POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
ANTONIO AMERICANO DO BRASIL
(1891-1932)
Nasceu na cidade de Bonfim, hoje Silvânia, deste Estado, em 18 de agosto de 1891. Era filho legítimo do professor Antônio Eusébio de Abreu e de dona Elisa de Abreu.Desde os bancos escolares, ou seja, no Colégio Bonfinense, fundado e dirigido pelo seu pai, revelou formoso talento, que tanto brilhou e tanto honrou à terra goiana. Foi aluno do Colégio Morel, do Rio de Janeiro; diplomou-se em medicina, mas era jornalista dotado de puríssimo estilo. Sua pena foi das mais notáveis. Como orador, tinha a palavra fluente e irresistível, como um Padre Antônio Vieira. Como parlamentar, seus discursos ficaram célebres na Câmara Federal. Sua vida caracterizou-se por trabalho intenso, de mais de quatro lustros, num labor constante, que lhe assegurou o direito à auréola que circunda o seu nome. Foi um espírito primorosamente culto e relevantíssima é sua folha de serviço à terra goiana.
Foi um goiano de rara cultura, dotado de um talento fulgurante, tendo se dedicado integral e desinteressadamente ao serviço de seu Estado, revelando-lhe suas riquezas econômicas, o espírito de sua gente, e elevando-o sempre com segurança e brilhantismo .Foi Secretário de Interior e Justiça do governo do desembargador João Alves de Castro, deixando nesta importante pasta política traços indeléveis de sua cultura e invulgar capacidade de trabalho.
Como médico, exerceu a nobre profissão com zelo, proficiência e grande desprendimento monetário.Foi político, poeta, historiador, jornalista e escritor dos mais privilegiados, em tudo deixando traços firmes e de sua brilhante mentalidade.
Faleceu na cidade de Santa Luzia, em 20 de abril de 1932. Seus restos mortais foram transladados do cemitério da cidade de Santa Luzia, hoje Luziânia, para o de Bonfim, hoje Silvânia, em 10 de julho de 1938. O nome do saudoso Americano do Brasil, como intelectual goiano, transpôs as fronteiras de nossa terra, ocupando lugar de relevo quando o jornal “La Nacion”, de Buenos Aires, quis associar-se ao Brasil nos festejos comemorativos de nossa independência, convidando escritores brasileiros para colaborar nessa grandiosa obra de confraternização. Assim, entre os trabalhos publicados naquela edição especial do jornal portenho, a monografia que Americano do Brasil escreveu sobre Goiás foi uma síntese magnífica de nossa história. É um repositório de informações seguras e preciosas sobre a nossa terra”.
Fonte: José Ferreira de Souza Lobo, “Goianos ilustres”, ed. Oriente, p. 23-24.
OBRAS PUBLICADAS
A Doutrina Endocrinológica: (1917) Tese de doutorado da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha no Rio de Janeiro – RJ; No Convívio com as Traças: (1920) Em polêmica com o tenente Marco Antônio Félix de Sousa, por questão genealógica, nasce à obra que esclarece os laços de sangue do general Joaquim Xavier Curado com Francisco Soares de Bulhões, irmãos uterinos; Questão de Limite Goiás – Pará: (1920) Estudo que refuta a coerência do delegado do Pará, Dr. Palma Diniz, no Congresso de Limites Interestaduais; Pela Terra Goiana: (1922) discursos; 05. Pela Terra Goiana II: (1923) discursos; Puericultura e A Cultura Nacional: (1923); Cunha Matos em Goiás (1823 – 1826): (1924) Memória – Escritos entregue ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Cancioneiro de Trovas do Brasil Central: (1925) editado por Monteiro Lobato. Este livro foi motivado por uma palestra assistida na Biblioteca Nacional, proferida por João Ribeiro sobre o sentimento folclorístico brasileiro; Súmula de História de Goiás: (1931) Trabalhou na adaptação da História de Goiás ao programa da Escola Normal que lhe foi mandado, nascendo a obra, que foi oferecida ao Estado sem nenhuma remuneração. Esta obra foi editada em 1932, após a sua morte; Nos Rosais do Silêncio: (1947) poemas; Romanceiro Trovas Populares: (1979) edição crítica de Basileu Toledo França; Mil Trovas Luzianas; Goiás – Província; Pela História de Goiás: (1980) A editora da UFG lança a obra com crônicas históricas de sua lavra, selecionadas pelo escritor Humberto Crispim Borges.
TARDE
Pálida e suave a Tarde é uma hortência azulada decorando o infinito;
as árvores têm prece no doce murmúrio;
a alma inteira enlanguesce diante do panorama e chora o eterno nada;
e no silêncio escuto a harmonia arrancada do próprio coração...
sinto que nele cresce a asa mística dum cisne muito alvo
e desce afagando meu sonho em trio de alvorada;
e morre lento e lento o dia melancólico...
nuvens na tela azul passeiam erradias...
escondendo-se além nervosas...
fugidias...
prisioneiro do espaço, o corpo da lenda eólico na imensa antena abraça a vida...
o amor...
as lousas...
velam meu coração a tristeza das cousas.
NOSTAGIA DA CHUVA
(Fragmento)
Melancolicamente, enleia-me a harmonia do indefinido e vago...
ó vento, porque cortas a amplidão a gemer, cheio de nostalgia
solene e misteriosa, a evocar cousas mortas?
e tremem de pavor as árvores, cantando a canção tumultuária
e esquisita das folhas...
em minha mente a idéia esvoaça como bolhas de sabão
que a só vão passando...
vão passando...
e tamborila a chuva empós numa vidraça;
o seu ruído é de um sino estranho e doloroso que tangesse
em surdina a um sonho que passa...
suave amortalhado e em um seio harmonioso;
e todo o meu ser vibra em sístole dolente...
sofrendo sem saber porque sua tristeza;
parece que u’a tenaz aperta com bruteza o coração,
tirando um gemido silente;
agora a chuva aumenta e castiga furiosa (...)
A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998. 324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3 Ex. bibl. Antonio Miranda
Voltando a Goyaz
Que estranha sensação me constrange acordado a sonhar
docemente abraçando a quimera...
sentindo uma fase ida há longínquo passado levantar
ante mim a morta primavera;
é que revejo a terra...
o escampo...
o sonho...
o fado...
a infância...
a estrada...
o pó... onde o corpo, quem dera? pudesse descansar e
[ dormir
sossegado o sono derradeiro à sombra fresca da hera;
eu vi depois a casa antiga...
a sala...
a imagem... que minha doce mãe para beijar me dava
quando partia para alguma longa viagem;
e no auge da emoção...
o coração em lava...
parecia sentir com deleite selvagem, que a alma da terra
amada em mim se despertava.
(Nos rosais do silêncio/ 1947)
Moda da sinhazinha
A 25 de outubro
Andava meio na cana.
E cheguei na sua casa
Só para te ver, goiana.
"Ela não está", disseram;
Muito triste fui voltando,
Eu sou cabra aventureiro
E não levo desengano.
Não encontrando a morena
Disse comigo, falando:
"Enquanto vida tiver,
menina, eu estou te amando".
Estando a casa fechada
Meu peito também ficou,
Virei a rédea do macho:
"Vou naquele morador".
Mas quando cheguei na porta
Vi ela no corredor.
Penteando seu cabelo
Com pomada e água-flor.
"Vim para te ver".
Eu olhei assim de banda,
Avistei seu lindo rosto,
Seus carinhos de ciranda.
Peguei na rédea do macho
E parei devagarinho.
Soltei um suspiro triste
Quando saudei meu benzinho.
Quando ela saiu na porta
Disse: "Ei-vem um amor meu".
Meu coração me doía,
Meu peito também doeu.
(Cancioneiro de trovas do Brasil
Central/ 2ª. ed. , 1973)
*
VEJA e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html
Página ampliada e republicada em maio de 2022.
|