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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GEIR CAMPOS

(1924-1999)

 

Geir Nuffer Campos, poeta, jornalista e ativista cultural de grande presença e influência na literatura brasileira. Nasceu em São José do Calçado (ES), foi piloto da marinha mercante e ex-combatente civil na Segunda Guerra Mundial. Formado em Direção Teatral (FEFIERJ-MEC, Rio), mestre e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com Thiago de Mello fundou a editora Hipocampo, marco nas artes gráficas do livro brasileiro. Obra extensa e de valor imorredouro.

 

[ Veja também: GEIR CAMPOS - EN FRANÇAIS]

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   - TEXTOS EN ESPAÑOL

 

TEXTO EM ITALIANO

 

 

 


“Operário do canto, me apresento
sem marca ou cicatriz, limpas as mãos,
minha alma lima, a face descoberta,
aberto o peito, e — expresso documento —
a palavra conforme o pensamento.”

 

 

TAREFA


Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.

 

 

VIGILIA

 

Não, meu amigo, não precisas ter

nenhum cuidado: havendo o que cuidar,

cuidarei eu constantemente a te poupar

coitas que vão teu coito arrefecer.

 

Coitado de quem deixa a noite ser

vinda fora de tempo e de lugar

sombreando as alturas do prazer

com rasteiras tribulações do lar.

 

Antes que venha a noite, vai o dia

mostrando os horizontes de alegria

que tem a palmilhar no corpo dela:

 

são costas, são gargantas, são colinas

— toda uma geografia em que te empinas

enquanto pelo teu meu amor vela.

 

 

POÉTICA

 

Eu quisera ser claro de tal forma

que ao dizer

                   —rosa!

todos soubessem o que haviam de pensar.

 

Mais: quisera ser claro de tal forma

que ao dizer

                   — já!

todos soubessem o que haviam de fazer.

 

 

 

VERTICAL MORTE

 

Pára-quedista, a que distância

escolheras o teu lugar

— sobre as vogais de tantos olhos,

tu, leviano como til?

         Tão moço, tinha moço amor

         além da mãe, da irmão, do irmão,

do companheiro antes alegre

e triste já pelo que viu:

saltaram dez, saltaram cem...

 

Negra metade do que fora

o claro salto de um tiziu

         ou, mais, crisântemo de seda

         entre o chão duro e o fofo anil.

Mas nem foi de abelha o zumbir...

 

         O pára-quedas não se abriu.

 

E era um exercício de paz:

         da paz que as armas não baniu.

 

 

 

SUGESTÃO NO CAIS

 

Aos carnívoros peixes que na guerra

sozinhos ou sem bandos avisados

tiveram seus banquetes numerosos

à sombra dos navios afundados

e ali comerem ávidos e quietos

as carnes de marujos e soldados

e tripulantes e passageiros

de barcos mercantes torpedeados,

pergunte-se:

 

         — A que sabem os miolos

por tantas agonias transitados

e os corações vazios de esperança

e os músculos com seu gestos truncados?

 

Pergunte-se, e o pavor será tamanho

que os peixes permanecerão calados.

 

 

 

INVENTÁRIO

 

Esta epiderme há muitos muitos anos

me cobre: guarda algumas cicatrizes,

outras não lembra mais, e até mistura

uns caminhos da infância a outros de agora.

 

As unhas não direi que são as mesmas

com que o seio nutriz terei vincado:

são mais duras, mais feias e mais sujas

— pois nem sempre de amor e entrega foi

o chão em que plantei, colhi nem sempre.

 

Se os dentes não gastei, gastei meus olhos

entrevendo paisagens, vendo coisas,

cegando-me ante sésamos de sombra.

 

A alma apanhou demais e vai pejada,

mas vão leves as mãos cheias de nada.

 

 

 

De
CANTIGAS DE ACORDAR MULHER
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964

 

Em vez de levar a sério
o que o moralista diz,
eu me pergunto primeiro:
o moralista é feliz?

ALBA

Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não têm pressa nem os frutos:
sabem que a vagareza dos minutos
adoça mais o outono por chegar.
Portanto não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
do leste — o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.

DESCANTE

Nunca te pedirei
o que não possas dar,
ai — pedir sombra ao sol,
doçura ao mar?

Tampouco pedirei
mimo que não tenha preço,
ai — de pobre que sou
bem me conheço.

Não saberia aliás
que prenda acrescentar,
brilho ao sol, talvez,
salina ao mar...

E nem te valeria
a espera na promessa,
ai — eterno é o que passa
mais depressa.

CANTO CLARO

De
CANTO CLARO
e poemas anteriores.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1957.

 

TAREFA

Morder o fruto amargo e não cuspir
ma avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir  o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
 — do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.

 

POÉTICA

Eu quisera ser claro de tal forma
que ao dizer
                   — rosa!
todos soubessem o que haviam de pensar.

Mais: quisera ser claro de tal forma
que ao dizer
                   — já!
todos soubessem o que haviam de fazer.


SUGESTÃO NO CAIS

Aos carnívoros peixes que na guerra
sozinhos ou em bandos avisados
tiveram seus banquetes numerosos
à sombra dos navios afundados
e ali comeram rápidos e quietos
as carnes de marujos e soldados
e tripulantes mais e passageiros
de barcos mercantes torpedeados,
pergunte-se:

         — A que os miolos
por tantas agonias transitados,
e os corações vazios de esperança,
e os músculos com seus gestos truncados?

Pergunte-se, e o pavor será tamanho
que os peixes permanecerão calados.

 

SER E TEMPO

Ser é durar...  Somos, então,
nesses momentos em que a vida
excede a própria duração?
Nesses momentos quando o amor
(fruto a multiplicar-se em gomos,
em cada gomo outro sabor)
é uma surpresa repetida
— que somos nós? Acaso somos?


DO AMOR

Se deveras não cabe, entre criaturas
modeladas em barro e ao barro adstritas,
mais do que o essencial esfarinhar-se
(durando, gastam-se as coisas mais duras)
— às criaturas será sempre estrangeira
a força que as redime, se as atrita,
queimando auroras sobre grãos de poeira.


SONETO FABRIL

Parques, sim, mas parques industriais:
neles é que passeia o nosso amor,
em bairros pouco residenciais
onde ronrona a máquina a vapor.

Das chaminés das fábricas saem mais
nuvens (claras, escuras) de vapor
e de fumaça, com a cor das quais
o azul do céu muda-se noutra cor.

Pairando entre esse céu, assim mudado,
e a terra, onde prossegue a mesma vida
com seu esquema aceito mas errado,

detém-se o nosso olhar em bagatelas
 — que de pequenas coisas é tecida
a glória de viver e achá-las belas.


TEMA SEM VARIAÇÃO

Sequer apago as passadas
deste meu vagar sozinho,
sozinho em tantas estradas:
triturador de caminhos,
move-me um remoinho
de frescas águas passadas.


RUAS

Longos rios de roupa e carne humana,
onde a emoção flutua vagamente
ancorada em rotina e preconceito.

Os edifícios formam como um cais
eternamente à espera de navios,
e os peixes todos se debatem presos
a incógnitos anzóis que ninguém puxa:

águas vivas correndo para a morte.

 

 

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2008; ampliada e republicada em janeiro de 2009.


Extraído de:
2011 CALENDÁRIO   poetas     antologia
Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais

 

/ Caixa de cartão duro com 12 conjuntos de poemas, um para cada mês do ano. Os poetas incluídos pelo mês de seu aniversário. Inclui efígie e um poema de cada poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns de Portugal. Produção artesanal.



 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA. Preparación, traducción y prólogo de Gabriel Rodríguez. Caracas: Fundación Editorial Popular de la Cultura; Fundción Editorial  El Perro y          la la Rana, 2008.   437 p.  Col. Poesía del Mundo. Série Antologías.     Col. A.M. 

 

 

MARINA

 

Hay una fe indescriptible en el timón,

en la solidez del casco, en el cordaje:

una confianza en la propia inmunidad

ante el mar que brama y se agita en el oleaje.

 

Suelta al viento, la bandera es un pañuelo

que borra en la distancia esquivas señales;

fluye luz de las estrellas, malheridas

por la ágil esgrima de los mástiles.

 

Oleajes se sublevan, mas vencidos

capitulan en locas contorsiones

bajo la afilada proa; la brisa alegre

infla el aire de suavísimas canciones.

 

Y entre la calma del cielo, sin un ala,

y el silencio del mar, que los peces comen,

sigue siempre el navio solitario:

exiliado en sí mismo -como un hombre.

 

 

 

TROMPO

 

¿Quién te enseñó, trompo, el arte simple

de girar y hacer del giro la vida,

vertical sobre el pico -único punto

de tu cuerpo que en el suelo te sostiene?

Esa es tu verdad esencial:

como un hombre cercado por mentiras,

buscas tal vez en torno una salida

que no hallas; y así de balde giras

en un equilibrio falso, que al final

se rompe.. .y al suelo te entregas, así de tonto.

 

                    (Rosa dos Rumos)

 

 

 

LA ARMADURA

 

La antigua fe, que al gesto te obligaba

y te animó para aventura y guerra:

 

¿era del cuerpo, que volvió a la tierra,

o del alma que al cuerpo alimentaba?

 

Si era la del cuerpo, en tu ley - descansa:

que la herrumbre te mine poco a poco,

que se ensucien el metal y el penacho

con el polvo que en la vitrina danza.

 

Pero, si la carne era sólo engaste

de esa voluntad que vestiste un día

con tanto brillo y tanta gallardía,

 

¿qué esperas aún para, en un violento

gesto, volver a la vida que dejaste?

Tu inercia es ya un acontecimiento.

 

 

IX

 

Al colorear faroles en los declives

que piso, pavos empluman abanicos

y con ojos astutos me vigilan

cuando subo al morro donde vives.

 

Lento giro las páginas de la altura,

deletreando paisajes; organizo

palabras que prefiero silenciar

para mantener esa atmósfera pura.

 

Entre pájaro y piedra, Ícaro voy

con mi peso de ser y un sueño de alas,

sin virtud mayor que me consagre

 

sino esta tenaz porfía de amante

desmalezando, al azar, casi vuelos,

caminos donde el paso es ya un milagro.

 

                    (Coroa de Sonetos)

 

 

TAREA

 

Morder el fruto amargo y no escupir

sino advertir a los otros cuan amargo es,

cumplir el trato injusto y no fallar

mas advertir a los otros cuan injusto es,

sufrir el esquema falso y no ceder

pero advertir a los otros lo falso que es;

decir también que son cosas mutables...

Y cuando en muchos lata la noción

-de lo amargo e injusto y falso por cambiar-

entonces confiar a la gente ya harta el plano

de un mundo nuevo y mucho más humano.

 

                   

                    (Canto Claro)

 

 

TEXTO EM ITALIANO

 

Texto extraído de:

 

 

CHIOCCHIO, Anton Angelo.  Poesia post-modernista in Brasile.  Roma: dell´Arco, s.d.  40 p.  ilus. 12x17,5 cm.  “ Anton Angelo Chiocchio “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

BALLETTO

 

La musica rescinde e fende l'aria

creando per il gesto attese nuove

in cui la ballerina avvolge rapida

il suo corpo di gesso, empiendo forme;

 

parte d´essa, però, troppo leggera

per morire da statua, si fa accordo

e in breve si reintegra al silenzio.

 

 

         MARE CLAUSUM

 

Arrivo al molo di me stesso e sopra

l'interno mar mi sporgo e bagno lastre

di concetti e di dogma secolari...

 

Nel crepuscolo folgora ogni tanto

l'inutile conchiglia di un mollusco

morto; balzano pesci dalle acque

misteriose in schiumanti imprecazioni.

 

Il desiderio spezza le sue gomene:

 

gonfia le vele, come seni vergini,

la speranza con soffio intermittente.

 

O grande mare, scuola di naufragi!

Un addio piange in ogni grembo d'onda.

 

 

NINNA NANNA

 

Esausto di fotografar la vita

nei suoi sessanta aspetti per minuto,

l´occhio riposa nel raccoglimento

del crepuscolo antico e sempre nuovo:

le immagini del giorno, prigioniere

tra i veli delle palpebre, discutono

possibili argomenti per un sogno.

 



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