ROBSON CORRÊA DE ARAÚJO
Sua prosa poética ou seus mini-roteiros de curtas metragens são dignos de atenção. Paulista de nascimento, com jeito de mineiro, Robson vive em Brasília. Autor de dois livros – Azul no Branco (2003) e Curtas (2004) e já com um terceiro em fase final de projeto gráfico, conforme nos informou no 1 Festival de Poesia de Goyaz, em março de 2006, onde tivemos o prazer de encontrá-lo.
Robson montou exposições que estiveram expostas durante todos os dias do ano, em diferentes espaços culturais de Brasília, em homenagem ao centenário do mestre Oscar Niemeyer, culminando com sua participação especial na Fotoarte 2007 e no Museu Nacional de Brasília.
PUNCTUMSTUDIUM – blog de
ROBSON CORREA DE ARAUJO desde junho 2006:
http://punctumstudium.blogspot.com/
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
AMIZADE, JADE...
Talvez sejas um hábil negociante
Talvez Alves, Álvares...
Mas, assim como a água e o óleo...
A poesia e o negócio...
A filosofia e as finanças
não andam bem de mãos juntas...
São os meus três pontos...
São... Sadios três pontos...
Nossa história ninguém lerá
Não te preocupes,
não vamos ficar para a posteridade...
Mas não posso fazer vista grossa
a estes três pontos...
Fico assim
Deixo assim por terminar:
Sem falar, sem calar,
e sem mais alaridos...
FOTOGRAFIA
Se a luz faz curvas,
a palavra faz curvas
para dizer que a natureza é bela
Vela, linguagem do meu barco,
singra um oceano de palavras vazio
E, num malabarismo atormentado,
digo que, ainda assim,
é belo o meu navio
Fio o poema abstrato para dar luz
a quem pode estar
nas trevas de um mar de palavras
mortas,
e já não sabe o compromisso
que tem com a vida
Roda, corta e coloca a imagem
dentro das retinas tortas
Já posso fotografar a porta
Pensamento circular,
num rodopiar agonizante,
faz com que eu tenha a necessidade
de tomar a decisão errada
Quero ser dono deste leme,
nem que para isso tenha que...
Reme, reme, reme...
Não treme ou perderás o foco
Clic!
FERREIRO
Escrever é cortar palavras?
— Corto.
Lavro e cravo,
no arco do portão de entrada:
— Entrem!
— Sejam bem-vindos
ao meu mundo de palavras!
Em caracteres garrafais,
parlo em diagonais, verticais,
horizontais ou l,
num salto monumental...
Por caminhos claros e escuros,
jogo tudo por cima do muro,
sem me importar com quem passa,
com quem laça...
Contanto que o meu quadrado fique
limpo
Sou o carrasco do meu quintal,
num latido latim grego de um pardal...
CALÇAS CURTAS
— O pátio do colégio era tão grande
quanto a praça pública,
o circo era tão colorido
quanto o pirulito pelota,
e o quebra-queixo grudava nos nossos dentes,
a rapadinha fazia doer,
e o picolé escorria
para dentro de nossas blusas..
CRIMINOSO
— Soltei balão em Brasilândia de Minas,
o Mané soldado foi lá em casa reclamar,
minha tia deu um susto nele.
E o Beto Peleco mandou
ele ir tomar uma pinga.
Ele foi...
DEDAL
— A mãe bordar,
pano de prato,
vestido de bule,
saia de bujão de gás;
— Ninguém pintou
quadro mais belo...
INFÂNCIA
— Jogávamos uma espécie de vôlei,
separados por um muro
que não nos permitia ver onde caía a bola
no campo adversário
Casas geminadas em São Miguel Paulista.
VÍCIO
— Quem me viciou
em café com leite e pão com manteiga?
— Meu vício mais antigo...
A, b, c
Uma bolinha, e puxa a perninha,
dizia a minha Madrinha: a
— Uma tesourinha e corta: t
— Sobe o morro e desce,
E um pinguinho: i
O erre de rato já não sei mais
como me foi ensinado
Só me lembro do rato
que roeu a roupa
do rei de Roma:
Robson
E este Robson?
Será que significa um ladrão de som?
Mais uma bolinha
e puxa uma perninha:
outro “a”
Ou, uma bolinha,
sobe o pauzinho,
desce e puxa outra perninha: d
Só uma bolinha
e fui atirado
no mundo das minhas letrinhas!
Dom
O sangue do cavaleiro da triste figura
banha o chão
A paisagem se distorce nas retinas azuis
E, das fezes do cavalo,
eclodem os guardas-chuva da morte...
Flor de lótus?
— Seiva e sangue
Ilusão de vida e morte.
— Na secção da página...
— No corte...
— Esgota a luta...
ARAÚJO, Robson Corrêa de. CURTAS. Brasília: Edição do Autor: 2004. 113 p. 16 x 12m5 cm.
“Vamos curtir os curtas do poeta-cineasta :”
Amizades
— Sempre precisei um segundo,
lado a lado, todo dia.
— Não duravam muito.
Canetando
— Se ela só vai, é uma.
Se ela vai e volta,
são muitas na mesma trajetória:
caneta!
Dedal
— A mãe bordar,
pano de prato,
vestido de bule,
saia de bujão de gás;
— Ninguém pintou
quadro mais belo...
Minas
— Um lago mar
Córrego de martim pescador
Saco de estopa de pocinho em pocinho,
lambari, piaba...
Oficial
É preciso tomar muito cuidado
com a Constituição,
para não ter quer dizer:
Inconstitucionalissimamente.
Um pedaço de Brasil
— Os meninos e os homens
trabalham o dia todo na roça
com rapadura, farinha e água.
Quando tem almoço,
é feijão com toicinho e rapadura...
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“Só o Robson Araújo para arrancar este som semi. Para estas captações óticas da cor. Por jamais afastar-se do cotidiano consegue integrar-se a estas sensações semi-óticas. Não se afasta das palavras, dos ruídos, das asperezas das folhas. É um ser aproximativo, sempre em zoom sobre as superfícies. Sempre em zoom para dentro das pessoas. Onde for visto, está buscando inserções.”
Salomão Sousa
“Ao mesmo tempo em que acaricia nosso idioma com palavras já familiares aos nossos olhos e ouvidos, chama atenção pela surpresa do neologismo.”
Orlando Brito
Descôco
Abiu, bom, carnudo, doce
Escondido foi gula
Há infância
Janeiros k lidos
Mais naus
Ontem
Passado
Quadro radiante
Simples tom ungido
Vão
Water-closet
Xeretar y zipper…
Sêmen
Absinto boldo
Cada dano ebulição
Fado garganteado
Hein?
Idem jiló, kiwi, losna:
Menu nativo
Obediência patológica
Quanto ritmo
Sal-gema tabu
Urtigo
Vacina
Word
Xícara y zoossemia
Extraídos de Y Semiótico. Brasília: Edição do Autor, 2006.
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traduções de
AURORA CUEVAS CERVERÓ
AMISTAD, JADE
Tal vez seas un hábil negociante
Tal vez Alves, Álvarez...
Pero, aspi como água y aceite...
La poesía y el negocio...
La filosofía y las finanzas
no caminan de la mano...
Son mis tres punto...
Son... somos tres puntos suspensivo…
Nadie leerá nuestra historia
No te preocupes,
No entraremos en la posteridad...
Pero no puedo hacer la vista gorda
a estos tres puntos...
Quedo así
Dejo así por terminar
sin hablar, sin callar,
y sin más gritos…
FOTOGRAFÍA
Si la luz hace curvas,
la palabra hace curvas,
para decir que la naturaleza es bella
Vela, lenguaje de mi barco,
navega un oceano de palabras vacío
Y, em um malabarismo atormentado,
digo que, además así,
es bello es mi navio
Fijo el prisma abstracto para dar luz
a quien pueda estar
en las tinieblas, de un mar de palabras
muertas
y ya conoce el compromiso
que tiene con la vida
Rueda, corta y coloca el imagen
dentro de retinas tuertas
Ya puedo fotografiar la puerta
Pensamiento circular,
en un rodar agonizante,
hace que tenga necesidad
de tomar la decisión errada
Quiero ser dueño de este Timon
aunque para eso tenga que...
Remar, remar, remar...
No te muevas o perderá el foco
іClic!
HERRERO
¿Escribir es cortar palabras?
—Corto.
Labro y clavo,
en el arco de la puerta de entrada:
—іPasen!
—іSean bienvenidos
a mi mundo de palabras!
En caracteres enormes,
parlo em diagonales, verticales,
horizontales y en l,
en salto monumental...
Por caminos claros y oscuros,
lanzo todo por encima del muro,
si importar quién pasa,
a quien enlaza...
Con tal de que mi cuadrado quede
limpio
soy el verdugo de mi pátio,
en un ladrido latin griego de un gorrión...
Antonio Miranda e Robson Corrêa de Araújo numa parceria criativa.
Brasília, 9 de julho de 2011.
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