WILMA VILELA
(Não conseguimos a biografia da autora. Quem puder nos enviar, agradeceremos.)
VILELA, Wilma. Poemas. Barcelona: 1979. 72 p. 16x21,5 cm. Col. A.M.
Separação
«Ash, ash
you poke anel stir
Flesh, boné, there is nothing there».
SILVIA PLATH
Com o tempo
os ossos ficam sós :
a carne amolece
e se desprende deles.
Os ossos, imóveis,
assistem secamente
a este movimento da carne.
Após a morte,
os ossos sobrevivem
e, ainda tão duros
que se esfarelam
muito lentamente.
O desatino das noivas de Brasília
«Praise to the architects;
Dramatic shadows ín a tin box».
DYLAN THOMAS
O desatino das noivas de Brasília
espraia-se pelo cerrado e faz seu eco
junto às árvores que já crescem
retorcidas
e acompanham, paralelas,
as emoções que transitam
aqui
sem barreiras.
Nesta Brasília a emoção do humano
não encontra o eco que a aninha
e se perde dentro do homem,
ou aguarda, latente,
a hora e o voo
para as cidades maternas.
É deste silêncio que me rodeia
A Marly de Oliveira
Deste silêncio que me rodeia
(e de que não fujo)
que não entendo razão de tanta força.
É desta falta de ruídos
(que toca o corpo)
que não consigo incorporar a chama rápida.
Quanto de silêncio e ruídos me forjam o dia
e a maneira de seguir, neles esbarrando,
que me veem alerta, mas impotente,
sem me acostumar, ainda, aos longos vazios
e ao anseio úmido pelos pequenos ruídos.
Ele
A João Cabral de Melo Neto
Os cabelos grossos atraem o tato,
os sulcos do rosto, doçura de cana:
são os sinais dele mais competentes.
Percorre todo seu tempo
num corpo talhado em fibra,
com o mundo interno de Espanha
e asperezas que o acalentam.
A caatinga nele se incorpora em nervo,
os poros transmitem sentidos de terra.
Ele monopoliza o ar quando passa
e cristaliza as coisas em volta.
Invade e estimula, vinda do sol mais claro,
a presença total de um homem tão moreno
nele há um viver sem limite,
que só o define, mas não o alimenta.
Página publicada em dezembro de 2013
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