JOSÉ CARLOS FERREIRA BRITO
Nasceu em Baliza, Goiás. Reside em Brasília.
Membro da Academia de Letras do Brasil
BRITO, José Carlos Ferreira. Pensando com o coração. Poemas e crônicas de José Carlos Ferreira Brito. Brasília, DF: Thesaurus Editora, 2015. 80 p. ilus. 14x21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Os poemas de José Carlos Ferreira Brito, sabiamente. Não seguem uma ordem cronológica, exacerbando a curiosidade literária e fazendo com que Pensando com o coração” mereça ser servido de um só gole, avidamente! Depois dos primeiros poemas, você, leitor ou leitora, não conseguirá conter o desejo de conhecer os demais. NESTOR KIRJNER
INVENÇÕES
Invento textos fora de contexto
Invento palavras fora de moda
Que saem do meu pensamento enfadonho
De tanto ver notícias tolas
Quem olha pra dentro não vê
Quem não lê com o coração não entende
A semente plantada sem água não germina
O olho por trás das pálpebras se esconde
Da tragicomédia do mundo plugado
Nas netes sites teles e teias da vida
Emaranhados que se confundem
Agitando fico sempre
Tentando-me convencer
Inventar sem saber o que com quê
Com quantas palavras escrevo
Num Português arcaico me atrevo
Absorto nos contextos de texto
E como o leitor percebe
Se das nuances é daltônico
Das letras mortas insalubres
Como o espectador recebe
O que transmite a quem lê
O troglodita das letras
Que em vão tenta comunicar-se
Só escreve palavras esdrúxulas
O analfabeto vê mas não sabe ler
Não sabe decifrar
Os pífios versos desconexos
Na introspecção de meu ser
Quem explica essa confusão
Essa intromissão de textos
Muitas vezes fora de contexto?...
A poesia é um fato concreto ou abstrato?
No contexto do texto de quem escreve
Desenha a resenha na mente o retrato
Na desdita de quem lê
O texto em controversa
Percorre mentes saudáveis
Acabrunha sentidos
No recôndito, o que escrevo tem sentido? Ah! Poeta atrevido...
(setembro de 2010)
TURBILHÕES
Ao cair da tarde, quando o sol,
em declive, tinge de púrpura
o horizonte e os pássaros
em debandada, revoada,
fazendo tremendo escarcéu,
com asas apressadas...
Retornam aos seus ninhos,
nas árvores copiosas, escondidas
por trás dos montes,
bem pertinho do céu.
Eu, de pé, através de translúcidos vitrais,
em soluçante solilóquio,
observo os vastos pinheirais
que oscilam ao sabor dos vendavais.
Prestando reverências,
saúdam a noite turva
que cobre as campinas
de relvas toscas.
Eu, contrito dentro de mim, choro.
Uma alma, a vagar no limbo,
implora. Vêm pensamentos
esvoaçados, mesmo efémeros.
Não faz de mim prisioneiro.
Ao longe... a liberdade me conforta,
a esperança me enleva.
Quisera eu ser menino,
com visão infante, desnudo
à beira do caminho,
que leva do onde pra onde,
sem saber o meio.
Degusto o desejo que ensejo
na ribalta da vida!
Pleiteia o coração.
Chuva serôdia lentamente cai.
Relâmpagos riscam o céu,
trovões ribombam ecos nos vales.
A vidraça, dantes translúcida, embaça.
Meus olhos turvos lacrimejam.
Ah! Que saudade, pura nostalgia.
0 cheiro de relva sobe,
olor aos deuses castos.
Suspiram ninfas e anjos vastos!
Enervam-me sonhos soberbos
ao ver outro entardecer.
Em meu canto sossegado,
poder adormecer!
Que sensação!
Contando estrelas,
aos turbilhões.
(junho de 2010)
Página publicada em maio de 2016
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