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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARCELO TORRES

 

 

Jogo de palavras, polissemia, trocadilhos, palavras de ontem e de hoje, sátira/galhofa, aliteração. Tento uma intertextualidade com versos de Caetano, Pessoa, até do Hino Nacional Brasileiro; recorrro à fala coloquial, puxo o "internetês", ouço uma frase da minha mãe. Enfim, é uma viagem...

 

 

Palavreação

 

Palavras, palavras!

Umas nascem, crescem

E aparecem no dicionário.

Outras esmorecem, perecem,

somem do vocabulário.

Palavras transformadas

Palavras corrompidas.

Tem as mortas, enterradas

Tem as vivas, renascidas.

Umas calam, outras sentem

Umas matam, outras mentem

Palavras difíceis

O lábaro que ostentas estrelado

A clava forte, o florão da América

Palavras invisíveis.

São pessoas invisíveis.

Mas agora chegou um torpedo.

Torpedo?

Torpedo já não é bomba

nem explosivo.

Não mais o meio.

É a mensagem!

Mensagem de amor,

se quiser

"Te amo D+".

"Tb t amo, bj".

Celular ontem: adjetivo

Relativo a célula.

Célula: núcleo, membrana

e citoplasma.

Hoje um aparelhinho

Já é parte do corpo:

cabeça, tronco e celular.

E cadê o astronauta?

Era coisa de americano

Cadê o cosmonauta?

Coisa de soviético

Hoje todo mundo

Internauta.

Saite?

Sai-te!

Sítio?

Visite o sítio eletrônico

Acesse agá-tê-tê-pê

Dois-pontos-barra-barra

Dáblio-dáblio-dáblio...

Navegar é preciso?

Imêiou, não!

Correio eletrônico

Arquivo pesado

Uma arroba

Navegar, navegar

Grandes navegações

E viva Santo Google,

Palavra da salvação!

Eu tc

Vem tc cmgo

Eu tuitei

Ela retuitou

O chat bombou

Cadê o LP?

Vamos virar o disco?

DDD, DDI

Discagem Direta...

A ficha não cai.

Meu filho,

Vai fazer o curso de datilografia!

- Java!

- Faça o download.

- Baixe o (santo) arquivo.

- Mande em jota-pégue.

- Cê conhece agá-tê-eme-éle?

E deixa que digam, que pensem, que falem.

 

 

 

 

 

eles vieram de outras solidões

 

 

se é verdade mesmo,

doutor,

que no princípio era o verbo,

então,

no (meu) princípio  

era o verbo vir.

 

ora, só pode ter sido.

 

porque é um verbo doido-doido.

doido por excelência,

o senhor sabe.

um verbo que varia muito.

os fins, os meios

e os inícios.

é conforme o modo.

e o tempo.

 

se vens a uma terra

estranha

curva-te,

disse orides fontela,

ela que se foi

sem nunca ter vindo.

 

e as terceiras pessoas? 

vêm da noite inquieta,

vêm de longe e murmurando,

disse drummond,

sobre homens presentes,

no tempo presente,

com chapeuzinho e tudo. 

 

o poeta 

um dia não veio.

o bonde não veio,

mas nem tudo acabou,

nem tudo rugiu, 

nem tudo murchou.

  

e vieram eles,

no pretérito perfeito,

os homens 

perfeitos imperfeitos.

 

vieram os vendilhões do templo.

vieste do pó e ao pó voltarás.

 

eles vieram,

gregos e goianos,

paraíbas, baianos.

 

vieram,

a mala na mão, 

um pé-de-meia na cabeça.

 

de quixeramobim,

de são joão das missões.

vieram a mim,

vieram de outras solidões. 

 

e tu virias numa manhã de domingo

cantou um menestrel cabeludo,

vindo lá de são bento do una:

agora conheço tua geografia,

a pele macia,

cidade morena,

teu sexo, teu lago,

tua simetria,

até qualquer dia...

 

isso,

sem contar o você

(ocê, cá pra nós, doutor).

 

você,

no princípio,

era vossa mercê,

mas, sonso que só ele,

se passa agora

por pronome pessoal.

e do caso reto, inda mais.

 

na dúvida,  

no modo subjuntivo: 

se você vier,

pro que der e vier,

comigo,

— é vem vind’uma voz de petrolina —
eu lhe prometo o sol,

se hoje o sol sair,

ou a chuva,

se a chuva cair,

e neste dia branco...  

 

caia a chuva,

desça o sol, 

pois agora é vem lá 

riobaldo tatarana 

urutu-branco:

 

sertão é onde manda quem é forte,

com as astúcias.

deus mesmo,

quando vier,

que venha armado!  

 

nem amado,

nem armado,

virá um índio,

no coração

do hemisfério sul,

num ponto equidistante

entre o atlântico e o pacífico,  

depois de exterminada 

a última nação indígena.

 

porque,

como eu vinha dizendo,

doutor,

no princípio,

no meu princípio,

era o verbo vir.

só pode ter sido.

  

agora,

se é verdade também

que sou a cidade do desvio 

e do surrupio,

como dizem e redizem os brasileiros

— milhões que não me conhecem —
entonces, doutor, 

pelos vistos e ouvidos,

nos princípios

devo eu ter metido a mão 

na bíblia

e de lá'fanado uma frase,

aquela famosa frase

dos evangelhos:

 

vinde a mim as criancinhas.

 

este teria sido o chamado

feito por jesus,

nosso senhor,

o filho de deus,

segundo contam seus biógrafos,

os apóstolos marcos, lucas e mateus.

 

a pois então,

séculos e séculos depois,

nos anos cinquenta,

cinquenta em cinco,

— só que antes d'eu nascer —
devo eu ter corrompido a frase bíblica,

tirando-lhe o artigo,

botando-lhe uma vírgula:

 

vinde a mim, criancinhas.

 

só pode ter sido este

o meu anúncio,

feito aos quatro ventos, 

aqui dos planaltos centrais.

 

porque, doutor,

assunte só,

aqui pra nós...

 

bom,

deixa pra lá.

 

só digo uma coisa:

brasília é brasil,

em latim.

 

mas perdão

pelos latidos.

 

 

 

 

Página publicada em junho de 2012; página ampliada em abril de 2020

 

 

 

 
 
 
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