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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



V. S. ANDERSEN

 

VILI SANTO ANDERSEN nasceu em Camaquã, RS. Formou-se em Direito pela Facul dade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro (1961),. Participou da Antologia da Poesia Uruguaianense (1991). Publicou os livros Versos em Preto e Branco (1999) e Poemas Três por Quatro (2000). Publicou três edições da Agenda Brasília & Poesia nos anos 1998, 2000 e 2005, em que inclui versos dos poetas da cidade. Reside em Brasília e é membro da Associação Nacional de Escritores.

 

“Há que se atentar, sobretudo, que os poemas desse gaúcho, refletindo a pressa dos tempos atuais, fluem ligeiros, curtos, despreocupados, despojados, que deixam tudo me suspenso, como se fosse uma pintura da qual não se sabe a cor da tinta de sua alma, em eterna mutação”. LUIZ SANTOS CARVALHO.

 

 

CAMAQUÃ .

 

Quarenta anos depois

voltei à minha cidade.

Nada mudou...

 

Calçadas da mesma rua,

sombras da mesma casa.

A mesma ponte de ferro

e quase seco o ribeirão.

Imagens fotografadas

no longevo dos meus olhos,

esculpidas no coração.

 

A árvore que eu plantei,

única, talvez, na minha vida

- a árvore da esperança –

esta, sim, cresceu.

Sorriu-me toda florida

mas não me reconheceu.

 

 

FLOR DE TRIGO

 

Sempre estou menos alegre que triste.

Será mesmo que a felicidade existe?

 

Eu a proclamo e bendigo:

existe, sim.

Frágil como o som do vidro.

Efêmera como a flor do trigo.

 

 

ANDERSEN, V.S.  Refúgio de sonhos.  Brasília: Thesaurus, 2012.  96 p.

 

MEU PRIMEIRO LIVRO

 

Outro dia

encontrei na estante fria

(amarelado)

o livro em que aprendi

resignado

o ABC.

 

Um vivo-morto como eu.

Tive a impressão

que o livro

de tanta saudade

me reconheceu.

 

 

DESPREZO

 

Ela sai...

bate

abruptamente

a porta do meu carro

e vai embora.

 

Tudo foi em vão...

 

O carro não sentiu nada

mas como doeu meu coração.

  

 

 

Extraído de Poemas três por quatro. Brasília: Thesarus, 2000. 93 p.

 

 

 

 

CHAMPAGNE

 

Careço de um amor / que me enlouqueça.

JOANYR DE OLIVEIRA

 

Manchaste a taça de batom

na sofreguidão mais louca

do champagne.

Por que não manchas de vermelho

também a minha boca?

 

 

CAMINHOS DIVERSOS

 

(...) eu não pedi para nascer, / eu não nasci para pedir/

e nem pedi pra morrer./ Eu só nasci por nascer.

ESMERINO MAGALHÃES JR.

 

 

Vi um caminhão carregado de bois

Ia no rumo de um frigorífico polivalente.

 

Vi um caminhão carregado de canas

Ia ser sumo num engenho de aguardente.

 

Vi um caminhão carregado de bananas

Ia pra o consumo na feira, logo na frente.

 

Meu Deus!

Diversos são os caminhos do mundo.

Para onde iria? – pensei, quando vi

Um caminhão carregado de gente.

 

 

A PARÁBOLA E EU

 

Vendo uma figueira à beira do caminho,

aproximou-se dela; e, não tendo achado

senão folhas, disse-lhe: Nunca mais

nasçam frutos de ti. E a (Mt. 21-19)

 

A figueira não deu frutos,

secou, foi cortada...

- Malsinada sentença divina.

Desde há muito

tenho a cabeça repousada

à espera da guilhotina.

 

 

SOZINHO

 

Não encontrar é achar-se.

Não ter é compreender-se.

ANDERSON BRAGA HORTA

 

Sozinho, além e aquém

fui à procura de mim.

Bati à minha porta

não havia ninguém.

 

 

VIDA II

 

... eis a morte como nunca antes,

fútil mas soberana,

única parte que nos cabe

no controvertido latifúndio desta vida.

RONALDO CAGIANO

 

A vida é uma longa fila:

reta,

curva,

torta

ou circunferente,

para outra vida!...

A única que ninguém se importa

se alguém passa a nossa frente.

 

 

VIDA III

 

(...) a vida é um vulto sem nada oculto,

basta que no estóico se sustente mundo.

HUGO MUND JÚNIOR

 

A vida é uma viagem de trem.

A morte é a estação.

- Depois da curva ela vem.

E o trem desengonçado,

excomungado

- melhor se quebrado.

 

Não faço questão

que o trem chegue atrasado.

 

 

MEDO

 

A morte é a única

e maior verdade do corpo.

ANTONIO MIRANDA

 

Tenho medo do longe,

do distante, do horizonte.

Tenho medo de estar só... e quanto.

Tenho medo da escuridão,

do mistério e do segredo.

 

No entanto, sou um forte, da morte não tenho medo.

 

 

RETRATO

 

Ai! Meus cantares,/ Continuo sempre menino.

OSWLADINO MARQUES

 

Quando criança

minha mãe me vigiava

e me repreendia

das artes que eu fazia.

 

Eu ainda faço artes...

Ela ainda me vigia,

me repreende.

Vou tirar o retrato dela

da parede...

 

 

 

Extraído de Versos em Preto e Branco. Brasília: Edição do Autor, 1999.

 

 

ANDERSEN, V. S.  Poemário. Pequeno dicionário de textos e cantos. Brasília, DF: Thesaurus, 2015.  135 p.    ISBN 978-85-409-0397-5 

 

          AMIZADE

          A lição maior que na vida eu tive:
          o amor pode morrer a qualquer tempo,
          a amizade sobrevive.

 

          CABELO

          Nada invento. Os meus cabelos
          sabem quando o vento sopra.

 

          CAMINHADA

          Nas minhas caminhadas, sem fim,
          sempre fico para trás. Paro.
          Fico esperando porá mim.

 

 

 

 

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