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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



PEDRO GONTIJO


Pedro Gontijo Menezes nasceu em Brasília, em 1982. Desde pequeno é apaixonado pela história e geografia, e também pela música. As duas paixões, juntas em sua poesia, ainda o acompanham: formou-se em Relações Internacionais na Universidade de Brasília, em 2005, e toca clarineta.

Conquistou o 1º lugar no Concurso Laís Aderne de Literatura, gênero poesia, em novembro de 2007, com a obra "O pastor leviano".



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Quisera eu estar ao teu lado, dona de palavras
brincando com elas como se fizesse prosa
como se fizesse garoa
sobremesa de goiabada, vôo de pipa
passeio de metrô.

Dona? antes mestra
e serva das que não se deixam domar
só apreciar, poéticas
como é próprio de todas as palavras.

Palavras? antes musas
a suave mística de estar sem ser
fingir sem que seja preciso
errar sem ter ao menos necessidade
senão a de errar.

Errar? antes amar
que não é senão errar sem medo
servir sem senhorio
andar pela cidade (ou pelas minas, planaltos)
apenas pelo prazer de andar.

E nisso és mestra, poetisa
das palavras, das minas e das gentes
da liberdade, ainda que tardia
do que vês, do que pensas, do que sentes
da prosa fina, poesia arredia
e da vontade sem receio de aprender.

Brinca comigo, simples servo
das palavras, musas, erros, amores
todos pomposos, impávidos senhores
do meu escrever e prosear
com goiabada com queijo, garoa fina
passeio de metrô, vôo de pipa.


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Oxi, dirá, contar mutretas
só de olhar do parapeito
da rodoviária.

Lá elas passam
feito formiga
de formigueiro pisado.

Andam de lado
sem disfarçar
a sem-vergonhice

E impressionado
contará as peias
pesteando o ar.

Calma, velho
não é só de arrombo
que se faz o dia.


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Ainda que queira perder-me
Faça com a clareza dum beijo
que não mente, atrasa ou faz-de-conta
e só compraz a que apronta a alma

Perca-me baixinho, melhor, em silêncio
De beijo calado
Não faça lampejo, não dê volta e meia
Tome o ensejo firme e perene
obstinada

A nada permita que não me faça perder
Decidida, fatalmente perca-me
Invariável, eternamente perca-me
Faça-me perder, num repente, sem que eu perceba
e me arrependa.


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Eu, retiro dos que amo
De íntimo ansioso por acolher
Alma abrigo de almas.

Espero, se já não esperasse
A porta a bater, o suspiro a sussurrar
Os olhos, sinceros, a deitarem-se aos meus

Não movo contudo
e não busco e não penso
A mente distante, o coração alhures
e os olhos agora sem terem onde pousar

Eu, recanto de minha alma
pastor relapso e leviano.


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Soltei o amor para correr livre e ele largou-me
Entretido com as sementes emplumadas que suspendiam no ar
Esqueceu-se de meus dedos entrelaçados, minha barba meio deixada
Da minha música de ninar
Dormir era a última coisa que se passava na cabeça do amor.

O amor rolava na grama, e molhava os tornozelos no regato
E subia na árvore, e comia jabuticaba
Feliz da vida
As pedras ele quicava no lago, com os caroços dava cusparadas
E mais cantava e mais ria sozinho

E eu, eu vi as plumas no céu qual estrelas
Constelação dançante, sem lua
E lembrei-me do amor

E cansei-me sem valer a pena
E compus melodias só aos meus ouvidos
E molhei os tornozelos na água.


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Pensando bem, sozinho
era tenramente livre
como se estivesse de braços abertos
sem fechar os olhos.

Liberdade tenra e pesada
como uma chuva a cair esquisito
lastro descompassado com cheiro de terra.

Dos braços soltava-se
como se solta dos livros ao fechá-los
da prosa ao contá-la
dos amigos ao abraçá-los
solto, sorvido em besteiras
feliz de tudo.

Via, e olhava, e via outra vez
a carranca da cidade
com os olhos de dentro
Porque não podia fechá-los
porque não conseguia fechá-los
de tanto que havia de ser visto.
Pensava bem, e mal se via
por todo lado, numa vontade imensa
de correr, docemente livre
abrindo arregaçadamente
os olhos do mundo.

 

 

1o. Prêmio Cassiano Nunes - Concurso Nacional       de Poesia - Seleção 2009.  AntologiaOrg. Maria de Jesus Evangelista.  Brasília: Universidade de Brasília -Biblioteca Central- Espaço Cassiano Nunes, 2010.    152 p.     14 x 21 cm.             Ex. bib. Antonio Miranda

 


A MORTE DE RAFAEL ARCANJO

O dia amanheceu sem luz
com fusco de chama de vela
velada estava a janela.

Deitado a meio caminho
da Ladeira da Preguiça
coçava-se um cachorro cansando

O chão de pé-de-moleque
deixou de ralar o joelho
da correria da molecada.

E o resto da enxurrada
Da chuva da última noite
Unia os paralelepípedos.

Os sinos da igreja matriz
chorosos que estavam, de bronze
não viram o dia nascer.

E o domingo, aquelas vida besta
de vela defronte o oratório
sequer lhe deu as caras.

Os tapetes de milho e serragem
Sussurraram o batuque triste
do Reisado daquele ano.

A folia em honra à Virgem
e à procissão do Triumpho
perderam-se e se confundiram.

Em casa não houve abrição
bateram à porta surda
a vela num repente apagou-se.

As asas de pedra partiram-se
partiu o anjo do oratório
uma imagem barroca a menos.

 

*

 Página ampliada e republicada em abril de 2022

 

 

 

Página publicada em agosto de 2008



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