ELISA LUCINDA
Elisa Lucinda Campos Gomes nasceu em Vitoria do Espírito Santo em 2 de fevereiro de 1958. Aquariana, com ascendente em touro, é "galo" no horóscopo chinês. Mulata de olhos verdes, esguia, aos 11 anos, começou a dizer versos e se apaixonou pela Poesia.
Ingressa na Universidade Federal do Espírito Santo no curso de Comunicação Social, onde no mesmo ano inicia suas atividades no teatro. Em 1982 sai dessa Universidade diplomada em jornalismo.
Veio para o Rio em 1986. Ingressou na CAL - Casa das Artes de Laranjeiras - no curso de Interpretação Teatral. Atriz de televisão, teatro e cinema, professora universitária, escritora de contos, poemas e peças teatrais, Elisa tem feito sucesso nas várias atividades a que se dedica. Mas é a interpretação da poesia, o dizer poesia, o lado que mais lhe fascina e onde tem brilhado muito.
COR-RESPONDÊNCIA
Remeta-me
os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que você tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era seu jeito
ou de propósito
mas era bom
sempre bom
e assanhava as tardes
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.
PRISÃO
Não consigo me soltar:
nem gases nem versos.
Hoje sou reverso de cantilena
antítese do poema
me espremo me alvoroço
me debulho me coço
me vasculho me provoco
e não sai nada.
Séculos se passaram
e o corpo ainda sente:
nasci na lei do ventre-livre
e hoje sofro de prisão de ventre.
(Lisboa / verão de 1993)
LUCINDA, Elisa. O Semelhante. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998. 228 p. 18,5x18 cm. “Orelha do livro” por Mauro Salles. ISBN 85-01-0516-X “ Elisa Lucinda “ Ex. bibl. Antonio Miranda
PRISÃO
Não consigo me soltar:
nem gases nem versos.
Hoje sou reverso de cantilena
antítese do poema
me espremo me alvoroço
me debulho me coço
me vasculho me provoco
e não sai nada.
Séculos se passaram
e o corpo ainda sente:
nasci na lei do ventre-livre
e hoje sofro de prisão de ventre.
(Lisboa/verão de 1993)
RENOVAÇÃO DE ALUGUEL
Dorme meu corpo
que eu te refaço
que te desfaço
em quatro partes
em quartos
dorme, meus quartos
que te disfarço em aço
e manteiga meiga e dormida
Acordarei pra lida
como se não tivesse havido nunca orgia
e em vez de ressaca sobrasse
apenas a bem vinda dona massa lucidez
Dorme meu tesão
meu animal de estimação
com seus peitos assanhados
seus vales molhados
suas insinuações
Dorme querido
pra que amanhã não me traias
pelo cansaço.
Dorme inchaço
coletivo de pedaços.
Dorme extensão da alma
te nino com bons planos
abóbora de mim, carruagem de mim
sem perigo de dar meia-noite.
Dorme, marca de açoite
dorme coiote, xote, pernoite.
Dorme tranquilo, anjo e quati, que sua inquilina linda
não sairá daqui,
(Da série "Fritando na cama")
LUCINDA, Elisa. Euteamo e suas estreias. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. 239 p. 18,5x18 cm. “Orelha” do livro por Antonio Olinto. “ Elisa Lucinda “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ESPELHO SEU
Quero ser. minha para poder ser sua
Quero nunca mais partir
Pra longe de mim.
Vem, Alivia, Adianta, Adivinha
Quero ser sua pra poder ser minha...
20 de outubro de 1994
DAS TURBULÊNCIAS
De não se acreditar:
era o avião enfiado
no meio de uma nuvem
prenha de chuva
dura feito rocha.
No céu e sobre o céu
balançava tudo
e toda Varig de agora
era um caminhão roto
de pneus gastos
numa estrada de chão
indo pra Cardinot.
O nome soa afrancesado
mas o país é o cafundó
de onde até Judas já se mudou.
Meu coração rápido bate
taquicárdico como quem goza
como forro de prosa
como quem tem profundo medo
de perder a vida.
De não se acreditar:
A estremecida
era como se houvesse pedras
no caminho do ar
pedras no meio do caminho de lá
sem nenhum Drummond pra salvar.
Página publicada em setembro de 2009
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