MARGARITA PATRIOTA
Margarida Patriota é escritora membro da Academia Brasiliense de Letras. É autora de 28 livros ao todo, incluindo o infantil Uma voz do outro mundo – agraciado com o Prêmio João de Barro, em 2006 – e o romance Enquanto aurora. Recebeu também o prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) por sua tradução de O Fantasma da Ópera. Em 2015, lançou o romance juvenil U Yara, Rainha amazona, uma fábula feminista que expõe o machismo às avessas. Em 2016 publica mais dois livros: as melhores entrevistas do programa Autores e Livros, na Rádio Senado Federal, que produz e apresenta há 18 anos, e uma nova tradução de Washigton Square, de Henry James. Fonte da biografia: www.bn.gov.br
PATRIOTA, Margarita. Laminário. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017. 112 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-421-0548-3 Foto da capa: Ana Magliari.
Ex. bibl. Antonio Miranda
INVESTIDURA
Professo o avesso do falso
O semigrito, o semirriso solfejo
Na partitura, o peso do embarque
Do aval mundano abdico
Vassalo no claustro da arte
Nudez, pleiteando agasalho
Renego o blefe aziago
Ao apelo falaz resisto
Adoto o hábito monástico
No altar marmóreo da juras
Aceito o sólio da escrita
E os sinos tocam perpétuos
FRACASSO ZEN
Enquanto me discutem
Como se eu estivesse alhures
Em mim sublimo
O bate-boca e a sanha
Enquanto me atribuem
Penca de erros e manhas
Repito mentalmente
Um mantra indiano
Enquanto me incriminam
Manobras vis e ardis
Desligo o pensamento
Como um monge tibetano
Mas tanto me infamam
Falho em atingir o Nirvana
NOTA A UM JOVEM POETA
Suprima flores
Anéis de ouro
Perfumes, sedas
Bombons
Não se derreta
Não se enterneça
Não lisonjeie
Não se engalane
Não entre em Igreja
Não creia em alma
Não busque aura
Não sopre beijos
Respire fundo e cuidado
As musas de hoje surpreendem
IDÍLIO
Salpicam os verdes do passeio
Pingos lilases no cimento
Pingos lilases no cinzento
Tal na pintura pontilhista
Qual na pintura impressionista
Tons quaresmeiros bruxuleiam
Pingos lilases pitorescos
Pintam a trilha com mestria
Nossas mãos dadas, a obra-prima
AÍ É QUE SÃO ELAS II – Poesia feminina atual. Organização: José Luz do
Nascimento Sóter. Brasília, DF: SEMIM Edições, 2024. 183 p.
ISBN 978-65-980743-5-7
Exemplar da biblioteca de Salomão Sousa.
Tempo de delação
Vi o sopro embaciar o vidro
Para o dedo traçar o bafo
O coração do amor proibido
Vi a ponta do punhal
Escarchar o tronco adusto
Riscar o manacá que eu amava
O sol inflamou o céu
Não prestou qualquer socorro
Nem se importou com isso
Dentes rasgaram carnes
Desmembraram gomos
Deceparam cachos, que eu vi
Flagrei a noite atropelando o dia
Pelotões de nuvens ladras
A assaltarem o luar
Vi a neve deflorar a campina
A hera assediar o muro
O mar abusar do penhasco
Vi sem asco o que delato
Antes que prescreva em juízo
O ardor dos fatos
Integração
Deixo-me ir, aonde as pernas
Não me levariam, se pensassem
Aonde as crenças, forasteiras
Na coleira me conduzem
Em direitos e avessos
Encontro bolsos para as mãos
Mãos para perdão
Perdão para recomeços
Deixa-me ir, aonde não pertenço
E sem pertença permaneço
Por fraco espírito de facção
Mais empatia irreprimível
Com os muitos ângulos da ilusão
IMPORTANTE
NO livro AÍ É QUE SÃO ELAS II estão outros poemas de
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Página publicada em novembro de 2024.
Página publicada em junho de 2017