WALDO MOTTA
(São Mateus, 27 de outubro de 1959) é um poeta brasileiro. É reconhecido pela confecção de um tipo original de poesia, ao mesmo tempo erudita e popular, sagrada e profana, erótica e espiritual, moderna e tradicional. A obra do artista tem imbricadas relações com os campos da religião e da ciência.
A poesia de Waldo Motta se erige sob um pilar fundamental, sobre o qual cria interpretações pouco convencionais para os textos basilares das civilizações humanas, como a Bíblia e os Vedas.
O primeiro livro de repercussão nacional do autor, "Bundo", apresenta poemas monotemáticos e tautológicos, em torno de uma sabedoria sagrada, oculta na bíblia cristã através de códigos cabalísticos cifrados e análises numerológicas, entre outros. Waldo Motta parte do princípio de que o corpo humano é a fonte de todos os prazeres e delícias do paraíso, isto é, o corpo é o próprio Éden. E para alcançar este paraíso é preciso tomar consciência quanto ao lugar certo do corpo onde Deus necessita ser louvado, por uma questão de justiça. E esse lugar seria o ânus, a base do chakra raiz, o ponto zero da acupuntura, a juntura da coxa de Jacó, o Deus revelado a Moisés pelas costas.
Fonte: wikipedia
De
Waldo Motta
Transpaixão
Coletânea. 2a. ed.
Vitória, ES: EDUFES, 2008. 102 p
ISBN 978-85-7772-033-0
CRISTO BAIXO
A língua trava e as palavras mascam
no trabuco enguiçado, impotente.
O corpo, esse vibra sob o impacto
da chuva horizontal de risos e vaias.
Prossigo a via-crucis, crista baixa,
sem perder o rebolado, que amar gente
tem destas surpresinhas agradáveis.
Daqui a pouco, taruíra, estarei
sarado dos arranhões, e, cabeçudo,
a me entornar de amor por todo mundo.
CALIBRE 24
O coração na boca, as pernas trêmulas
e o cuzinho na mão, piso o batente.
Que nem moela, o meu vulnerável
à flor de mim exposto, isca de cães.
Não obstante,
acredito piamente no homem, sério!,
mas êta racinha à toa, ordinária!
Todo cuidado é pouco, nunca esqueço
das palavras no coldre e a língua no gatilho.
PEIXE EXALTADO
Peixe exaltado
pela boca morro
em cada palavra
mas se mato fomes
persisto secreto
no que me consome
ENGRENAGENS
Engrenagens regidas pela fala:
a volta que completo num segundo
quantos séculos levarão os mundos
periféricos para completá-la?
RELIGIÃO
A poesia é a minha
sacrossanta escritura,
cruzada evangélica
que deflagro deste púlpito.
Só ela me salvará
da guela do abismo.
Já não digo como ponte
que me religue
a algum distante céu,
mas como pinguela mesmo,
elo entre alheios eus.
EXU YANG
Quando o último ser vivo
for somente nome (enfim!)
nas páginas do Hiperlivro,
Deus!, o que será de mim?
Oxalá não me venha o Cujo
me punir a mim. Sou réu?
Dividido em zil, eu fujo
inteiro para outro Céu.
Só cumpro os infinitos
números de nossa lenda.
Até que me enjoe o rito
e ao silêncio Eu me renda.
MOTTA, Valdo. Poiezen. São Paulo: Sub-Reitoria Comunitária UFES; Massao Ohno Editor, 1990. s.p. 14x20 cm
Sovar-te de nomes
até a exaustão
transformar-te em pão
para muitas fomes
sabendo que o nome
se ao homem sustém
torna-o refém
também o consome
CONTRASTE DA AMÉRICA: antologia de poesia brasileira. Organizador Djami Sezostre. São Paulo, SP: Editora Laranja Original, 2022. 189 p. ISBN 978-65-86042-40-5.
Ex. biibl. Antonio Miranda
MAR DE TANTO SANGUE E FEL
Mar de tanto sal e fel,
mar amaro, mar cruel,
onde hemos de encontrar
a terra de leite e mel?
Quanto mais os ventos falam
da misteriosa terra,
tanto mais a alma errante
em procura-la, erra.
Quanto mais perambulamos,
do léu em léu, pela terra,
atrás da terra sem mal,
tanto mais longe iremos
de nosso destino real.
PEGAÇÃO SAGRADA
Põe tua mão aqui debaixo
de minha coxa, onde Abrahão
pediu que um servo o tocasse,
em nome do Deus dos deuses,
Senhor dos Céus e da Terra,
onde o anjo do Senhor tocou
o relutante Jacob, que assim
se transformou em Israel,
que lembrou a sagrada aliança
em seu leito de morte, onde pediu
ao mais amado filho que o tocasse
no mesmo lugar sagrado e consagrado.
Página publicada em novembro de 2010; ampliado em outubro de 2014. |