uma francesa;
— hoje cheguei de Paris
pliglotamente viajando;
— ajudei meu pai comprar um transatlântico
carregadinho de poesia e outras drogas
para ofertar à Rainha da Inglaterra;

— sabe, eu fiquei noivo de Janes Masfield
e como é boa
e como é quente
e depravada
a Jane Mansfield!

Vamos ser ébrios apocalípticos,
frequentadores de café-society;
sobretudo, vamos discutir abertamente
pra todo mundo saber que entendemos de artes plásticas
e ficção:
vamos colocar diademas
na cabeça loura dos poemas;
vamos vestir um biquini
(O monoquíni está dando o que falar)
no corpo fluído da poesia
para que o nosso nome em letras garrafais
saia no suplemento literário dos jornais.

Vamos rir dois quilômetros de riso
colgatemente perfumado,
ignorando se pagamos royalties
ao capital estrangeiro
para mostrar nossos dentes mordedores
brancos, broncos, brancos.
Vamos beber esta noite
conhaque e Brahma gelada,
vamos?"

E A CONSCIÊNCIA,
absoluta, responde,
tomando em suas mãos
a minha mão posta nela:
"Deixa disso, é impossível!"

           (Quilômetro um/ 1965)

 

 Itinerário de luz e espanto    

a)  Noite escura aquela noite.
Bairro escuro aquele bairro.
Lá vem o cego pra casa
com um par de olhos nos dedos.
Nasce com o sol todo dia
(pra ele cego também),
atravessa a rua 4
com um grito gaguejado:
a mão batendo na porta
busca a vida pendurada
num poste de 80 metros.
A cidade no seu rosto
é inferno de vertigem
dum Gauguin inicial.
Guia sem guia, o menino
conduz os passos do velho.
— Rafael, onde o mercado,
cheirando a polpa de fruto?
— Meu pai, aqui está ele
com mistérios verderubros.
— Rafael, te digo: o homem
cresce espessocrespo, anda
com seus archotes no mundo.
— Meu pai, o homem veste
o sol, exata camisa:
há dias em que o homem calça
a terra com pé exato;
há dias em que a tua palavra
é vida:

explosão de alegria.

Meu pai, aprendi que a vida
morrenasce a toda hora,
posto que do lago-noite
nasce sempre o rio-aurora —
— Rafael, o tempo conta
minuto dentro da hora.
hora mais hora tecendo
a carnadura da vida.
— Meu pai, a morte é quando
pára o relógio de Deus dorme?
— Rafael, não há silêncio
quando o negro é paisagem
de abrenúncios, maus augúrios.
(Mas o milagre vem vindo).

b)  Um dia, a luz invadiu
a Vila e os olhos do pai.
Hoje, o bairro e a vida
resplandecem a mercúrio.

(Porta sem chave/ 1970)

  *

 

VEJA e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal: 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html  

Página ampliada e republicada em maio de 2022.

 

 

Página publicada em junho de 2017

 
 
 
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