MARCOS FREITAS 
             
             
                
             Marcos  Airton de Sousa Freitas nasceu em Teresina, Piauí,   em 1963. Engenheiro Civil 
            pela UFPI. Professor e pesquisador da Universidade de   Fortaleza, desde 1990, onde criou 
            o Grupo de Pesquisas em Recursos Hídricos,   Meio Ambiente e Computação Aplicada. 
              
            Ministrou aulas nos Cursos de Pós-graduação   em Engenharia de Software, Gestão 
            Ambiental e Gestão de Recursos Hídricos. Tem   mais de 60 artigos publicados em revistas 
            e anais de congressos nacionais e   internacionais. Consultor na área de meio ambiente e 
            recursos hídricos.   Atualmente, ocupa o cargo de Especialista em Recursos Hídricos da  
            Agência   Nacional de Águas – ANA. 
               
             Poeta. Contista. Letrista. Participa em Brasília do   Coletivo de Poetas. Lançou, em 2003, o 
            livro de poesia “A   Vida Sente a Si Mesma”. Em 2004, na XXV Feira do Livro de Brasília, 
            lançou “A   Terceira Margem Sem Rio” (poesias). Tem inéditos os livros de poesias “Moro    
            do Lado de Dentro”, “Quase um Dia” e “Quase mais um Dia”   (poesias), além de “Staub   
            und Schotter“ (poesias em alemão). Participou da Antologia de Poesia, Contos e Crônicas 
            Livre   Pensador (Editora Scortecci, 2003), Antologia de Poetas Brasileiros   Contemporâneos  
            Nº 04 e 24 (CBJE, 2004 e 2006), Panorama Literário Brasileiro   2004/2005: As 100 
            Melhores Poesias de 2004 (CBJE, 2004) e Antologia de Contos de   Autores 
            Contemporâneos (CBJE, 2005). Premiado em 1º Lugar no II Concurso de   Poesia do 
            Terraço Shopping, Brasília – DF, 2005. É verbete no ‘Dicionário   Biográfico Virtual de 
            Escritores Piauienses”, de Adrião Neto, 2004.  
             
             
             
            
              
                
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            FREITAS, Marcos.  Pedras encastoadas.  Poemas novos e relacionados (2008-2023).  Editor : Antonio Clauder  Alves Araujo  e David de Medeiros  Leite.  Mossoró: Sarau   das Letras Editora Ltda, 2023.  260 p.    ilus.   ISBN 978-65-86269-75-8  
                                                             Ex. bibl. de Antonio Miranda 
   
             
                            Lições do Verde 
               
                i. 
                no gramado verde 
                         ferrugíneas  plumagens 
                jacupembas em bando 
   
                ii. 
                na porta de saída 
                          um casal de saí 
                azulverdeia o dia 
   
                iii. 
                pés na água 
                          do riacho  Taboquinha 
                borboleta azul em círculos 
   
                iv.  
                o riacho da Cerca 
                           seca 
                poça a poça 
   
   
                Cerrado 
   
               o  óleo do buriti 
                 embreja-se em minha pele. 
                 o shampoo do jaborandi 
                 penetra-me as raízes dos  cabelos. 
                 a borracha da maniçoba 
                 cola-se à minha vaga  mente. 
   
                  no que sobrou do cerrado, 
                  a juriti canta seu canto  triste e derradeiro. 
   
                  o azeite de pequi 
                  impregna arroz e versos. 
                  a infusão do barbatimão 
                  lava-me o estômago e  cicatriza a alma. 
                  os fios do capim dourado 
                  amarram-me a ti,  definitivo e inteiro. 
                   
                  no que sobrou do cerrado, 
                  a juriti canta seu canto  triste e derradeiro., 
   
                            (musicado por Liege Fonseca)  
             
             
            
            REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL.  No. 8– jan./jun. 2022. Editor:  Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína,   2023. 160 p. ISSN 2674-8495 
              
                     
        cobra-cipó 
   
         sobre a folhagem seca 
        rasteja a cobra verde 
        a sabiá — em vivo rasante —  bica-lhe a cabeça 
         
   
        amiúde 
   
         nem bem amanhecia o dia 
        o vim-vim já cantava 
        sua toada recorrente 
   
   
        haboo  no meu cerrado 
   
         nuvens de poeira 
        agigantam-se por cima 
        de prédios, cidades, campos e  gerais 
   
   
        metaverso 
   
        o que restará na prateleira 
        das memórias? 
        da chaleira, a fumaça — em círculo  — 
        desvela um café torrado em grãos. 
        continentes intransponíveis de  resíduos tóxicos 
        acumulam-se nos oceanos, pântanos,  desertos e rios. 
        no quintal, avatares de vaga-lumes 
   
                                                             reluzem 
                                                             na noite 
                                                             fria 
   
        uma vez  outono 
   
       outono novamente 
       longos dias de céu azul 
       nos espreitam 
   
   
       fissura 
   
        minha pele 
       estendida ao relento 
       urra palavras 
       e gemidos de dente 
   
   
       mísseis  hipersônicos 
   
       os surdos 
       senhores da guerra 
       de alma crua 
   
                          e nua 
                          em plena rua 
   
       sempre 
       sempre 
       sempre 
       erram o alvo 
   
   
       no  outeiro 
   
         a floração do ingá se dá ao  zumbido das abelhas  
        e ao recalcitrante lampejo das  despedidas 
        das rumorosas chuvas 
   
        bem se vê que — doravante — 
        nos azuis duradouros dos dias 
        as friagens das noites se farão  reinar 
   
        as formigas seguem em suas trilhas 
        e o capim orvalhado pende 
        balouçando 
   
   
        postcards/haicais  
   
   
        1.  
   
        nas quadriculadas e numeradas ruas 
        na foz mansa do grande rio: 
        platitude. La Plata 
   
   
        2. 
   
        quilhas de 
        Guaiquil 
        defronte ao Arquipélago de  Galápagos 
   
         
        3. 
   
        Calle de los Suspiros 
        Colônia de Sacramento: 
        farol do sul 
   
   
          Indo à  Salta 
   
          lâminas de  luz 
         riscam as montanhas 
         no pôr do sol em Tucumán 
   
   
         Jujuy 
   
           não vi o trem para as nuvens 
         pouco importa: 
         vi o trem e ouvi as nuvens 
   
   
        Próximo  à Barragem Escaba 
   
          o quero-quero anuncia 
         — tal qual lamento ao massacre de  Trelew — 
               
          o fim  triste de mais um dia     
   
   
         deu para sentir o cheiro do mar 
   
          deu para sentir o  cheiro do mar, 
         batendo nas pedras do Cais Bar. 
   
         — Baleia, uma cerveja gelada, por favor. 
         — ah, tá! atendo você hoje não. 
   
         (Alano Freitas toca no velho  piano). 
   
         deu para sentir o cheiro do mar. 
         batendo nas pedras do Cais Bar. 
   
   
           vegetal 
   
           tornei-me seco, 
           mas, com o aviso 
           das primeiras chuvas, 
           acompanho os cactos 
           que medram nas rochas. 
   
   
           Anoitecer em Seul 
   
             Luzes de neon tateiam  as fachadas 
           espelhadas de prédios. 
           Luxuosos e possantes carros  despejam 
           potência nas ruas cirurgicamente  limpas. 
           Muitos jovens, nos bares de  Gangnam, 
           entre dozes de soju, deleitam-se 
           com pedaços de frangos fritos,  enquanto 
           outros retiram suas máscaras 
           anticovid para fumar em pé, no  canto 
           de fora, rente ao meio-fio. 
           O templo budista Bongeunsa 
           permanece ali, nos seus mil e 
           duzentos anos, observando a tudo  e a todos. 
              
             
             
                     Samjok-o 
               
            na Yeouiseo-ro 
           o róseo 
           na primavera de sol 
   
   
           Líridas 
   
           chuva de meteoros 
           no céu noturno 
           e taciturno de outono 
   
   
            massa de ar de alta pressão 
   
           plumagem de frio roçam a pele 
           desprotegida de sonhos: 
           aragens frescas polares  
   
           na relva cristalizada 
           treme destroços de pensamentos 
   
           sucumbo ao desencontro de nuvens 
           botas acolchoadas 
           aquecem os pés 
           no caminho porteira afora, 
           mundo afora 
   
          cá dentro, enrijeço ossos e  medula 
          alinho metas 
          desalinho sons do céu: 
          yakecan 
   
          entre o fio e a dor 
          estendo ao tíbio sol 
          todo amor 
             
             
                        
          Ferro dos Currais 
   
          se na Serra dos Curral  a casca do buraco 
          — Espinhaço do Curral del Rey — 
          não é vista pelo lado de Belo  Horizonte, 
          nos Currais novos do Piauí o  buraco 
          é ainda um grandioso projeto 
          a aportar no Porto do Suape, em  Pernambuco. 
   
   
   insignificâncias à moda de Manoel de  Barros 
   
   quando tentava ser perfeito, 
   parecia ser petulante, arrogante,  inacessível. 
   assim, pus-me a ser displicente,  desconexo, descontraído. 
   muitos têm medo do incompreensível. 
   fiz-me, pois, como uma folha, 
   um grilo, uma porção de terra, 
   um bicho qualquer, um ser 
   um grão de nada. 
   
   
   coreto poético-musical 
   
   a matéria e a coar se definem 
   como texturas de palavras no ar 
   nos sobretons da magia estelar 
   refletida no aquarelado chão 
   
   segredos pincelados no branco 
   de chumbo, pigmentados, 
   nos solos de guitarras 
   reverberando versos, 
   no férrico azul prussiano 
   paisagem lápis-lazúli 
              
             Esqueleto  social em obra 
               
   No pó do cimento e na areia  grossa 
   desfilam a dureza do escalar do prédio. 
   Pedreiros e mestres de obra em ação, no  esquadro da perfeição. 
   
   O nhoc! Nhac! da betoneira, no engolir  da argamassa trivial. 
   O dzzzt! bzzzt! sa solda elétrica  trazendo clarão. 
   O blem! blem! do desempeno da chapa  metálica. 
   O clunc! plunc! do tijolo caindo ao  chão. 
    
   Sinfonia silenciada, tarde da noite,  pula-se a derradeira poça 
   de esgoto a céu aberto, da rua próxima  de casa, 
   para o rápido descanso até a madrugada  fria do dia seguinte. 
             
             
            
            REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO  BRASIL. Ano 3,  No. 6  jul./dez., 2021.          Diretor  Flavio R. Kothe.  Brasília, DF: Editora  Cajuína/Opção editora, 2021.  146 p.              ISBN  2674-84-95  
              
                     
                    sem contraindicações 
               
            palavras,  versos, 
          sonhos,  cores: 
          alívio  certo para as dores 
   
   
          sofá 
   
            aquele  sofá emprestado, de dois lugares 
          era  tudo o que dispunha no momento 
          um  tanto pequeno para aplainar o corpo comprido, 
          quiçá  os sonhos distantes 
 
             
               
          prenúncio 
   
           cantos  de cigarras 
          formigas  ziguezagueando em trilhas 
          indícios  de copiosas águas 
   
          rejeitos  
   
           no  vale enlameado 
          a  vida vale quase nada 
          só  a vale vale? 
   
   
   
          ICE 
   
          a  solidão da paisagem 
          descreve  cidades cinza 
          no  correr ligeiro sobre os trilhos 
   
   
   
  O ÚLTIMO JUMA 
              (a colher flores de capim-estrela) 
   
  a pandemia esboroou a tênue torre de esperança 
              famintos tritões engoliram o que restou de praia e selva 
              na entrelinha do dia ressoou lauta vaia ao ano 
              que ainda não terminou 
   
              muitos se foram, entre choros 
   
              a vida (sem saber) corroeu o tempo 
              deitou seus passos no chão 
              deitou manhãs em flores nos vasos 
   
              Amoins Aruká, o grande guerreiro, 
              o último homem do povo Juma 
              partiu para sua longa viagem 
              antecipada pela COVID-19. 
   
              Amoin Aruká, sobrevivente 
              do grande massacre no rio Assuã, 
              1964, bacia hidrográfica do rio Purus, 
              comerciantes invadiram as terras dos Jumas, 
              atrás de sorva e castanhas. 
   
              Amorin Aruká agora silencia 
              e com ele a língua Tupi-Kagwahiva 
              Amorin Aruká e se papagaio estampado em foto 
              de Odair Leal para o mundo dos brancos. 
   
              como previsto, de nada adiantou 
              o tal tratamento precoce 
              a base de azitromicina e ivermectina, 
              no Hospital Sentinela, Humaitá, Amazonas. 
   
              os seus descendentes seguem resistindo 
              na agora Terra Indígena Juma 
              mesclados, porém, aos Uru-Eu-Wau-Wau.  
   
              Amorin Aruká, o grande guerreiro, 
              o último tatuado na face, o risco da boca, a orelha 
              em volta dos lábios 
              as duas metades: mutum / arara araraúna 
              o derradeiro guerreiro Juma. 
   
             
             
              teias  de vida 
                 
              ruídos de tramas 
              enxames de abelhas 
              formigas em trilhas 
   
   
   
  alvorada 
   
  rabiscos 
              de sol 
            na tela do dia 
             
               
               
              torrão  de açúcar 
                 
                desmanchado silêncio 
              na aurora da palavr 
              o café quente cabe no poema 
   
   
   
    fio de azeite e queijo 
   
              um dia de cão 
              daqueles que você amanhece 
              com cara de fotografia no espelho do banheiro 
   
              cansado, abatido 
   
              um dia de cão 
  — como milhares de outros iguais — 
              corre-corre de agendas superpostas 
   
              um dia de cão 
              noite de spaguetti 
  e folhas de manjericão 
   
   
   
  inquilino incômodo em um poder de  
                                                   merda 
   
  varridas vidas em leitos sem oxigênio 
              coisas de doer 
              descoloridas perspectivas 
   
              não mais o almoço de domingo 
              não mais as flores de primavera 
   
              quartos arrumados, mesas postas 
              repousos de pedra 
              inútil vazio 
            e 
                     silêncios 
              sem despedidas 
              
              
            3 mil ao dia 
               
              choros  e lágrimas 
                baque surdo da madeira no barro 
                cicratizes a serem costuradas pelo esquecimento 
   
   
   
    diatonicamente 
   
  nudez no azul do dia 
                há pouco uma chuva fina 
                tocada harpa 
   
   
   
  [a barra do dia irrompe em desatinos] 
   
  a barra do dia irrompe em desatinos 
                absurdez de cores 
            e canto de bem-te-vi na manhã  fria 
                no Japão as cerjeiras floresceram mais 
                cedo 
                aqui a janela do tempo 
                fez-se insana 
            e morredora 
   
   
   
  beat 
   
                o lugar do poema 
                (tese — antítese — síntese) 
  é nos agregados, na argamassa de barro 
                fétida à urina 
                o lugar do poema 
  é abrigo, arco reteso, 
                forma e conteúdo da fala 
                o lugar do poema 
  é sina, oficina, ruas 
                dos que não têm o que comer 
                o lugar do poema 
  é o que não-se-faz, e refaz 
                o lugar do poema 
                              : jazz 
                na batida metálica da vida 
   
   
   
                  Baixa do Chicão 
   
                  ao  Assis de Sousa Mendes Filho 
   
                  as  canas do canavial de meu pais 
               enfeitavam o Domingo de  Ramos 
               na Capelinha de Palha 
   
   
   
                  [algo ainda menino miúdo] 
   
                  sigo  ainda menino miúdo 
               atormentado com a  Num-se-pode 
                   escondida por detrás dos lampiões de gás 
                das Praça das Dores 
   
   
                 xerofilia 
   
                  caatinga, capões, gramael  e seridós:   
                  sigo descalço, riscando a  trilha, 
                  no desvio dos espinhos  das macambiras 
                  embrenhado na mata seca e  branca 
                     entre o cheiro bom do mussambé 
                  e o alaranjado dos  mulungus. 
   
   
   
                  O Vicente da rua  Gabriel Ferreira 
   
                      de dia, coma grande maestria, 
                   fazia pipas  tridimensionais, 
                   que chamávamos de  lanternas, 
                   à noite, com divina  maestria, 
                   tocava meu rimado pandeiro, 
                   compondo sambas  magistrais. 
   
   
   
                    crossover 
   
                         trens 
                     viagens 
                     paisagens 
   
                     gens 
                     cópias de si 
                     em mutação 
   
                      janelas percorrem 
                      o tempo aleatório 
              
              
                  `a luta, pois 
               
          ao poeta Fred Maia 
   
          como está a correr o menino de  Oieiras? 
          a manejar tesouras e serrotes 
          à vara, a coto ou telão 
          nas podas das videiras 
   
   
            
     Rio Itaúnas  
    
     ita: pedras unas de dunas 
     pedra negra 
     negra  dança à beira-rio 
   
     Linharinho nagô: 
     canto iorubá para a branca 
     farinha de mandioca 
     onde o córrego Angelim adentra o rio  Itaúnas 
   
     Rei de Bamba e Rei de Congo  
     versejam e bailam  
     no Ticumbi de suas margens, 
     guardadas por São Benedito. 
   
   
   
      Antares  
   
                   ao poeta e tradutor Haroldo de Campos 
   
      áspera e resistente 
      a casca de um poema 
      estúpida é a dor 
       
                                        coletiva 
      da ignorância brutal 
       no trágico  
                  desatino 
       da agoridade 
       poesia: resistência 
       educação dos cinco sentidos 
   
        
              
                  [a ariramba-de-cauda-ruiva] 
               
          a ariramba-de-cauda-ruiva 
   
         pousou suave 
         no topo do pé de ingá-feijão 
   
         o sol deitou 
         por entre os galhos da árvore 
         seus tons de fim de tarde. 
              
              
            REVISTA DA ACADEMIA DE  LETRAS DO BRASIL 
              Ano 2, Número 4, jul./dez. 2020. Brasília, DF. Editora Cajuína.  138 p.   ISSN 2574-8495 
              
                    claridade 
               
                      a  saudade estica o tempo 
                     passado sabor de  guapeva 
   
                          afeição  aflita 
                          amor  gratuito 
                     paixão pagã 
   
                     espanto 
                     espasmo 
                     óculos de Miguilim 
   
   
   
                      samba de  Oxumaré 
   
                           balacochê do cavaco 
                      no samba de Oxumarê 
                      o samba é 
                      molejo de cintura 
                      e ginga no pé 
   
                      trago comigo 
                      meu patuá 
                      lamento de negro 
                       oferendas a Iemanjá 
   
                       trago comigo 
                       dor e alegria 
                       mistura de raças 
                       destreza e riqueza  de Oxumarê 
   
   
   
       Biribiri 
   
       a capistrana, uma esquiva de angola 
        defronte ao Beco do Mota 
   
        lamentos, alaridos, brilhos  multifacetados de Diamantina 
   
         apitos fabris de Biribiri: 
         tecidos de vida na urdidura da  tarde morna 
         poentes gris de Biribiri: 
         águas correntes movedoras de  moinhos 
          
         Jequitinhonha, jequitibás-rosa em  flor 
         pixídios lenhosos semeando  setembros 
   
   
   
                          ditado  universal 
   
                          diz-me  do dízimo que doas, 
                     que eu te direi: 
                     o bispo tá “de boas” 
   
   
   
                      cinco estrelas 
   
                          senhor  da guerra 
                        o  medo, sabemos, é tua arma mais 
                        poderosa 
                        só  não mais que nossas utopias 
                        transcontinentais 
                        senhor da guerra 
                        teu míssil — um dia — explodirá no vazio 
                        do teu túmulo de  flores amarelas 
                        senhor da guerra 
                        nada, porém nada  impedirá 
                        nossos sonhos de  paz 
   
   
   
                         mais além 
   
                               ao  Munzé (Raimundo José) 
   
                             aquém dos  muros de outrora 
                            além dos medos e desesperanças 
                          aquém da  angústias de crianças 
                          além dos cantos e  das danças 
                          aquém de hoje,  além de amanhã 
              
            
              
                
                    | 
                 
              
             
             
            https://www.visitbrasil.com/pt/destino-teresina-pi/ 
           
               
               
               lagoas marginais do rio Poty 
               
     os aguapés e os sapos não moram mais  nas lagoas 
      os aguapés e os sapos não moram mais  nas lagoas 
      essas quedam soterrada exatamente  onde ergueram-se 
      luxuosos shopping centers e  ventilados apartamentos 
      com varandas amplas, de onde pode-se  contemplar 
      o majestoso por-do-sol, o  resplandecente tapete verde de aguapés 
      sempre bem alimentado pelos esgotos  não tratados 
      os aguapés e os sapos não moram mais  nas lagoas 
      os aguapés e os sapos não moram mais  nas lagoas 
   
   
   
                  vacaria 
   
                  da  vacaria do Angelim — estrada de Palameirais - 
                 vinha o branco leite dia  santo 
                 o galo e seu canto  clareando a manhã 
                 de gente e vasilhames em  fila: nós meninos. 
   
                 * * * * 
   
                   cada dia um de nós a cumprir seu dever 
                  aqueles eram tempos,  tempos de haver 
                  (pai, mãe, algazarras,  meninos, brinquedos) 
                  o creme de leite fresco  gerando manteiga 
                  de se pôr em garrafas 
   
             
              
                             máquinas viventes 
               
                   seremos máquinas viventes 
                definhando-nos dia após  dia? 
                seremos máquinas pensantes 
                destruindo as matas e os  mares? 
                 seremos máquinas viventes 
                 metade bichos, metade  gente? 
   
   
   
                    era só 
   
                    era só retirar o pedaço de sabugo  de milho 
                   da boca da garrafa 
                   — vendida à beira da  estrada 
                   para se deliciar com o  olor doce e suave 
                   do mel da florada de  assa-peixes 
   
                   era só largar a bola  velha de couro 
                   um chão de pedra 
                   — repartir os times — 
                   suar, se sujar e correr 
                   rumo à alegria do gol de  placa 
                    
                   era só quebrar a  castanha de caju 
                   ainda quente 
                   — torrada em lata de  querosene jacaré — 
                   para se saciar do  crocante, 
                   cremoso e agradável  sabor 
                    
                   era só ... 
                   e não éramos sós 
   
   
   
                   nada mudou 
   
                     afinal 
                 o que é hoje o Plano  Piloto 
                 era apenas a Fazenda  Bananal 
   
   
   
                     poemas dadaístas 
   
                            ao amigo Eduardo Estelita (Dada), em  memória 
   
                        * 
                   chuva fina ao pé da  Baleia 
                   Dada: sorriso de menino 
                   haicai de samurai 
   
                   ** 
   
                   riso mágico e enigmático 
                   olhos aguçados no  tabuleiro 
                   antesala do xeque-mate 
   
                    *** 
   
                          farol  rumo ao sol 
                     semeador de sonhos 
                     sons traversos 
   
   
   
        ilha e pântano 
   
 
                  esquecidos entre os pés de erva-cidreira,  garfos, louças 
          : poemas sujos 
   
          ser  lido pedras era o desejo do manoel (tinha barros no nome) 
           inventador de invencionices  inventadas e verdadeiras 
   
   
   
              extradorso do  aerofólio 
                         
                                  para Antonio Cardoso Neto 
   
   
               a pedra nos dá a lição da dureza 
            mesmo assim ela não nos  satisfaz 
   
            pedra: rispidez da água  saltitando no poema 
   
   
   
           citarum river ou plasticidade subjetiva 
   
                           “I do  not know much about gods; but I think that 
                             the river is a  strong brown god”. 
                                                                              [ T. S. Eliot ] 
   
                                  ao artista e ativista ambiental Tisna Sanjaya 
   
            os peixes poluídos do rio Citarum dividem  espaços 
            e oxigênio da água com as pilhas de garrafas  de plásticos. 
            crianças em saltos plásticos  mergulham no meio dos plásticos. 
            crianças em barcos de alumínio  catam, para venda, 
            latas de alumínios e plásticos. 
   
            os peixes poluídos do rio  Citarum dividem espaços 
            o oxigênio da água com as  pilhas de garrafas de plásticos.. 
            nas margens e nos pilares de  pontes agarram-se enxurradas  
                                                                                   de plásticos 
            coloridos, galhos, vasilhames,  carcaças de bois, sofás,  
                                                                            campos de arroz  
            contaminados, turbilhões de  líquidos despejados de  
                                                                            fábricas têxteis.  
      
           os peixes poluídos do rio  Citarum dividem espaços 
           e oxigênio da água com as pilhas  de garrafas de plásticos. 
           quantos outros rios — mundo a  fora — são também rios  
                                                                                 de plásticos?  
   
 
             
                                   
             
             
            
              
                
                    | 
                 
              
             
            REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL 
              Ano1, Número 2, jul./dez. 2019. Brasília, DF. Editora Cajuína.  124 p.   ISSN 2574-8495 
             
             
              
              
                            vendilhões 
               
                  vida 
                  vendida 
                  aos 
                  quatro ventos 
   
                  vida 
                  perdida 
                  em 
                  pouco 
                  tempo 
   
   
   
                  fakes de  valores 
   
                  no  jogo 
                  o blefe 
                  quase sempre 
                  vence 
   
                  (não  demora, torna a perder ) 
   
   
   
                  goiabeira 
   
                     sem  ainda 
                  frutos, 
                  sufocada 
                  por  arbustos e 
                  trepadeiras. 
   
                  é  o que  
                  se via 
                  da janela 
                  junto à pia 
                  de  lavar louças. 
   
   
   
                  curriola 
   
                  bagas 
                  ovala 
                  das 
   
                  piloso 
                  fruto 
                  amar 
                  elo: 
   
                  abiu 
    
              
            zona norte / zona sul (leitura nA Gramna 
               
                                   ao  Edmar Oliveira 
   
   do Alto do Jurubeba 
   defronte às portas talhadas por  Sebastião Mendes 
   avisto o rio 
   e minha rua, partida ao meio 
   
    
   
          cherita  poems 
   
          a  velha senhora na janela 
   
          emoldura  as paredes 
          sem  reboco da casa  
   
          dentro  do lar 
         o cheiro do pequi 
         cozinhando 
   
   
   
           segurança alimentar 
   
          jatobás  floridos 
           
          em  fevereiro de chuva 
          e  também veranicos 
   
          logo  adiante, frutos duros 
          a  gerar farinha 
          no  combate à anemia 
   
   
          .E  mo ri O 
   
          eu  te vejo 
          luz  do sol, som de tambor 
          eu  te vejo 
          água  do mar, canto changô 
   
          negro  som, negra luz 
          negro  canto, negra água 
   
      eu te vejo 
      luz do sol, som de tambor 
      eu te vejo 
      água do mar, canto nagô 
   
      navios negreiros, cais do Valongo 
      caios do Valongo, navios negreiros 
   
   
   
      operadores do mercado 
                     
     em uma esquina do centro  financeiro de São Francisco, Cali- 
     fórnia, um sem-teto, invisível aos transeuntes engravatados de cafés 
            Starbucks nas mãos, migalha  — em silêncio — alguns míseros centavos 
        de dólares. 
                tomo uma cerveja no Caffe´  Trieste 
                folheio livros de poesia na  City Light Bookstore 
                declamo poema na North  Beach Library 
                 ouço o laureado poeta Jack  Hirschman declamar em frente e 
          um bar 
                 na manhã  seguinte,   em uma  esquina do centro financeiro de 
          São Francisco, Califórnia, um  sem-teto,  invisível aos transeunte en- 
          gravatados de Café Starbucks nas  mãos, migalha – em silêncio – al- 
          guns míseros centavos de dólares. 
   
   
   
     flashs and  floods from América 
   
    as águas podres da aurora de  Nova Iorque 
     drenadas e domadas no Central Park, 
    onde todos tomam sol, tiram fotos 
    e  imaginam dias melhores. 
    na terça-feira gorda de New Orleans 
    aiaiás voam sobre o bayou, nos  meandros do Missisipi,  
    eu quero saber, você já viu a chuva? E  a cheia do Katrina? 
    então, no píer de Fairhope, 
    baía de Mobile, lá onde está o SS  Alabama — 
    pescadores alimentam com catfishes 
    o velho pelicano de nome George. 
   
   
   
             questão  de forma 
   
             “o río que passou agora é  lama” 
         [Márcio Borges] 
   
     imagino  ser amorfa bastante a forma, 
     porquanto  a maioria das tragédias 
     ocorre  sempre na forma da lei. 
   
     os  resíduos, empilhados a montante. 
     as  vítimas, enterradas a jusante. 
     os  lucros, acumulados nos bancos. 
   
   
   
                     elfchen 
   
                 lilás 
                 as flores 
                 que eu vejo 
                 no meio da mata 
                 quaresma 
   
   
   
   tiros, tiros, tiros (complexo de  vira-latas) 
   
   tiros em Columbine 
   tiros em Realengo 
   tiros em Parkland 
   tiros em Suzano 
   tiros em Highlands Ranch 
   tiros em Sorocaba 
   tiros em El Paso 
   tiros em... 
   
              ---------------------------------------------------- 
              (ps: nem bem deu uma semana da escrita deste poema, um 
  ônibus transversal da ponte Rio-Niterói) 
   
   
   
   es steht geschrieben 
   
   “O trágico ainda continua  sendo possível, embora não mais a 
   tragédia pura.” Dürrenmatt. 
   
             o  povo não come. 
           sim, ainda há muita fome. 
             sim,  o povo passa fome. 
              
            céu de pirilampos de Quixeramobim 
               
              uauá  do Antônio Conselheiro 
                pirilampos da caverna Ruakuri vagam no céu dos mundos 
                famintos buracos negros supermassivos devoram milhares 
                de estrelas 
   
   
   
                     #15 
                     pisando  o chão das ruas 
                     estudantes clamam por educação 
                                               por educação 
                 por educação 
                 (pode crer) 
   
   
   
     sobre  seiva, transpiração e o silêncio das plantas 
   
                                             para  Wislawa Szymborska 
   
   
      o silêncio das plantas 
      imperceptível              — quase — 
      como a marcha dos neonazistas sobre  os 
           escombros da cambaleante  pseudemocracia 
       alemã 
   
       o silêncio das plantas 
       imperceptível             — quase — 
       como o gafanhoto escondido d´As  Oliveiras 
       de van Gogh. 
   
        as plantas agarram-se à terra 
        fincam profundas raízes 
              
              
                    suspiro 
               
          clarividente, mostro os dentes. 
         é assim que se 
         atesta a qualidade dos cavalos. 
    
         ao primeiro relâmpago 
         seguro o medo e 
         aguardo o miraculosos estrondo do  trovão. 
   
          sorrateiro, murmuro sombras 
         diante da página branca: 
         espelho vazio de mim. 
   
         o agora longevo frio inverno e 
         do céu azul, em breve explodirá 
         em flores brancas de cagaitas e  ipês. 
   
         inocente, irei torcer 
         pelo fim do desmonte 
         da nossa frágil democracia. 
              
            ******* 
             
               
              
              
            TEXT IN ENGLISH- Textos em Alemão - Deutsche 
               
             
            Marcos  Freitas, geboren 1963, studierte in Teresina und Fortaleza (Brasilien),  Göttingen und Hannover (Deutschland) Bauingenierwesen. Von 1991 bis 2018  Lehrtätigkeit als Professor für Bauingenierwesen und Informatik an der  Universität von Fortaleza. Mehr als 30 Gedichte Bücher im In- und Ausland  machten sein Werk auch international bekannt. Er lebt seit 2001 in Brasília. Er  ist Mitglied der National Association of Writers (ANE) und der Brazilian Union  of Writers (UBE).  
             
 
            VERSION FRANÇAISE 
              
            
              
              
            LAVOURA DE GALÁXIAS  
            1. 
              Minha mãe 
              se foi 
              meio sem 
              de mim se despedir. 
              O poeta 
              se fez rouco. 
              O poeta 
              se fez mouco. 
            2. 
              Ser forte 
              era preciso. 
              Não chorar 
              era preciso. 
              Chorei. 
            3. 
              O cotidiano 
              se tornou um vazio 
              entre os meses do ano. 
              O céu, tédio: 
              nuvens de peixes 
              no cinza do rio. 
              Ruas e praças 
              sem nomes nas placas. 
            4. 
              A chave dos sonhos 
              abriu galáxias de estrelas. 
            5. 
              Já não me engasgo, mãe. 
              Apenas com o soluço 
              de tua ida, 
              aos mundos dos ventos. 
            6. 
              O terraço de minha infância 
              há de ser sempre 
              o entreabrir de teu sorriso. 
              (meigo, simples) 
            7. 
              Domingos serão locomotivas de auroras 
              brotando nas roseiras 
              cuidadas no jardim de casa. 
            8. 
              Um dia – sem querer – 
              inventarei de inventar palavras e sons. 
              Quando nasci, chorei. 
            9. 
              As horas (haverá relógio para medí-las?) 
              pátinas de um grande armário 
              repleto de fina porcelana chinesa. 
              Meras memórias de vozes e silêncios. 
            10. 
              Diafragmáticas rotas de ar. 
              (microvilosidades de sonhos) 
              Sopro de espantos, além. 
            11. 
              No sossego infinito do quarto vazio, 
              aonde 
              arrumar doravante teus chinelos 
              embaixo da cama? 
            12. 
              O que coser na velha máquina Singer? 
              Nossas antigas roupas de criança? 
              Dedilha, bem sei mãe, na nova harpa 
              sutis sons de galáxias, 
              estalos eternos de amor. 
            
               
             
            RUA DO BARROCÃO  
            no  quintal da minha infância 
              brotavam goiabas 
              vermelhas, brancas. 
            no  terraço de minha adolescência, 
              entre bolas e bilas, 
              cresciam amizades sólidas. 
            hoje, 
              homem maduro, 
              ainda planto sonhos 
              e aguardo frutos. 
            
               
             
            ESTADO DEMOCRÁTICO DE POESIA  
            que  não se organize a poesia em parágrafos, 
              mas em versos e não versos. 
              que nas intermináveis listas de considerandos, 
              considerem-se todas as formas de poesia. 
              que nunca mais se torturem as palavras. 
              que se abominem as quadrilhas (somente 
              as quadras serão permitidas) 
              que não se dilapide o patrimônio poético nacional. 
              que se preserve o direito da palavra de ir e vir 
              e voar, 
              caso queira. 
              
            
            1ª.  BIENAL DO B – A POESIA NA  RUA.  26  a 28 de Setembro de 2012.   Brasília: Açougue Cultural T-Bone, 2011. 154  p. ilus. col.  17x25 cm.   
              
            
            
              
                
                                 Irreversibilidade 
                     
                    o tempo presente, 
                      presente  de um deus? 
                      o  tempo passado, 
                      passado  sem os meus, 
                      o  tempo futuro, 
                      futuro  para os seus? 
                    
                 
               
             
              
            
               
             
            Traducción por el mismo autor  
            
               
             
              
            CULTIVO DE GALAXIAS  
            1. 
              Mi madre 
              se fue 
              medio sin 
              despedirse de mí. 
              El poeta 
              se quedó ronco. 
              El poeta 
              se volvió sordo. 
            2. 
              Ser fuerte 
              era preciso. 
              No llorar 
              era preciso. 
              Lloré. 
            3. 
              Lo cotidiano 
              se hizo vacío 
              entre los meses del año. 
              El cielo, tedio: 
              nubes de peces 
              en el gris del río. 
              Calles y plazas 
            sin  nombres en las placas. 
            4. 
              La llave de los sueños 
              abrió galaxias de estrellas. 
            5. 
              Ya no me atraganto, madre. 
              Solo con el espasmo 
              de tu marcha, 
              a los mundos de los vientos. 
            6. 
              La terraza de mi infancia 
              ha de ser siempre 
              el esbozo de tu sonrisa. 
              (tierna, simple) 
            7. 
              Domingos que serán locomotoras de auroras 
              brotando en la rosaleda 
              emparrada en el jardín de casa. 
            8. 
              Un día —sin querer— 
              inventaré inventar palabras y sonidos. 
              Cuando nací, lloré. 
            9. 
              Las horas (¿habrá reloj para contarlas?) 
              patinas de un gran armario 
              repleto de fina porcelana china. 
              Meras memorias de voces y silencios. 
            10. 
              Diafragmáticas rutas de aire. 
              (microvellosidades de sueños) 
              Maravilloso aliento del más allá. 
            11. 
              En el infinito sosiego del cuarto vacío, 
              ¿cómo 
              acomodar en adelante tus chancletas 
              debajo de la cama? 
            12. 
              ¿Qué coser en la vieja máquina Singer? 
              ¿Nuestra vieja ropa de la infancia? 
              Pulsas, bien lo sé madre, en la nueva arpa 
              sutiles sonidos de galaxias, 
              eternos estruendos de amor. 
            
               
             
            CALLE DEL BARROCÃO  
            en  el patio de mi infancia 
              brotaban guayabas 
              rojas, blancas. 
            en  la terraza de mi adolescencia, 
              entre pelotas y canicas, 
              crecían amistades sólidas. 
            hoy, 
              hombre maduro, 
              aún planto sueños 
              y aguardo frutos. 
            
               
             
            ESTADO DEMOCRÁTICO DE LA POESÍA  
            que  no se organice la poesía en párrafos, 
              sino en versos y reversos. 
              que en las interminables listas de considerandos, 
              se contemplen todas las formas de poesía. 
              que nunca más se torturen las palabras. 
              que se abomine de las cuadrillas (sólo 
              se permitirán las cuartetas) 
              que no se dilapide el patrimonio poético nacional. 
              que se preserve el derecho de la palabra a ir y venir 
              y a volar, 
              si es que así lo desea. 
              
  
              
            
            FREITAS, Marcos. Na tarde que se avizinha e outros  poemas.  Columbus, S/USA:  Kindle Amazon.com, 2019.  s.p.   Capa:Marcos Airton de Sousa Freitas. Prefácio: Antonio  Miranda.   ISBN 978-170236472-20     Ex.  bibl. Antonio Miranda 
              
              
              
                               QUIMERA 
              
            
            
              
                
                               I 
                    longe 
                      de  mim? 
                      pois  sim. 
                    
                               II 
                    o  dia amanheceu 
                    o  sol subindo 
                    eu  dormindo 
                    
                               III 
                    empresto  ao regato 
                    meu  corpo sujo 
                    de  verde lama 
                    
                               IV 
                    te  traço 
                    sem  o menor 
                    embaraço 
                    
                               V 
                    te  descrevo 
                    às  claras 
                    ou  em segredo 
                    
                               VI    
                  se  amor 
                    não  era 
                  o que me espera? 
                    
                               VII 
                    será  pólvora 
                    ou  festim? 
                    diz  para mim 
                    
                               VIII 
                    vida  
                    de  cão? 
                    pois  não.
                   
                 
               
             
              
              
  
              
            
              
            FREITAS, Marcos.  Cem  poemas escolhidos de Marcos Freitas.  Brasília: Edição  do Autor, 2018  Impçresso em /Middletown,DE,  USA:  Amazon.com.2019/  s.p.  15  X 23 cm.        ISBN  978-17916489094     
              Ex. bibl. Antonio Miranda 
              
            CACIMBA BARRENTA 
            lassidão de horas na flecha do tempo,  
              o curumim chora, gente que sofre  
            baixinho 
              
            o índio aguarda 
            a aguada que nunca chega 
            imensidão de tempo 
            flecha de horas que chora 
            baixinho 
              
            poço seco, rio seco  
              nova roça 
              perdida 
              
              
              
            DESFERROLHADOS  
              
            e assim sou:  
  água boa  
              de Savary. 
              
            e assim vou  
              subir o morro  
              celebrar missa  
              (em latim)  
              com Waly. 
              
            e assim vou  
              apodrecer à beira-mar:  
              pera ou rio Anil  
              da ilha de Gullar? 
              
            e assim sou:  
              ou cogito ser 
              agora. - 
  
              
              
              
            
            FREITAS,  Marcos.  de arrodeios.   Brasília,  DF: 2017.   Ilus. fot.   Prefácio por Marcos Fabricio Lopes da Silva.  Fotos de Marcos Airon de Sousa Freitas.  Impresso Middletown, DE, AS, pela Amazon. Com  2018.  ISBN 978-197-684-977-7-0   Ex. bibl. Antonio Miranda 
             
            
            Os poetas Abhay K., Maracos Freitas e Antonio Miranda no lançamento do livro no tradicional restaurante de Brasilia BEIRUTE, dia 25 de abril de 2018. 
              
            “Marcos Freitas projeta-se como poeta  contemporâneo no sentido meritório que Giorgio Agambem empresta ao termo:  “Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele  perceber não as luzes, mas o escuro”. O que caracteriza a poesia de Marcos  Freitas é uma nítida preocupação existencial, sem descuidar de uma fidelidade  muito peculiar ao universo íntimo/slsírico, com que transita sem derramentos,  porém com fulturante cristalinidade. São instâncias em que a sua arquitetura  prescinde de rodeios formais ou contorcionismos de linguagem para falar da  geografia afetiva, das dores, dilemas & delícias do ser contemporâneo, tão  deslocado nesses tempos de coisificação e etiqueta: “ MARCOS FABRÍCIO LOES DA  SILVA 
              
              
                 INFÂNCIA 
                                                                                
                 correndo  sobre os muros vizinhos  
       fugindo aos estrepes de cacos de  vidros 
       até atingir ruinarias casas  abandonadas 
       (intermináveis disputas cartoriais  de heranças) 
       assentadas sobre lajens fraturadas 
                 percorrendo oficinas de carros velhos 
       atrás de rodas para os carros de  rolimãs. 
       correndo descalço em campos de terra  batida 
       atrás de bolas velhas de couro  rasgado. 
       escolhendo talos de cocos de cercas  divisórias 
       para os futuros papagaios suras,  coloridos.   
       sempre correndo, nunca parado. 
       sempre aprontado, algo. 
              
              
                 LEMBRANÇAS  
              
                 o  vento terno me traz saudade de um tempo não vivido: 
       um quê de encanto doce e suave de  flores de laranjeiras. 
       e na secura de setembro árido dos  planos centrais, explode 
       como chuva esperada e feliz de  primavera tórrida e tardia. 
       sua dança — água em talvegues —  infiltra-se nas camadas. 
       saudade, saudade de um tempo que  ainda não vivi. 
              
              
                 ÊSTE MÊS 
              
                 neste mês, teu beijo: canto de pássaro 
       neste mês, teu afago: balanço de  águas 
       neste mês, meu deleite: fogo de  brasa 
       neste mês, meu desejo: estampido de  estrelas 
              
             
             
                 Em Marcos Freitas, a palavra é  substantiva, fala tanto pelo insinuado quanto pelos silêncios. Reverbera uma  voz múltipla, intensa e com uma sutil carga metafórica que comunica um peculiar  sentimento do mundo. Uma escritura que emerge do olhar profundo e cirúrgico de  um autor que busca na condição humana e seus labirintos psicológicos e sociais  uma rica matéria estética para refletir sobre a nossa incompletude e nossos  desassossegos: 
             
                
                  SHUUKATSU 
              
                  não conseguirei escrever 
        nenhum verso com minhas cinzas. 
        com elas, sequer, 
        escreverei a palavra amor. 
        Não sei, ao menos, 
        se chegarei à hora marcada. 
              
              
            O  livro de arrodeios é composto por  versos pelos quais ecoam vozes que se entrelaçam, se confrontam e questionam a  realidade, a existência e a própria linguagem num caleidoscópio de referências  consagradas e alternativas. Estamos diante de um poeta claramente afeito ao  risco permanente e avesso aos lirismo muxoxos. Sua poética destaca-se pela  combinação virtuosa entre economia verbal e densidade de significados,  reunindo, no labor criativo, poder de síntese com saber de análise.”  MARCOS FABRÍCIO LOPES DA SILVA                                                                         
                                                                                          
              
              
            
            FREITAS, Marcos.  Sentimento  oceânico (verdesveredas ou cantos de jurema nas quenturas do bê-erre-ó-bró).    São Paulo: Catramano, 2015.   124  p.  14x21 cm.  ISBN 978-85-64471-45-0   
             
             
            
            
              “Como vocês vão constatar aqui, Marcos  Freitas está ainda melhor.”         ANTONIO MIRANDA 
             
              
            
            
              LAVOURA  DE GALÁXIAS 
                
              1. 
                Minha mãe 
                se foi 
                meio sem 
                de mim se despedir. 
                O poeta 
                se fez rouco. 
                O poeta  
                se fez mouco. 
                
              2.  
                Ser forte 
                era preciso. 
                Não chorar 
                era preciso. 
                Chorei. 
                
              3. 
                O cotidiano 
                se tornou um vazio 
                entre os meses do ano. 
                O céu, tédio: 
                nuvens de peixes 
                no cinza do rio. 
                Ruas e praças 
                sem nomes nas placas. 
                
              4. 
                A chave dos sonhos 
                abriu galáxias de estrelas. 
                
              5. 
                Já não me engasgo, mãe. 
                Apenas com o soluço 
                de tua ida, 
                aos mundos dos ventos. 
                
              6. 
                O terraço de minha infância 
                há de ser sempre 
                o entreabrir de teu sorriso. 
                (meigo, simples) 
                
              7. 
                Domingos serão locomotivas de auroras 
                brotando nas roseiras 
                cuidados no jardim de casa. 
                
              8. 
                As horas (haverá relógio para medi-las?) 
                pátinas de um grande armário 
                repleto de fina porcelana chinesa. 
                Meras memórias de vozes e silêncios. 
                
              10. 
                Diafragmáticas rotas do ar. 
                (microvilosidades de sonhos) 
                Sopro de espantos, além. 
                
              11. 
                No sossego infinito do quarto vazio, 
                aonde 
                arrumar doravante teus chinelos 
                embaixo da cama? 
                
              12. 
                O que coser na velha máquina Singer? 
                Nossas antigas roupas de criança? 
                Dedilha, bem sei mãe, na nova harpa 
                sutis sons de galáxias, 
                estalos eternos de amor.  
                
                
              ESTRADA,  PÓ E POEIRA 
                 
                estrada, pó e poeira: 
                marcos 
                das estradas mineiras. 
              lua,  
                transpor de pontes: 
                banhos de cachoeiras. 
              milho verde: 
                verdes olhos 
                a refletir desejos. 
              estrada, pó e poeira: 
                ora pro nobis 
                serras sem fim.
                 
                
               
             
              
              
              
            
              
                  | 
               
             
            De 
                  Marcos Freitas 
                  URDIDURA DE  SONHOS E ASSOMBROS 
                    (Poemas Escolhidos  2003-2007).  
              Apresentação de Antonio Miranda 
              Rio  de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2010 
                280 p. (Com apoio de FAC/DF) 
              
            POÉTICA 
                   
              1 
              Que é Poesia? 
   
           uma  ilha 
           cercada 
           de  palavras 
           por  todos 
           os  lados. 
   
              2 
              Que é o Poeta? 
   
              Um homem 
              que trabalha 
              com o suor de seu rosto. 
           Um homem 
        que tem fome 
              como qualquer outro 
                     homem. 
             
                   
              FOTO TABOCA 
               
                Quem não deixou 
                sua alma aprisionada 
                em 3X4 
                no lambe-lambe 
                do Seu Chiquinho 
                na Praça da Bandeira? 
             
             
            
              
              
              
            
             
             
            QUATRO  TEMPOS  
              
            na madrugada fria 
            tua alada companhia 
              
            na manhã quente 
            novo desejo de repente 
              
            na tarde morosa 
            tua língua saborosa 
              
            na noite sem dança 
            apenas uma lembrança 
              
              
            NADA A  VAU 
              
            recrio-lhe 
            enchendo-lhe de chamego 
              
            mordo-lhe o pé 
            e o que mais quiser 
              
            sugo-lhe a vulva 
            qual a uma uva 
              
            faço-lhe esquecer o mundo 
            fácil... indo-lhe bem fundo 
              
              
            Extraído  de      QUASE UM DIA.  Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens  Escritores, 2006.  95 p. 
                            
              
             O POETA E O   DESTINO 
               
               
              o poeta é um   cretino 
                que ama sem destino 
                (o) certo 
   
                o poema é seu destino 
                apesar de cretino 
                o verso 
   
                existe porém 
                o verso certo 
                um ser cretino 
                e um destino? 
                
               
             QUADRO 
               
              hoje sim 
                quero te descrever 
                em cores 
                lambuzar-te de tintas 
   
                no lugar dos seios 
                riscos rápidos 
                no lugar dos braços 
                formas curvas 
                em perspectivas 
   
                no lugar das pernas 
                pingos, pingos e mais pingos 
                esparramar suave em ondas 
                teu ventre em chamas 
   
                hoje sim 
                adoraria borrar 
                todo esse quadro 
                com um jorro de tinta 
               
                
             PANO DE CHÃO 
               
              com que direito 
                o poeta invade sonhos 
   
                com que direito 
                o poeta causa danos 
   
                com que direito 
                o poeta tece palavras 
                como que pedaços de panos 
               
    
             AFLORAÇÕES 
               
             fuga de corrente? 
             quem sabe 
             meu coração 
             não tem voltímetro 
               
             súbito? 
             quem sabe 
             meu trapézio 
             não tem lona 
               
             chuva de maio? 
             quem sabe 
             meu querer 
             não tem ensaio 
               
             desvario? 
             quem sabe 
             minha calçada 
             não tem meio-fio 
               
                
              LEMBRANÇAS 
              nas barrancas do meu rio 
              habitam as lembranças 
              das garças brancas 
                
             
                                             ACIDENTE 
               
                                            não sei 
                                             se escapo 
                                             ileso 
                                              da batida 
                                             de teu 
                                             coração 
               
              
            
                NENHUMA CARTA EM MEU NOME
                 
               de soslaio 
               a memória de teu rosto 
               cravado na rocha da ausência:   fotografia. 
                 
               o vento quente sopra a cor do   esquecimento: 
               sombria melancolia do   dia-a-dia. 
                 
               tentei entender teu nome e   nossos minutos 
               como se houvera fruta na   fruteira 
               de minha existência. 
                 
               o domingo desabitado fareja o   ronco do motor 
               de meu carro empoeirado.  
               nada, nada além de silêncio e   pó. 
                 
               há mais de um ano, nenhuma   carta em meu nome. 
                 
                
                NA TARDE QUE SE AVIZINHA
                 
               sejamos eternos, querida, 
               mesmo na plenitude de nossa   ira. 
                 
               chega de nossos discursos   prontos, 
               não suportamos mais esperar o   fim do verão. 
                 
               estranhamos, em silêncio,   conselhos dos mais velhos. 
                 
               tentamos, inutilmente, reler   os jornais passados; 
               o que buscamos nas páginas   surradas? 
                 
               a paisagem se adensa na   geografia das ruas 
               de nossa cidade desconhecida. 
                 
               mergulhemos no assombro de   nosso desejo; 
               é sempre possível a palavra   mais pura e límpida, querida, 
               mesmo fora de nosso   dicionário. 
                 
               o cheiro do feijão, em panela   de ferro, 
               reacende o fogo de lenha da   imaginação: o relógio da manhã. 
                 
               herdeiros de nossa própria   memória, 
               divisamos a rua de nossa   fraqueza e ausência, na tarde que se avizinha. 
                 
               o leito seco do rio aguarda a   estação chuvosa nas cabeceiras; 
               depositemos, pois, iguarias e   provisões na vazante de nossas horas. 
                 
               sejamos eternos, querida, 
               mesmo na finitude de nosso   dia. 
                
                
              
              FREITAS, Marcos. Eternal Return and Other Poems: the selected poems  of marcos freitas: anthology in three languages (portuguese - russian -  english) (English Edition) eBook Kindle 
                
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              https://www.amazon.com.br/Eternal-Return-Other-Poems-portuguese-ebook/dp/B07ZG64VFG/ 
                
               
              
              NEW BRAZILIAN  POEMS.  A bilingual anthology after  Elizabeth Bishop.   
                Translated &       edited by Abhay K.. Preface  by J. Sadlíer.  Rio de Janeiro:  
                  Ibis Libris, 2019. 128 p.  16 x 23 cm.    ISBN 978-85-7823-326-6  
                    Includes 60 poets in Portuguese and English          Ex. bibl. Antonio Miranda 
                
                
              Fronteira 
                 
                  ronda inútil 
                    limites de meu nada 
   
                    as horas longas de sonhos 
                    as leves madrugadas alheias ao mundo 
   
                    fronteira de alegria infinita 
                    eis-me, novamente.  
                
              Frontier  
                 
                useless round 
                  limits of my nothingness 
   
                  the long hours of dreams 
                  the light dawn indifferent to the world 
   
                  frontier of infinite happiness: 
                  here I am again.  
   
   
 
                
   
              
            
              
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            FREITAS, Marcos.  Inquietudes de horas  e flores. Inquietudes de horas y flores.  Edição  bilíngue Português – Español.  Tradução  Carlos Saiz Alvarez.  Rio de Janeiro:  Livre Expressão Editora, 2011.  116 p.  14x21 cm. Capa: Enita Souto.  ISBN 978-85-7984-262-7  “ Marcos Freitas “  Ex. bibl. Antonio Miranda 
              
              
            AFLORAÇÕES 
               
              fuga de corrente? 
              quem sabe 
              meu coração 
            não tem voltímetro 
            Súbito? 
              quem sabe 
              meu trapézio 
              não tem lona 
            chuva de maio? 
              quem sabe 
              meu querer  
              não tem ensaio 
            desvario? 
              quem sabe 
              minha calçada 
              não tem meio-fio 
              
              
                      AFLORACIIONES 
               
            ¿fuga  de corriente? 
            quién  sabe 
            mi  corazón 
            no  tiene voltímetro 
                      ¿súbito? 
            quién  sabe 
            mi  trapecio 
            no  tiene red 
                      ¿lluvia  de mayo? 
            quién  sabe  
            mi  querer 
            no  tiene ensayo 
                      ¿desvarío? 
            quién  sabe 
            mi  carretera 
            no  tiene acera 
              
              
             
            VERSION FRANÇAISE 
             
             
            
            FREITAS, Marcos.  Nous sommes nos songes. Texte établi, traduit et présenté par Oleg           Almeida. ´Brasília: Edição do  Autor, 2019. Impresso em/ Middletown, DE,  USA: Amazon.com.2019/   s.p.  ISBN 978-17289099998           15 X 23 cm.  Ex. bibl. Antonio  Miranda  
               
             
               
              L'ÉTERNEL RETOUR   
   
             
            La poésie 
              m'effleure l'esprit 
              sans heure ni date choisies.  
            Quelquefois, 
              elle tarde à venir, 
              même lorsqu'on sue, 
              la plantant, une bêche à la main.  
            Ce n'est pas toujours 
              qu'elle pousse, 
              même lorsqu'on l'arrose 
              avec de l'eau ou du vin.  
               
            Et pourtant, 
              elle rentre toujours 
              dans mon cœur 
              et me rend fou 
              de bonheur.  
               
               
            ETERNO RETORNO   
               
             
            a  poesia 
              aflora 
                sem hora 
                sem data marcada  
            a  poesia, às vezes 
              demora  
   
             
            mesmo  plantada 
              a pá, a enxada  
            a  poesia nem sempre 
              brota  
            mesmo  regada  
            a muita água ou vinho  
               
            a poesia 
              no entanto 
              sempre retorna 
              e me entorna 
              de alegria  
               
               
                    THÉORÈME  
               
            À chaque coin de rue, 
              je me disperse : 
              y a-t-il un poème sans émotion ?  
               
            A chaque coin de rue,  
            je me résous :  
            une équation sans solution.  
               
            A chaque croisée, j'extrais 
              la racine cubique 
              de mon cœur.  
               
            A chaque quartier, 
              je me vois carré, 
              les rues de cette cité 
              n'ayant pas de coins.  
               
            Serait-ce là mon destin, 
              ce comptage 
              sans fin ?  
               
               
            TEOREMA  
               
             
            a cada esquina 
              me disperso 
              há poema 
              sem emoção? 
   
              
            a cada esquina 
              me resolvo 
              equação sem solução 
   
              
            a cada quina 
              o triplo de mim 
              raiz de meu coração 
   
              
            a cada quadra 
              me desenquadro 
              nesta cidade 
   sem esquina  
               
            é minha sina 
              irracional 
              enumeração?  
               
              
            
            Rio  Parnaíba, Piauí, Brasil 
              https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Parana%C3%ADba 
              
              
            
            FREITAS, Marcos.  9º. Mexidão Poético do Verde. (Poemas  )  20 de maio de 2023.       Brasília, DF: 2023.   16 p.     
                                                                 Ex. bibl. Antonio Miranda 
              
                    MATA CILIAR 
               
          sob  cérula abóboda em balsa de buritis 
          de  bravos argonautas 
          pretendia  descer o rio Parnaíba. 
          após  a terceira curva 
          (espanto)  a balsa encalhou 
          em  imenso banco de areia. 
          sonhos  de sedimentos 
          acumulados  anos a fio. 
          homens  cegos — e covardes 
          arrancaram  os cílios do rio. 
             
               
                                    (musicado por  Raphael Mendes) 
  
            Página atualizada em julho de 2015.Ampliada em  agosto de 2016; Página republicada em abril de 2018; amapliada em maio de 2019;ampliada  em novembro de 2019; PÁGINA ampliada em novembro de 2020 
              
              
              
              
              
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