JOILSON PORTOCALVO
i.e, Joilson Albuquerque de Gusmão, nasceu em Porto Calvo Alagoas e está radicado em Brasília desde 1961. Publicitário, escritor e roteirista cinematográfico. Joilson Portocalvo vem participando da vida cultural da Capital da República, bem antes de publicar seu primeiro livro de poemas Silêncio Inquieto, Poemas, 1978 (Gráfica e Editora Valci) e Cio, Poemas, 1985; A dança da lua cheia, Novela Infanto-juvenil Publicada com recursos do FAC, Brasília, l997 (Gráfica e Editora Brasil); Confissões em Cadeia — Sete homens privados do direito de ir e vir, Organização, 1998 (Gráfica e Editora Valci); Espelho, espelho meu, Novela Juvenil em co-autoria com Ronaldo Cagiano, 2000 (Thesaurus Gráfica e Editora de Brasília): Cinzas de Alfazema, Novela, 2001 (Gráfica e Editora Valci); Interseção entre dois mundos, carta de Manoel Gomes a Joilson Portocalvo, 2000 (Gráfica e Editora Valci); Memórias de um Pirralho (minicontos infanto-juvenis) (Edições Camboa) 2002 e Coração Tatuado contos, também com recursos do FAC, (Edições Camboa) (2004).
Participação: IV Antologia de Contos e Poética, S. José dos Campos, 1991; Cronistas de Brasília, de Aglaia Souza, 1996; O Prazer da Leitura, de Jacinto Guerra e Ronaldo Cagiano,1997; Poesia de Brasília, de Joanyr de Oliveira, Ed. Sette Letras, 1998; X Antologia de Contos Alberto Renart — Fundação Cultural Cassiano Ricardo, S. José dos Campos,1991; IV Antologia Poética de S. José dos Campos, 1991; Poemas Para Brasília, de Joanyr de Oliveira, Projecto Editorial, 2003 e Antologia do Conto Brasiliense, de Ronaldo Cagiano, Projecto Editorial, 2004.
Ver também: POESIA INFANTIL DE JOILSON PORTOCALVO
Bilhete a Mário de Andrade
Querido Poeta,
Cinqüenta e tantos anos sem você
Quanta falta nos faz!
... e à poesia?
Mais de meio século comigo,
que bom! feliz por viver.
Mas é curta a vida,
você passou e eu
estou passando.
A poesia ficou veloz
aderiu à linguagem do clipe
virou hai kai
perdeu pétalas
Até o mal do século
matador de poetas, mudou
é outro, atinge muito mais
Há sessent’anos
sabíamos pouco de bombas
você saía — eu insistia em chegar
levando a guerra
trazendo a paz
Mas ainda ocorrem explosões
Abraços do Joilson.
PS: Gases tóxicos são moda no Japão
Impressão
Parecem azuis
são verdes
Seriam verdadeiros
teus olhos?
Aranha
Pende da luminária
entre piso e teto
vida e fio
Salto ou queda?
medo, pavor
Inútil d
e
s
c
e
r
desliza em visgo
de seda
existência breve
frio e calor
r
i
b
u
s
Bobagem
Previsível e
imaginário grito
Dois chinelos se tocam
abreviando a eternidade
Poesia na feira
Encontrei Octavio Paz
exposto numa feira
De mão em mão
de olho em olho
Livro cão-sem-dono
Resgatei Constelação
libertei a poesia
Cara-metade
Se ateares fogo em meu corpo
cremarás a outra parte de tua alma
Quase trova
Meu coração — tem momentos
bate desesperadamente
paradoxal dizer que está batendo
quando está apanhando
Garatuja
Bandeira branca hasteada
tratados assinados
Não se reconheceria uma
sem a outra
Garatuja em japonês
monossílaba em português
Para que exista
surgiu o antônimo
Criaram-se estratégias
empunhou-se o fuzil
o inimigo foi vencido
Homens e meninos
mortos em seu nome
Um tiro, um grito
ponto final
Realize-se a ecumênica celebração
juntando em vala comum
inocente e culpado
A vida em três fases
Fase 1
O pássaro entoa
a canção da despedida
no céu da boca do gato
fase 2
Distraído
o felino desliza as garras
na garganta do cachorro
fase 3
Farto da suculenta presa
o cão adormece feliz
Eu era saudade
Hoje pensei em ti, amada
e cantei triste
Hoje sonhei te amar
te procurei em mim
acordado
real demais
Hoje
eu era saudade
Lua urbana
Lua cheia
de lobisomens
prestes a nos ferir
Lua vazia
por onde passamos
em devaneios
tentando matar o dragão
e voltar comendo-a em fatias
feito delicioso queijo manteiga
Lua
nem cheia ou vazia
pasma — fria
perdida nas constelações de neon
das cidades
aqui
Estrela
Planto o olho
na estrela
e ela cai
Quero-a estrelando
no coração do meu quintal
Liberdade II
Em teu corpo
ela se envolve e ganha mundos
De tuas mãos
sai em revoada
a lugares improváveis
Em teus pés
atravessa abismos
E nos teus olhos
ela se avulta
atinge céus
e se transforma em
intangíveis sonhos
Poluição sonora
A rua pede esmola
assalta bancos
estupra santos
A rua espanca bêbados
masturba gente
Ladra como cão
morde feito cobra
e dorme
A rua — neste instante
deixou passar um louco ao volante
e atropelar o final do poema
Em tempo:
a rua sempre acaba suja
feito o quintal da gente
Blasfêmia
Um deus que
fala inglês — espanhol nem pensar
Usa perfume francês
come comida japonesa
toma vinho do Porto
gosta de ópera
e nada sabe
de pagode e cinema brasileiros
Tem contas em paraíso fiscal
e medo de viajar de avião
apesar de sua frota de jatos
Quando há tempo
faz caridade distribuindo
migalhas
Grave:
não tem fé em si mesmo
Como explicar o milagre
da multiplicação? |