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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


SÓTER

SÓTER

 

Nasceu em Catalão, Goiás, em 1953.  Formação em Agronomia pelas Universidade Federal de Goiás e Universidade de Brasília.  Exerce a profissão de publicitário.

José Luiz do Nascimento Sóter se apresenta como poeta marginal da geração mimeógrafo de Brasília. Professor da rede pública, coordenador da Associação Brasileira de Radiodifusão.
Os textos de Sóter republicados em Renitência Lunar (Semim Edições) foram escritos em Brasília entre 1978 e 1998, “por isso retratam momentos vividos sob a tensão da censura e do totalitarismo obscurantista". Como lema da Oswaldiana “Amor com humor” e a Pessoana “Chega de heróis, quero gente” e como mote a poesia libertária de Mário Quintana. Nas entrelinhas e nos entretantos as transições dessas duas décadas de transformações mundiais”, confessa o autor. Nosso emblemático da poesia brasiliense dos anos de rebeldia e contestação.

Veja mais: http://soterpoesia.blogspot.com/2007/11/o-oculista.html

 

Ver TEXTOS EM PORTUGUÊS – TEXTOS TEXTOS EN ESPAÑOL

eus

existe uma briga entre eu e mim
que fico de fora assistindo
pra assumir o vencedor
        

da propriedade

sou dono somente
do que finda
em mim.

 

                  hai-cai

                  
Bashô o santo
                   a galera encalhou no cais
                   cheia de ais

 

bucolismo

         meu pomar é Brasília
e não quero mais:
caminhar pela grama
passarinhar frutíferas por aí
passear pelos passeios da cidade
sentir-me leve
planando no solo
e ainda chegar a tempo
de viver
e ver no que dá.


anzóis sociais

falas do necessário
falo do possível
o real e o ideal
o sonho indica possibilidades
o libertário entre parênteses
o real reticente...



o estopim implantado

no meio da multidão
incrimina a mão defensora

os tiros metralhados contra a urbe
soltam uma cortina de fumaça
e impuniza a mão assassina

a mochila explosiva
na calada da noite
faz grita o Memorial.

o que fazer esse povo
crente na esperança
contra a malícia
maldosa da milícia?

 

                               27 de novembro
                   (badernaço)

                   tanto gás lacrimogêneo, cassetetes
                   tanques, ódios e tiros
                   que a coruja do Eixão-9-Norte
                   exilou-se:
                   o galho ensebado do pouso
                   o buraco solitário na rampa
                   o silêncio gritante ao passar-se:
                   o seu vácuo protesto

 

SÓTER. #Agrestina.  Brasília, DF: 2016.   252 p.  10,5x14 cm  Capa dura. “José Luiz de Nascimento Sóter”.  Inclui uma caneta gravada com o nome de Sóter.  Ex. bibl. part. Salomão Sousa.  

 

         menosprezo

        o seu silêncio
        quase explode
        nos meus tímpanos

 

        a solidão é um grilhão
        que se carrega silenciosamente
        em meio à multidão

 

        reclame

        Dói-me na alma
        ver poemas atarracados
        no peso das palavras
        enquanto poetas flutuam
        em golfadas de vaidade
        não sei quem mais sofre
        a palavra bruta
        o poeta inflado
        ou a poesia injustiçada.

 

        pacto feito

        se tens hérnia de disco
        te cuido ao som de Ravel

        se és bipolar
        me aninho no equador

        se não sou suficiente

        me multiplico o bastante
       

 

SÓTER, JoséEntre a terra e o concreto. Brasília: SEMIM “numas de ler”, 1983.  s.p.  13,5x19 cm.  Capa: Nice Gomes. Apresentação de Luz de Aquino Alves Neto. Posfácio: Paulo Tovar.  (EA)   “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

ode às sqs

 

enquanto pito o meu pito

vou cantando:

fico em jejum

na cento e um

te encontro pois

na cento e dois

perco o pedrês

na cento e três

acho o seu retrato

na cento e quatro

piso com afinco

na cento e cinco

sintos ocês

da cento e seis

o caso se repete

na cento e sete

e corro afoito

pra cento e oito

você me comove

sentado na cento e nove

tristeza, invés

na cento e dez

bate forte e bronze

na entrada da cento e onze

e sofrer é dose

à saída da cento e doze

embora eu reze

me assombro na cento e treze

e saio de vez

pelas dezesseis

 

 

“numas de ler”
entre numas você também
 

Foto de Juvenal Pereira:
NICK, TOVAR E SÓTER


SÓTER.  Fogo na Palha.  Brasília: SEMIM, Sóter Edições Mimeografadas, 1981. s.p. (Coleção Gregório de Matos Guerra, vol. VIII)  11x16,5 cm.Ilustrações de Eurico, desdobráveis.  Impresso com letras em verde e em azul. “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.


tenho um pouco de mim

em cada um de vocês

como praga

rogada por bei j a-flor

e saibam que sou

que nem o pau-terra

que se contorce

se engrossa na casca

pra resistir a toda dor

e seja que sim

e seja que não

sem talvez

meio termo

ou corpo mole

                              que amo/e meu dispor


SÓTER. Início e fim (poesias) 09/78.  Brasília: edição do autor, 1978?  s.p. Informa: edição toda feita pelo autor.  “Este livro é mais uma contribuição CCOPO à divulgação de trabalhos diretamente da fonte ao consumidor. Ele será distribuido onde houver aglomeração: porta de chous, teatro, cinema, rodoviária, feiras e outros”. “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.


 

ESTÓRIAS QUE OUVI

 

Menino que brinca com fogo

mija na cama

Se acha ninho de conhan

quando cresce fica rico

mas, não pode passar

debaixo do arco da véia

senão vira mulher

Na quaresma não pode sair

depois da Ave Maria

pois, lá fora, na escuridão

se encontram o lobisomem

e a mula sem cabeça

que não pode ver

nada brilhante, como

olhos, dentes e unhas

a tuta e o saci pererê

E se aponta a estrela que cai

nasce verruga na ponta do dedo.

 

 

INPS 


 

SÓTER.  Navegante ao Léu.  Artes: Zé Nobre. Brasìlia: SEMIM edições, 2011.  111 p.
Apoio    SINPRO.  ilus. col. 
“ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda. 


SÓTERPonto final.  Brasília?: SEMIN produções, 1986.  76 p.  12x18 cm.”  “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda. 



SÓTERRenitência lunar.  Brasília: SEMIN Edições, 1998.  112 p.  10,5x18 cm.  “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

dito

 

eu tinha um padrinho (nego) cego

um dia, no jantar, na fazenda

comendo rapidamente

ele parou para dizer:

"engraçado, né siô?

a gente pode erra tudo nessa vida

menos o buraco da boca!"

 

 

inventário

 

nasci que nem bezerro:

com as contrações da mãe

pelas mãos do proprietário

 

cresci que nem lavoura:

aproveitando os restos
da que já foi

 

vivo que nem curió

que lança o seu canto triste

através das grades da gaiola

 

quero morrer que nem cachorro velho

que sabe a hora

deita num canto

e deixa de respirar

 


SÓTER, José.    Ver de Dentro  (poemas).  Brasília: Edições De Bar em Bar, 1989.  32 p.  10x15,5 cm.   “Coleção comemorativa dos doze anos de “poesia marginal” ou de  “geração mimeógrafo” de Brasília.  “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

ninfa

 

sei que você é livre

uma gata livre

ronronando telhados noturnos

espantando o fantasma da solidão

e não cobro nada de você

além do seu olhar de lado.

o seu pula-pula

beija-floreando sonhos

me excita e me liberta

e não cobro nada de você

além do seu roçar natural

quando passa

passarinhando desejos.

 

SÓTER.  Navegante ao Léu.  Artes: Zé Nobre. Brasìlia: SEMIM edições, 2011.  111 p. Apoio    SINPRO.  ilus. col.  “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.
 

e agora

é que só te olho
com os olhos do presente
por isso
não vejo em ti
nada de diferente


sem título e sem futuro

o seu desamor
atrai outros braços ávidos
imãs de feromônio.

e sua desatenção
me revela ombros soslitários
onde desfazer-me de carências e
mágoas.
 

Membros do Grupo Lira Pau-Brasília: Sóter, Paulo Tovar e Nicolas Behr, anos 70 do século XX.

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS – TEXTOS EN ESPAÑOL


SÓTERDespués.  Brasília: Edições de Bar em Bar, 1987.  24 p. Traducción de Irene F. Becker. Capa de Eduardo Carreira. Impressão da capa: Oficina de Serigrafia.  Edição  bilíngue português – español.  .  “ José Luiz do Nascimento Sóter “   Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

"lar doce lar"

 

meu pomar é Brasília

e não quero mais:

caminhar pela grama

passarinhar frutíferas por ai

passear pelos passeios da cidade

sentir-me leve

planando no solo

e ainda chegar a tempo

de viver

e ver no que que dá.

 

 

"lar dulce lar"

 

mi huerta es Brasília

y no quiero más...

caminar por la grama

pajarear frutales por ahí

pasear por los paseos de la ciudad

sentirme leve

planeando en el suelo

y aún llegar a tiempo

de vivir

y ver en lo que dá.

 

 

você foi mais que isso

talvez mais que aquilo

o que não sei precisar

mas, eu sei por exemplo

sentir cheiros de festa campesina

ao queimar da grama aparada

e fico feliz ao saber

que pelo menos você

tentou o que quis.

 

 

usted fue más que esto

quizá más que aquello

lo que no sé precisar

pero yo sé por ejemplo

sentir olores de fiesta campesina

al quemar de la grama podada

y me quedo feliz al saber

que por Io menos usted

intentó lo que quería. 

 

transição

 

pelo retrovisor

o breu me persegue...

as paredes da noite

delimitam o mundo

à claridade dos faróis.

 

transición

 

por el retrovisor

la oscuridad me persigue.

las barreras de la noche

delimitan el mundo

a la claridad de los faros..




CANDANGOIANOS, NA POÉTICA BRASILIENSE / organização José
Sóter.  Capa: Sobre o quadro Campo de Espinhos, do artista
Lemuel Gandara (escrito com tinta do Pequi). Projeto gráfico do
capista Potyguara Pereira Netto. Miolo: projeto gráfico e diagramação
de Alex Siva. Organizadores: Sóter, Augusto Niemar, Salomão Sousa.
Brasília, DF: SEMIM 2024.   116 p.  ISBN 978-85- 980743-6-4
No. 10 203
Exemplar biblioteca de Antonio Miranda, doação de Salomão Sousa.


       
SEMPRE
          
Sempre abdiquei de poderes 
         e sempre fui solitário
         Com essa decisão
         Sempre entendi os poderes
         Como uma concessão

         e... quem inventou o poder?!!
         Ninguém, absolutamente!
         Pode me conceder um poder
         Ninguém acima de mim
         De mim, ninguém abaixo.

         Mas, descobri um poder que me seduz:
        O da sedução.
        Para mim, um poder duvidoso:
        Será que a minha solidão
        Há de atrair alguma seduzida?

        Será que ideias libertárias
        Atraem quem se submeta
        A uma relação de trocas?

        É, acho que sou o sem graça
        Que não causa risos.

       
raízes

     
Não há saída
     
Que não seja
      Pelas raízes
 
      Tudo será artificial
      Técnico e acadêmico
      Sem raízes

      O desafio popular
      O medo da vida
      Só, com raízes

      As âncoras
      A bússola
      São as raízes

 

*
Página ampliada e republicada em novembro de 2024

 

Página publicada em outubro de 2008; ampliada e republicada em julho de 2011. Ampliada e republicada em maio de 2015.



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