VERA AMERICANO
Vera Americano nasceu em Minas Gerais. De família goiana, residiu entre Goiás e Rio de Janeiro e, mais tarde, em Brasília. Estudou Letras na Universidade de Brasília (UnB), e fez mestrado em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Foi professora de teoria da literatura na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. Em Brasília, trabalhou no Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Atualmente, trabalha na Consultoria Legislativa do Senado Federal, na área de cultura e patrimônio histórico.
Publicações:
· “A Hora Maior”, poesia, 1º prêmio da União Brasileira de Escritores, 1970;
· “Viaje ao reino de Cora Coralina”, ensaio, El Urogallo, Madrid, 1996;
· “Arremesso livre”, poesia, Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 2004;
· “Os Cine-jornais sobre a construção de Brasília”, ensaio, MinC/SPHAN/Pró-memória, Rio de Janeiro, 1988.
Participação em antologias, suplementos literários e revistas (inclusive eletrônicas) em Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
“Poesia não se aprende na Escola”, retoma Patativa do Assaré na sua cristalizada poética, antes de falecer. Mas poesia é também aprendizagem, sabedoria e jogo.
O poeta então não desdenha a escola. Serve-se de seus modos que, muitas vezes, iluminam o seu olhar. A mente sente e o poeta se faz numa espécie de jogo de esconde e revela. O poeta, brincante esperto, joga-se aos seus maneios, ambrages e meandros faz-se poesia.
A estréia de Vera dá-se com a A Hora Maior, livro premiado, sem “arroubos nem derramamentos desarticulados de uma poesia de maturada reflexão, na descoberta das coisas significantes que configuram a vida”, como observou Luiz Fernando Valladares, antecipando a fortuna crítica de uma poeta maior que logo que se apresenta no livro “Arremesso livre”. Cria-se assim a poética de uma Candanga em vôos para o universal. Para Francisco Alvim, excelente crítico e poeta, a poesia de Vera Americano exprime “percepções provindas de tempos e culturas longínquas ou estranhas”.
Os inéditos “As Quatro Estações”, “Mineral”, “Hora Remota” e “Cratera” convidam o navegante para vôos entre céus e terras de seus livros ao alcance de fiéis amantes de poesia e da boa leitura.
Essa é a lição poética de Vera Americano. Supremacia do eu numa obediência ao ver e sentir a Vida, com domínio das emoções e contenção no expressar o seu frente-a-frente com a Poesia das coisas. MARIA DE JESUS EVANGELISTA (MAJU)
Extraído de:
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BRIC A BRAC 21 ANOS MAIOR IDADE. Brasília: Caixa Cultura, 2007. 112 p. ilus. col. 23x21 cm.. Exposição comemorativa . Curadoria e projeto expositivo: Marilia Panitz. Coordenação Geral: Luis Turiba. Inclui poemas visuais e arte gráfica. Inclui poemas visuais de Luis Turiba, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Zuca Sardanga, Nanico, Franciso Kaque, Wagner Barja, Paulo Andrade, Antonio Miranda, Bernardo Vilhena, Paulo Cac, Ariosto Teixeira, Elizabeth Hazin, José Paulo Cunha, Fred Maia, Nicolas Behr, Claudius Portugal, Ronaldo Cagiano, TT Catalão, Francine Amarante, Adeilton Lima, Maria Maia, Ronaldo Augusto, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, José Rangel Farias Neto, Menezes e Morais, Cristiane Sobral, Eduardo Mamcasz, Vicente Sá, Nance Las-Casas, Bic Prado, Angélica Torres Lima, Flavio Maia, Ronaldo Santos, Joanyr de Oliveira, Sylvia Cyntrão, Carlos Roberto Lacerda, Carlos Henrique, Fernanda Barreto, José Edson, Vera Americano, Alice Ruiz, André Luiz Oliveira, Carlos Silva, Charles Peixoto, José Roberto Aguilar, Estrela Ruiz, Renato Riella, Chico César, Francisco Alvim, José Roberto da Silva, Eudoro Augusto, Amneres, Gustavo Dourado, Alexandre Marino, e ilustradores: Resa, e fotógrafos, etc.
AS QUATRO ESTAÇÕES
1.
Expor-se ao néctar
e ao aroma dos jasmins:
nada é tão violento
quanto a primavera.
2.
Dos verões
tudo se esquece.
Apenas
um certo azul
persiste
em tons de asa
e ressoa porta afora
como passos
prenunciando a chave
na ranhura.
3.
Errantes pernoites
trazidos pelo vento
denunciam
a indecisão:
nem bem verão
e já tão inverno.
4.
Aconchegante,
a falsa lareira
fabrica o frio.
Só o queixo treme
sutilmente
com medo do medo.
MINERAL
Sob a serenidade
recolhe-se
aos cacos
uma única antevéspera.
Dentro da bolsa,
o sentimento
em pérfido disfarce
nos resume.
HORA REMOTA
1.
Escarpas
(sem querer)
confundem
a rota.
Tormentas
(por missão)
cobiçam
a vela.
2.
A salvo,
o tapete exibe
trama inédita:
sequer um fio
escapa à lógica
ou sucumbe
à voracidade
dos vazios.
Já são horas.
Deve-se retomar
o esboço errante?
CRATERA
Daqui
pode-se ver:
a eternidade
termina
logo ali.
AMERICANO, Vera. Arremesso livre. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002. 97 p. 14x21 cm. ISBN 85-7316-378-X Editoração e capa: Dilmo Milheiros. Col. A.M.
o verbo transido
E se o verso
ostentar
uma lágrima
impertinente?
Não será estranho
que sua mão
cruze o oceano
e venha me secar
o rosto
com a delicadeza
de um monge.
Assim
permanecerei
levemente parada
a pinçar
— um a um —
os verbetes do seu
plano amoroso.
anotações de viagem
Recupero teu hálito
no espaço anônimo
do quarto.
Recupero tua risada
chave na ignição.
Demais digressões
na mala.
óleo sobre tela
Quando olhei,
teu cabelo escorregava
sobre a testa,
uma ruga
atravessava
redenção e juras.
Vi teu cabelo a resvalar
sobre uma fenda do tempo,
imagens costuradas,
citações.
Ao te olhar,
me vi.
NASCENTE, Gabriel. A Nova poesia em Goiás: antologia dos poetas goianos. Goiânia, GO: Oriente, 1978. 384 p. 13,5x18 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
Aparece como VERA AMERICANO DO BRASIL na Antologia organizada por Gabriel Nascente: "Desta autora sabemos que é goiana". Em verdade, ela é conhecida apenas como Vera Americano, nascida em Minas Gerais e residente em Brasília, mas de família goiana.
Nascente faz referência ao livro A hora maior, com o qual Vera, em 1968, recebeu a Bolsa de Publicações "Hugo de Carvalho Ramos, publicado pele Editora Oriente. E acrescenta:
"De Vera Americano do Brasil já disseram Stella Leonardos e Homero Homem, quando indicaram A hora maior para o prêmio" (...): que revela um lirismo espontâneo e comunicável, além de temática estrutural."
VOCATUS
A fuga é longa, amigo.
Pediste um gesto
e a mão é essência:
penetrante do teu reino,
peregrina de medos.
Tua.
Força de possessão
das árvores com a noite.
A fuga é longa, amigo.
Mas o peito espera
sinfonias ocultas
de obscuras cigarras.
Longa, amigo.
Mas intensa de estrelas cortantes
e úmidas do sumo da terra,
viajante incansável de nós dois.
Amigo.
Longa fuga, a nossa.
MOMENTO
(um telefone esquecido tocando longe)
Ásperas,
as nossas mãos se buscando
num desencontro assombrado
com medo de estrelas móveis,
sombras que o tempo comeu.
(o telefone insistindo)
Triste.
TEXTO EN ESPAÑOL
VARGAS & MIRANDA Compiladores. Selección y revisión de textos por Salomão Sousa. TRANS BRASILIANA ANTOLOGÍA 36 MUJERES POETAS DO BRASIL. MARIBELINA – Casa del Poeta Peruano. 2012 134 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
LAS CUATRO ESTACIONES
1.
Exponerse al néctar
y al aroma de los jazmines:
nada es tan violento
como la primavera.
2.
De los veranos
todo se olvida.
Apenas
un cierto azul
persiste
en tonos de ala
y resuena puerta afuera
como pasos
presagiando la llave
en la llanura.
3.
Errantes anocheceres
traídos por el viento
denuncian
la indecisión:
ni aún verano
y ya tan invierno.
4.
Acogedora,
la falsa chimenea
fabrica el frio.
Sólo el mentón tiembla
sutilmente
con miedo del miedo.
MINERAL
Bajo la serenidad
se recogen
los añico
una única antevíspera.
Dentro de la bolsa,
el sentimiento
em pérfido disfraz
nos resume.
HORA REMOTA
1.
Escarpas
(sin querer)
confunden
la ruta.
Tormentas
(por misión)
codician
la vela.
2.
A salvo,
el tapiz exhibe
trama inédita:
ni siquiera un hilo
escapa a la lógica
o sucumbe
a la velocidad
de los vacíos.
Ya son horas.
¿Se debe retomar
el esbozo errante?
CRÁTER
De aquí
se puede ver:
la eternidad
termina
luego allí.
*
Página ampliada em julho de 2024
Página ampliada em junho de 2017. |