PAULO TOVAR
(1972-2009)
Vindo do interior de Goiás, Paulo Tovar chegou em Brasília em 1972. Na escola Elefante Branco, conheceu alguns dos nomes que viriam a formar a primeira geração de artistas da cidade. Nas superquadras do Plano Piloto, encontrou o caldo que alimentava a nascente identidade brasiliense. Inspirado pelo movimento Geração Mimeógrafo, uniu-se ao grupo, mais especificamente ao poeta José Sóter, para publicar e estimular a cena literária candanga. Foi poeta andarilho, mas deu início à jornada artística nos anos 1980, no Concerto Cabeças, que acontecia na 311 Sul.
Tovar fez poesias, músicas, parceiros, deixou filhos, amores, venceu festivais, criou polêmicas, plantou árvores e deixou a vida em 2009. (...)
Texto e foto extraídos de http://brasilia.memoriaeinvencao.com
TOVAR, Paulo. lave leve leave love me . Brasília, DF: SEMIM Edições, 2018.
N. 09 528
Caixa incluindo 4 folhetos:
. 40 ANOS DE POESIA. 8 p. Inclui texto escrito por Sóter – Zé Nobre.
. TIRO AO ALVO. Reedição de “livrinho escrito / mimeografado e disparado na cidade de brasília em novembro de 1979.”
Selecionamos os textos a seguir:
atire este livrinho
no dia de são nunca
e não diga a ninguém
que hoje é sábado
amanhã é domingo
e que segunda-feira
ninguém mais tá sabendo
que dia é que vai ser
***
atire o livrinho
lá naquele rio
se aquele rio for o rio
que passou em minha vida
eu não estou mais vivo
me afoguei
há muito tempo
***
atira ele
no congresso nacional
se ninguém disser nada
não se acanhe
o silêncio lá
vem de longa data
. A Feira [ reproduz “livrinho” editado originalmente em Brasília, em 1978]
Selecionamos os textos a seguir:
Ultimamente
A felicidade vem na mesma medida
Em que as prestações acumula.
(A longo prazo)
***
Atire a primeira pedra
Quem nunca tomou coca-cola
Quem nunca usou talco Johnson´s
E nem viu filme americano
Atire a primeira pedra
Quem nunca contou nos dedos
Quem nunca teve saídas
Quem sempre teve saídas
Ou tenha visto a balança
Tender ao lado contrário
Atire
Depois esqueça se for capaz.
. furo na lona : POESIA PAU BRASÍLIA
[ reproduz folheto FURO NA LONA – poeminhas de curta-metragem
da série “correr o mundo”, de 1980]
trapézio das palavras
porque é que eu não me dependuro
na letra ó, dou um salto mortal
sobre a palavra vida, e nunca mais
desequilibro sobre a palavra TALVEZ?
***
teve um dia, no circo
que o poeta pegou fogo
não havia bombeiro
não havia borracha
que apagasse este poema
da minha memória
CANDANGOIANOS, NA POÉTICA BRASILIENSE / organização José
Sóter. Capa: Sobre o quadro Campo de Espinhos, do artista
Lemuel Gandara (escrito com tinta do Pequi). Projeto gráfico do
capista Potyguara Pereira Netto. Miolo: projeto gráfico e diagramação
de Alex Siva. Organizadores: Sóter, Augusto Niemar, Salomão Sousa.
Brasília, DF: SEMIM 2024. 116 p. ISBN 978-85- 980743-6-4
No. 10 203
Exemplar biblioteca de Antonio Miranda, doação de Salomão Sousa.
furo na lona (1980)
todo mundo vai ao circo
menos eu
fico de fora
vendo a pipoca do pipoqueiro
pipocar dentro da panela pipocante
como se aquela pipoca que pipoca
fosse muito mais
do que a panela, do que a pipoca
e do que o pipoqueiro
uma pipoca é uma pipoca
pipoca pouca é pipocagem
ninguém dá bola pra minha pipocagem
ninguém dá bola pra minha
pipoquice
Página publicada em junho de 2018
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