VICTOR FARINHA
Victor Farinha nasceu em 29 de agosto de 1970, em Brasília, e, aos 17 anos, mudou-se para o Rio. Na década de 90, coordenou as Rodas de Poesia do Bip Bip, evento de grande importância para o histórico movimento de expansão da poesia ocorrido no Rio de Janeiro, à época.
Como poeta, publicou breve (Ed. do autor, 2000). Foi premiado em diversos concursos nacionais e internacionais de grande importância, dentre os quais destacam-se o Prêmio Unamuno, da Universidade de Salamanca; e o Troféu Beletrista Campos de Carvalho, de Barbacena, Minas Gerais. É, também, crítico de cinema do Jornal Rio Letras.
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia. ANO 4 – NÚMERO 7 – JULHO 1996. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1996. Ex. bibl. Antonio Miranda
Vivência
A Fernando Pessoa
Penumbra fria da tarde
A morte em ti não serena
Mesmo onde a luz desencarde;
Verve contida na pena.
Indiferente ao que arde
Tudo perpassa e aliena
À flor oculta. Que tarde
O olor sob a cantilena.
Cristal, obscuro alarde,
Ócio impregnado na arena,
Lança cómoda e covarde.
Inexiste a água amena.
Inútil arte, esmola...
Nem arte ou morte consola.
Os dois lados da delicadeza
A tarde cinza do Rio
traz a imagem de um país de outrora,
boêmio e delicado,
habitante de um tempo
que não existe mais, senão em versos.
E o vento,
soprando o outono,
brincava com delicadeza em te decote.
Misturava teu cabelo à atmosfera,
num balé interminável.
A boca de mulher sensual,
fortaleza de sorrisos e versos esquecidos,
sussurrava beijos
no ouvido do vento.
Os meus olhos faiscavam desejos
e em teus olhos se espalhavam:
língua do mar
sobre o corpo de areia nua.
Praia onde me deixo além do Tempo.
E ia assim:
enquanto tua beleza flutuava
sumindo entre automóveis.
Página publicada em abril de 2019
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