WÉLCIO DE TOLEDO
Nascido em Brasília no ano de 1970, cresceu entre os livros e a ideologia anarquista, com gosto pelas artes desde cedo. Hoje historiador, educador e ativista cultural. Editor em: http://www.editoramultifoco.com.br
TOLEDO, Wélcio. Sub versos. Goiânia, GO: Pé de Letras, 2015. 160 p. 14X21 cm. ISBN 978-85-666875-21-8 “Wélcio Toledo “ Ex. bibl. Antonio Miranda
TOLEDO, Wélcio de. Poemas, visões e outras viagens. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012. Capa e diagramação: Guilherme Peres. 95 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-7061-994-6 Col.. A.M.
Piso num chão de estilhaços
Há cacos de todas as cores
E estou em cada pedaço.
Caminho de espelho trincado
Um prisma se abre - uma fenda, um sulco
Solto, espalhado no mundo,
Espelhando nos olhos um vulto.
E vou com os escombros
Caindo ou subindo - eternidade ou segundo.
Mergulho na morte, na vida, no gozo, na arte
Não há nada mais
E nem sei se sou o todo ou a parte.
E eu vejo o quadro branco na parede nem tão branca
Tanto suja quanto turva a visão que vem de dentro
Em contraste com a arte tão fluída
Como o gelo que derrete na bebida em seu canto esquecida.
Flores brancas salpicadas pelo campo
Como bolas de algodão
Feito nossas brincadeiras submersas no lençol
Quando estamos procurando com os dedos
Um atalho para o céu.
Céu de nuvens concentradas contornando nossos corpos
Como aquele quadro branco.
Branco. Branco de tão branco
De um branco como o quê.
O que se pendura na parede?
O que se pendura na parede?
O que se desenha no papel?
O que se pinta com o pincel?
É desejo, é a fome, é a sede?
Não é o que sobra,
Nem o que transborda...
Mas sim, o que falta.
É o poeta na malta
O pescoço na corda
A sua última obra.
É o vazio, talvez a ausência,
Vai ver é um sinal,
Final sem ponto
Só reticências (...)
Alaranjadácida
Grande laranja
Pendendo por cima da vista
Desce do céu por acidente
Acidamente
Quente, latente
Derretendo, escorrendo
Lava fervente
Solta do galho flutua no breu
A lua incandescente
Explícita, latente, tácita
Alaranjadácida.
Para Nietzsche
Sonhei que meu coração repousava
Profundamente dentro de um copo d´água
Solto sem meu coração
Estava leve, muito leve (dançava)
Pensei: estou morto - vou falar com deus então
De frente pró espelho, ele me olhava
"E aí? O que está esperando?
Dá-me o copo, estou com sede
Está logo ali na sua frente, vede?"
Eu não obedecia... Continuava dançando.
Olhei pró reflexo e não me contive
Ah! Finalmente estou livre.
Eu só acreditaria, num deus que soubesse dançar.
(F. Nietzsche)
FINCAPÉ – Coletivo de Poetas. Org. Menezes y Moraes. Brasília: Thesaurus Editora, 2011. 280 p. 280 p.
12,5 X 22, 5 cm ISBN 978-85- 7062-969-
Ex. bibl. de Antonio Miranda
Atravessar a Ponte
Atravessar a ponte
sem olhar a profundidade do rio
Atravessar o canal
que liga o mundo ao litoral
Atravessar o mar
vento — água — areia — sal a temperar
Atravessar a luz
No piscar do instante que desata seu fio
Atravessar o som — coruja / escuro / pio —
O silêncio reticente não escolhe o seu tom
Atravessar a garganta
num grito do arco-íris não existe um final
Atravessar a rua
sem se importar com o ruído dos carros
Dar a partida
Atravessar os caminhos em direção à Vida
Salvador, Bahia, 24/11/2007.
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Página ampliada e republicada em outubro de 2023
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