VIA LÁCTEA NA TIJUCA
Se dizem-me insensato por ouvir
Estrelas, qual Bilac, talvez razão
Proveja. Mas é inútil argüir
A racionalidade ao coração.
Devo do amor insano refugir?
A estrela amiga abandonar de mão?]
Não posso. Então convido-os a assistir,
Da Via Láctea, a mágica atração!
Direis agora: que paixão se inculca,
Na mente do poeta, ante as estrelas,
A pratear as matas da Tijuca?
Eu vos responderei que reincido
E, apenas por olhá-las, posso tê-las,
E ouvi-las, como o amor não tem me ouvido.
RARÍSSIMO LAVOR
Ansiei por ti a vida toda, embora
Perambulasse descaminhos, cego,
Perdido como náufrago. Em degredo
Buscava, dentre o lodo, a luz da aurora.
Assim como és, esbelta, eu quis, sem medo,
Trilhássemos a estrada vida afora,
Musa cativa minha que esplendora
O céu de inspiração em que me apego.
Dos páramos sutis da Claridade
Desceste, prenda, envolta pelo amor,
Num manto alabastrino de bondade.
Assim és tu, raríssimo lavor,
Anjo de guarda feito Caridade,
Na exaltação do Deus interior.
TIMIDEZ
Memória de um passado revolvido,
Relembro fugazmente o amor tão caro,
Tão viçoso, tão cândido, tão raro,
Em seus transportes, que hoje só bendigo
A inspiração veraz em rimas claras,
Que a insopitada timidez, ferida,
Perpetuou no incógnito jazigo
Do coração patético, no avaro
Arquivo imemorial da noite insone,
Povoada de angústia e de esperança,
Penares loucos, raios de um ciclone,
Tormentoso ciclone, amor perdido,
Deixando sulcos de desesperança,
Mas o consolo real – tê-lo vivido.
ESQUECIDO SONETO
Ó minha mãe, perdoa-me, se um dia
Teus olhos claros marejei de pranto,
Irreverente, rasurando o encanto
Do rosto transtornado em agonia!
Em verdade, soubesse que feria,
No meu adolescente vezo, tanto,
As mágoas que causei, o desencanto,
Em dádivas de amor transformaria.
Modelo és sempre o meu de exaltação;
A tua luta, alfombra acolhedora,
A arte que pintaste, inspiração!
Se a vida é traço forte debuxado,
Debuxos teus serão, por certo, os louros
Que colherei em versos e baladas.
TEMPOS
A Isabella, de Miami
Ó que saudades, filha, das imagens
Dos tempos teus da infância, dos folguedos,
Dos olhos doces, do sorriso ledo,
Debuxos fugidios na miragem...
Nas horas da distância, na voragem
Do tempo carcereiro, nos meus medos,
Teu vulto invoco, em pranto (meu segredo),
Em confidência, ao perpassar da aragem.
Olhando o verde-mar destas areias,
Ainda mais te alcanço em pensamento,
Nas alvas praias do Nordeste, meiga.
Mas logo me convenço dessa falsa
Visão de antanho, vã, que me atormenta,
Pois tempos nem menina voltam mais.
ERA UMA VEZ...
A Adriana, Ana Paula e Giovana
Era uma vez, num tempo esplendoroso,
Das fadas e dos magos, ilusões,
Três meninas havia, três botões,
Celestes camafeus de flores rosas.
Crianças embalei-as, graciosas,
Personagens da vida na ficção;
O tempo, ah! leva tudo de roldão,
Ciranda, cirandinha caudalosa.
Aí vão elas para a escola, em bando,
Mocinhas buliçosas, meus amores,
Nas auras protetoras dos seus anjos.
São minhas? Mais que minhas, são de Deus!
Embora, ao meu olhar, as mesmas flores
Da história dos celestes camafeus...