POESIA GOIANA
Coordenação: SALOMÃO SOUSA
ALCIONE GUIMARÃES
Alcione Guimarães nasceu e vive em Goiânia, Goiás. Formou-se em Direito pela UCG- GO. E artista plástica com diversas premiações. Tem dois livros publicados: Zuarte, livro de poemas e pinturas (GO: Editora Kelps, 2000) Prêmio de Poesia Centenário de Henriqueta Lisboa, pela Academia Mineira de Letras. Fuso de Prata, livro de contos (SP: Nankin: Editorial, 2006) Prêmio de contos-2007 - Trofeu Goyazes -conto Bernardo Elis, pela Academia Goiana de Letras
Alcione Guimarães é uma poetisa admirável. “Zuarte” é um grande e belo livro digno de regozijo e dos aplausos que ele merece. JOSUÉ MONTELO
Alcione Guimarães, que já se destacara com a publicação 'de seu livro de poemas Zuarte, vem revelar uma sensibilidade é um talento marcante, na arte de narrar em Fuso de Prata. Domínio de linguagem e confecção de atmosfera enigmática e poética. BRASIGÓIS FELÍCIO
GUIMARÃES, Alcione. Zuarte: poemas e quadrospoemas. Goiânia: Kelps, 2000. 184 p. 18x26 cm. ISBN 85-901562-1-4. Projeto gráfico: Andes Froes. Capa e ilustrações de Alcione Guimarães. Orelha do livro: Darcy França Denófrio. Tiragem: 2000 exs. N. 06 229
IX
O olhar —
fixo no escuro.
O silêncio —
evocando ausências.
Ao longe —
sons de grilos
labirinto de sonhos
tontos
tantos.
E essa lua enorme
como pesa nos meus ombros.
XXX
...e me consumo
diante desse teu olhar
que te delata e me deixa lassa,
que me devassa e me assombra
entre o desejo e o recato.
...enquanto o meu,
se de um lado se mostra
e não encontra teu disfarce,
do outro, se entrega e se prostra
ao corte dessa adaga.
GUIMARÃES, Alcione. Trama da Luz. Goiânia: Editora Kelps, 2010. 154 p. 13,5x21 cm. ISBN 978-85-7766-828-1 “Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos 2009” UBE Col. A.M.
EXIT - a seta indica.
Depois da porta, o abismo sidera-me
através do vidro.
Olho. As turbinas engolem o céu
onde os arcanjos desarmam presságios.
Sobre asas de prata
a palavra aprisionada
na vertigem do desequilíbrio
se procura imprecisa
na rota exata do círculo.
TEMO TARDES ASSIM
sob este sol que se exaure
adensado de sangue.
Tudo é impreciso
e eterniza cismas
que o céu não responde.
— Meu Deus, que angústia
me traz essa púrpura!
Cala
o que fica exposto
nessa penumbra impiedosa
que sufoca
e não descobre
a chave da infância
escondida
no precipício da tarde.
NADA DIREI a teu respeito
nem desse meu destino
que se entrelaça ao teu.
Não te culpo
nem me inocento.
Apenas sinto
que os fios que nos ligam
vida afora
mais se embaraçam
se prendem.
Nem mesmo
teu olhar incerto que me cega
é visgo seco - não liberta.
GUIMARÃES, Alcione. A casa e outos lugares. Goiânia: Editora Kelps, 2017. 180 p 13,5x21 cm. Capa Alcione Guimarães. ISBN 978-85-401903-4 Ex. bibl. Antonio Miranda
COMO FUGIR DAS LÁGRIMAS
esse jogo de
espelhos
que multiplica o frêmito de tuas asas
nesse voo que sempre tentas ?
Como alcançar tuas alturas
se meu naufrágio já começa
e diminui o ar que me cerca ?
O que me exaure
é essa ausência elementar de palavras
meus dilemas
teus enleios
e a neutralidade do teu canto.
ALGUMA COISA RESSOA FORA DA MEMÓRIA
de tudo que vivi —
a casa
as paredes
os móveis
alguns retratos
os livros e todas as histórias
para compreender
o que esmaece
o indizível que ronda
e se esconde
atrás da porta
onde uma menina
chora.
HÁ UMA FUMAÇA DOCE
que sobe tênue
com cheiro de bagaço.
Os tachos luzem
sobre o fogo.
Conchas de cobre
agitam espumas
e o caramelo
se incendeia
num fervilhas
de promessas.
AH! ESSAS PALAVRAS PROCURADAS
essas frases tantas vezes reescritas
no embate e
no silêncio
à procura do som da luz
que completa o poema
o espanto
o frio no estômago
o soco na cara.
Na vida — rota imprevisível
fantasia absurda
que o vento leva —
ele é tudo que nos salva.
Não da morte
pois essa
com sua bandeira de vitória
impiedosa nos sobreolha
e aos escombros nos joga fora.
BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6 BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6
IX
O olhar
fixo no escuro.
O silêncio —
evocando ausências.
Ao longe —
sons de grilos
labirinto de sonhos
tontos
tantos...
E a lua enorme
como pesa nos meus ombros.
VI
A casa repousa
seu sono à sombra
dos ipês amarelos.
O vento de agosto
ainda não trouxe a chuva
pra pintar o chão.
A estrada...
a estrada me deteve
Será que a festa começou
ou se soltou da moldura do tempo?
XVI
Perdi-me entre os meus andrajos
— mala colorida —
perseguindo sendas e sonhos
— patético espantalho.
Voei como a noiva camponesa
de Marc Chagall
espalhando flores
fiapos
palhas.
E agora, que estou
muito mais além,
tornei-me bruxa.
Desvelei meu avesso,
encantei-me
XIX
No embalo do teu colo
— balanço de barco —
transbordando-me
Meus olhos, que ao longe lanceio,
alcançam mais distâncias.
A tarde cai.
Leve, o barco volta do cais.
E eu, pássaro sofrê
sôfrego
me calo
XXVI
É dentro o silêncio
que ensurdece os deuses.
Silêncio de roça
repleto de presságios.
Cigarras, sapos e grilos
entonam uma mini-ópera
dramática e contida.
Os segredos
esses — ficam guardados a sete chaves
no urdimento do palco.
XXXI
Ontem te vi
forma — pulsar — presença.
Bem te vi.
E o pensamento pinça
todas as penas e pendências
de querer não podendo
e não entorna
com todo o esforço
esse estorvo que vem de dentro.
Ontem te vi.
Forma — pulsar — presença.
Hoje, mal te vi.
*
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Página publicada em junho de 2021
Página publicada em novembro de 2013; ampliada em agosto de 2018.
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