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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





VERA AMERICANO
 

Vera Americano nasceu em Minas Gerais. De família goiana, residiu entre Goiás e Rio de Janeiro e, mais tarde, em Brasília. Estudou Letras na Universidade de Brasília (UnB), e fez mestrado em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Foi professora de teoria da literatura na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. Em Brasília, trabalhou no Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Atualmente, trabalha na Consultoria Legislativa do Senado Federal, na área de cultura e patrimônio histórico.

 

Publicações:

 ·         “A Hora Maior”, poesia, 1º prêmio da União Brasileira de Escritores, 1970;

·         “Viaje ao reino de Cora Coralina”, ensaio, El Urogallo, Madrid, 1996;

·         “Arremesso livre”, poesia, Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 2004;
·
         “Os Cine-jornais sobre a construção de Brasília”, ensaio, MinC/SPHAN/Pró-memória, Rio de Janeiro, 1988.

 

Participação em antologias, suplementos literários e revistas (inclusive eletrônicas) em Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre.   


“Poesia não se aprende na Escola”, retoma Patativa do Assaré na sua cristalizada poética, antes de falecer. Mas poesia é também aprendizagem, sabedoria e jogo.

O poeta então não desdenha a escola. Serve-se de seus modos que, muitas vezes, iluminam o seu olhar. A mente sente e o poeta se faz numa espécie de jogo de esconde e revela. O poeta, brincante esperto, joga-se aos seus maneios, ambrages e meandros faz-se poesia.

 

A estréia de Vera dá-se com a A Hora Maior, livro premiado, sem “arroubos nem derramamentos desarticulados de uma poesia de maturada reflexão, na descoberta das coisas significantes que configuram a vida”, como observou Luiz Fernando Valladares, antecipando a fortuna crítica de uma poeta maior que logo que se apresenta no livro “Arremesso livre”. Cria-se assim a poética de uma Candanga em vôos para o universal. Para Francisco Alvim, excelente crítico e poeta, a poesia de Vera Americano exprime “percepções provindas de tempos e culturas longínquas ou estranhas”.

 

Os inéditos “As Quatro Estações”, “Mineral”, “Hora Remota” e “Cratera” convidam o navegante para vôos entre céus e terras de seus livros ao alcance de fiéis amantes de poesia e da boa leitura.

 

Essa é a lição poética de Vera Americano. Supremacia do eu numa obediência ao ver e sentir a Vida, com domínio das emoções e contenção no expressar o seu frente-a-frente com a Poesia das coisas.                   MARIA DE JESUS EVANGELISTA (MAJU)

 

 

Extraído de:

BRIC A BRAC    21 ANOS   MAIOR IDADE.  Brasília: Caixa Cultura, 2007.  112 p. ilus. col.  23x21 cm.. Exposição comemorativa . Curadoria e projeto expositivo: Marilia Panitz.   Coordenação Geral: Luis Turiba.  Inclui poemas visuais e arte gráfica.  Inclui poemas visuais de Luis Turiba, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Zuca Sardanga, Nanico, Franciso Kaque, Wagner Barja, Paulo Andrade, Antonio Miranda, Bernardo Vilhena, Paulo Cac, Ariosto Teixeira, Elizabeth Hazin, José Paulo Cunha, Fred Maia, Nicolas Behr, Claudius Portugal, Ronaldo Cagiano, TT Catalão, Francine Amarante, Adeilton Lima, Maria Maia, Ronaldo Augusto, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, José Rangel Farias Neto, Menezes e Morais, Cristiane Sobral, Eduardo Mamcasz, Vicente Sá, Nance Las-Casas, Bic Prado, Angélica Torres Lima, Flavio Maia, Ronaldo Santos, Joanyr de Oliveira, Sylvia Cyntrão, Carlos Roberto Lacerda, Carlos Henrique, Fernanda Barreto,  José Edson, Vera Americano, Alice Ruiz, André Luiz Oliveira, Carlos Silva, Charles Peixoto, José Roberto Aguilar, Estrela Ruiz, Renato Riella, Chico César, Francisco Alvim, José Roberto da Silva, Eudoro Augusto, Amneres, Gustavo Dourado, Alexandre Marino, e ilustradores: Resa, e fotógrafos, etc. 

 

POEMAS INÉDITOS

 

 

 

AS QUATRO ESTAÇÕES

 

1.

Expor-se ao néctar

e ao aroma dos jasmins:

nada é tão violento

quanto a primavera.

 

2.

Dos verões

tudo se esquece.

Apenas

um certo azul

persiste

em tons de asa

e ressoa porta afora

como passos

prenunciando a chave

na ranhura.

 

3.

Errantes pernoites

trazidos pelo vento

denunciam

a indecisão:

nem bem verão

e já tão inverno.

 

4.

Aconchegante,

a falsa lareira

fabrica o frio.

Só o queixo treme

sutilmente

com medo do medo.

 

 

 

MINERAL

 

Sob a serenidade

recolhe-se

aos cacos

uma única antevéspera.

 

Dentro da bolsa,

o sentimento

em pérfido disfarce

nos resume.

 

 

HORA REMOTA

 

1.

Escarpas

(sem querer)

confundem

a rota.

 

Tormentas

(por missão)

cobiçam

a vela.

 

 

2.

A salvo,

o tapete exibe

trama inédita:

sequer um fio

escapa à lógica

ou sucumbe

à voracidade

dos vazios.

 

Já são horas.

Deve-se retomar

o esboço errante?

 

 

 

CRATERA

 

Daqui

pode-se ver:

a eternidade

termina

logo ali.

 

 

AMERICANO, Vera.  Arremesso livre.  Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.  97 p.  14x21 cm.   ISBN 85-7316-378-X  Editoração e capa: Dilmo Milheiros.  Col. A.M.

 

o verbo transido

E se o verso
ostentar
uma lágrima
impertinente?

Não será estranho
que sua mão
cruze o oceano
e venha me secar
o rosto
com a delicadeza
de um monge.

Assim
permanecerei
levemente parada
a pinçar
— um a um —
os verbetes do seu
plano amoroso.

 

anotações de viagem

Recupero teu hálito
no espaço anônimo
do quarto.

Recupero tua risada
chave na ignição.

Demais digressões
na mala.

 

óleo sobre tela

Quando olhei,
teu cabelo escorregava
sobre a testa,
uma ruga
atravessava
redenção e juras.
Vi teu cabelo a resvalar
sobre uma fenda do tempo,
imagens costuradas,
citações.

Ao te olhar,
me vi.

 

NASCENTE, Gabriel. A Nova poesia em Goiás: antologia dos poetas goianos.  Goiânia, GO: Oriente, 1978.  384 p.  13,5x18 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda

Aparece como VERA AMERICANO DO BRASIL na Antologia organizada por Gabriel Nascente: "Desta autora sabemos que é goiana". Em verdade, ela é conhecida apenas como Vera Americano, nascida em Minas Gerais e residente em Brasília, mas de família goiana.
Nascente faz referência ao livro  A hora maior, com o qual Vera, em 1968, recebeu a Bolsa de Publicações "Hugo de Carvalho Ramos, publicado pele Editora Oriente. E acrescenta:
"De Vera Americano do Brasil já disseram Stella Leonardos e Homero Homem, quando indicaram A hora maior para o prêmio" (...): que revela um lirismo espontâneo e comunicável, além de temática estrutural."

 

         VOCATUS

         A fuga é longa, amigo.
         Pediste um gesto
         e a mão é essência:
         penetrante do teu reino,
         peregrina de medos.
         Tua.
         Força de possessão
         das árvores com a noite.

         A fuga é longa, amigo.
         Mas o peito espera
         sinfonias ocultas
         de obscuras cigarras.

         Longa, amigo.
         Mas intensa de estrelas cortantes
         e úmidas do sumo da terra,
         viajante incansável de nós dois.

         Amigo.
         Longa fuga, a nossa.

 

         MOMENTO

         (um telefone esquecido tocando longe)
         Ásperas,
         as nossas mãos se buscando
         num desencontro assombrado
         com medo de estrelas móveis,
         sombras que o tempo comeu.

         (o telefone insistindo)
         Triste.

 

TEXTO EN ESPAÑOL

 

VARGAS & MIRANDA Compiladores.  Selección y revisión de textos por Salomão Sousa.  TRANS BRASILIANA  ANTOLOGÍA  36 MUJERES POETAS DO BRASIL. MARIBELINA – Casa del Poeta Peruano. 2012  134 p.      Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

      LAS CUATRO ESTACIONES

        1.
      
 Exponerse al néctar
       y al aroma de los jazmines:
       nada es tan violento
       como la primavera.

        2.
       
De los veranos
       todo se olvida.
       Apenas
       un cierto azul
       persiste
       en tonos de ala
       y resuena puerta afuera
       como pasos
       presagiando la llave
       en la llanura.

       3.

        Errantes anocheceres
       traídos por el viento
       denuncian
       la indecisión:
       ni aún verano
       y ya tan invierno.

        4.
      
 Acogedora,
       la falsa chimenea
       fabrica el frio.
       Sólo el mentón tiembla
       sutilmente
       con miedo del miedo.


       MINERAL

         
Bajo la serenidad
        se recogen
        los añico
        una única antevíspera.

        Dentro de la bolsa,
        el sentimiento
        em pérfido disfraz
        nos resume.

       
        HORA REMOTA

          1.
          
Escarpas
         (sin querer)
         confunden
         la ruta.

         Tormentas
         (por misión)
         codician
         la vela.
  
         2.
         A salvo,
         el tapiz exhibe
         trama inédita:
         ni siquiera un hilo
         escapa a la lógica
         o sucumbe
         a la velocidad
         de los vacíos.

         Ya son horas.
         ¿Se debe retomar
         el esbozo errante?


          CRÁTER

            
De aquí
           se puede ver:
           la eternidad
           termina
           luego allí.

*

Página ampliada em julho de 2024

Página ampliada em junho de 2017.

 


 

 

 
 
 
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