ISOLDA MARINHO
Isolda Marinho escreve poemas desde os 14 anos de idade. Publicou três livros Sementes de Amora, Viço do Verso e Beijo de Tangerina. É co-fundadora do Núcleo de Literatura do Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, da Câmara dos Deputados.
Recebeu Menção Honrosa no IV Concurso Raimundo Correa de Poesia e
ganhou prêmio de publicação nos livros Poetas Brasileiros de Hoje e Escritores Brasileiros, Editora Crisalis (RJ).
Seu nome é verbete no Dicionário de Escritores Brasilienses. Participa da antologia Geografia Poética do DF e do livro de cordel dos poetas de Brasília. Suas obras estão nas mãos dos poetas Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Elisa Lucinda e músicos como Milton Nascimento, Beto Guedes, Belchior, Renato Matos, Renato Teixeira, entre outros.
Participou da Bienal do Livro (SP) e de várias edições da Feira do Livro de Brasília. Foi uma das poetas lidas no projeto Letras de Mulher, apresentado na Aliança Francesa, em 2006. É poeta do Congresso Brasileiro de Poesia, de Bento Gonçalves (RS).
Presença marcante em eventos culturais variados pela cidade, onde semeia sua bela poesia, entre eles Noite Cultural T-Bone, Sarau Tribo das Artes, Sarau do Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados.
No teatro, atuou na peça O namorador – Noite de São João, comédia de Martins Penna, produção do Teatro de Bolso - Companhia da Ilusão.
Gravidez
Lua de barriga
Pólen de embrião
Gravidez amiga
És a criação
Pele de placenta
Bio fragmento
Seio que amamenta
Vida em meu rebento
Colo de avó
Linha de novelo
Feito pão-de-ló
Como quero tê-lo
Ninho clandestino
Útero de mãe
Vem, você, menino ou menina
Cresça, lute e ganhe!
Parto
Nade em sua piscina, pequeno
Não tenha medo do veneno.
Desfrute do seu mundo.
Seu existir é tão profundo!
Rompa esta bolsa que lhe envolve.
Mostre seu membro que se move.
Amar?!
A vida lhe ensina.
Solte seu corpo do meu,
Corte este cordão,
Sou sua mãe,
O mundo é seu.
Seja nele um andarilho
Seu nascimento
É uma canção,
Meu filho.
POÉTICA
A poesia em mim se infiltra,
penetra, invade, adentra, habita.
Quando faço verso bom,
sou Drummond.
Quando crio rima boa,
sou Pessoa.
Musicando os ideais,
vem Vinícius de Morais.
Quando a carne se desnuda,
só Neruda.
Se aos 80, sou menina,
quero Cora Coralina.
Se escrevo até sem eira,
por que não ser o Bandeira?
E na arte de rimar
como é bom o meu Gullar!
Se na métrica sou a tal,
quero ser João Cabral.
Versifico o que é belo,
sou Tiago, o de Melo.
Se um poema não me engana,
Posso ser Mário Quintana?
Nas Vertentes de Jovina,
minha palavra se anima.
E se escrevo para o céu...
são Tremores de Emanuel.
Tremo, vibro, queimo e ardo
num poema de Abelardo.
Poetando a vida infinda
vem Elisa, a Lucinda.
No Rubi de Amneres,
sou Cecília "Meio reles".
No meu verso submerso,
eis aí meu universo.
IDADE
Quando a pausa for maior
e eu tiver mais de 50,
vou descansar.
Peitos caídos (?)
Filhos criados.
Netos crescidos.
Quando a meada
encontrar seu fio
e o limo encarnado
não mais escorrer,
vou me olhar no espelho,
admirar e agradecer
cada ruga em meu sofrer.
Vou ser mulher.
Vou crescer.
Quando então a maior pausa
for da vida a melhor causa,
vou somar os devaneios,
libertar os meus anseios.
Ser madura, sem censura.
Vou viver.
Colo
Mãezinha,
Abraça-me.
Envolve-me no aconchego
do teu colo quente
e me sussurra canções pequeninas
de minha infância esquecida.
Leva-me depressa
a um mundo encantado
onde tudo é sorriso e cantiga.
Faz-me recordar o cheiro acre
do tempero agreste
em tuas mãos
quando me vestias para a escola.
Alimenta-me em teu seio pleno,
meu melhor brinquedo.
Tira-me da dor, mãezinha!
Cuida de meu corpo frágil!
Embala-me no berço de nuvem!
Aquece-me no sonho dos anjos!
Banha-me no óleo do sonho!
Cobre-me com teu manto rosa
E acarinha-me com doçura.
Protegem-me!
Acalenta-me!
Acolhe-me de novo
em teu ninho de candura!
Cigarras
Cigarras soturnas
sibilam
cintilam
simulam
sob sol setembro
Cigarras singelas
solenes
sozinhas
silenciam
sob céu cidade
cigarras sinceras
se soltam
soletram
suspiram
Cigarras são seres
sinistros
sensatos
sedentes
Cigarras sonoras
sossegam
sussurram
saciam
Cigarras são santas
sinais
silentes
silvestres
Cigarras sinfônicas
seus essessssssszzzzzzzzzzz
Fêmina
Jorra em mim
a cachoeira suada
mercúrio ardente
rubra enxurrada
Pende de mim
o fluido corado
secreto, cálido
espesso e molhado.
Esvai-se de mim
a resina oleosa
liquefeito caldo
suco da rosa
Escorre em mim
o regato mensal
fonte finita
íntima, visceral
Flui em mim
a livre correnteza
ciclo de fogo
fêmea natureza
Corre em mim
o riacho vermelho
sangria sem ferida
sumo da carne
regra da vida
Chora em mim
o pranto viscoso
fio de dor
rio caudaloso
fluxo-amor
Líquido amor
Eu
pétala de concha
mergulho na onda
perfil de sereia
Tu
pérola de ostra
emerges da sobra
espuma de areia
Eu
esponja do fundo
deusa da água
pedra de sal
Tu
crustáceo marinho
nado elegante
sargaço, coral
Eu
angra perdida
fria enseada
peixe ancorado
Tu
solitário búzio
náufrago tonto
ouriço encalhado
Eu
orla salgada
marítima estrela
baía ondulante
Tu
barco à deriva
porto alagado
cais flutuante
Eu
nau afundada
ilha esquecida
alga em flor
Nós
cardume de beijos
marinha paixão
líquido amor
POESIA EM TRÂNSITO - Argentina - Brasil. org. Fernando Sánchez Zinny. Buenos Aires: La Luna Que, 2009. 224 p.
supervisão de Sylvia Long-Ohni e Valeria Duque)
Edição bilingue português e espanhol.
Nació en Alagoas y vive en Brasília. Graduada en la Universidad de esta ciudad, es profesora de Lengua y Literatura Brasilera. Como docente desarrolló el proyecto Placer en Leer en escuelas dei Distrito Federal y es redactora dei Centro de Formación, Entrenamiento y Perfeccionamiento de la Câmara de Diputados. Autora de los poemarios Semillas de mora y Verdor dei verso, a su obra se anade Beso de mandarina, en preparación. Participo en las bienales dei libro de Rio de Janeiro y San Pablo y de la Feria dei Libro de Brasília. Ganó prémios, su nombre consta en el Diccionario de Escritores de Brasília y es fundadora dei Núcleo de Literatura dei Espacio Cultural Zumbi dos Palmares, de la Câmara de Diputados. Destaca en su poesia la musicalidad, lo que ha hecho que algunos de sus poemas se convirtieran en letras de canciones e interesaran a artistas como
Milton Nascimento, Beto Guedes, Osvaldo Montenegro, Renato Teixeira y Geraldo Azevedo, entre otros.
Traducciones de Long-Ohni
APELO
Recolhe tuas armas,
homem!
Silencia o estampido
dos canhões
e cobre de pétalas
o sangue que derramaste.
Ouve o clamor
de teu semelhante
a pedir-te paz
e aquieta-te.
Escuta o choro desesperado
de outros homens
e estende as mãos
calejados de gatilho
para oferecer um afago.
Amansa teu coração,
homem!
Destroi as algema do rancor
e, de mãos dadas com a vida,
abraça teu irmão
e segue com ele
na trilha do amor.
APELO
¡Recoje tus armas,
hombre!
Silencia el estruendo
de los cañones
y cubre de pétalos
la sangre que derramaste.
Oye el clamor
de tu semejante
pidiéndote paz
y aquiétate.
Escucha el llanto desesperado
de otros hombres
y extiende las manos
encallecidas por el gatillo
para ofrecer una carícia.
¡Amansa tu coraz´~on,
hombre!
Destruye los grilletes del rencor
y, de manos dadas con la vida,
abraza a tu hermano
y sigue con él
en la huella del amor.
ABAJOUR
Não apague
a chama da lua.
Deixa acesa
a vela dos amantes.
Não escureça
o lustre da lua.
Deixa brilhante
a estrela da noite.
Não desligue
a luz da lua
Deixa ligado
o abajour dos poetas.
CANDELA
No apague
la llama de la luna.
Deje encendida
la vela de los amantes.
No oscurezca
el lustre de la luna.
Deje brillante
la estrella de la noche.
No interrrumpa
la luz de la luna.
Deje prendida
la candela de los poetas.
GRÃO
A poesia declina brilho
veio antigo
pássaro tonto
grito de milho
A poesia ensina vida
cor de rocha
cara no sol
choro de filho
É palco animado
olho querente
fio de espartilho
A poesia é lua alta
cego andarilho
bom violão
de choronas cordas,
que eu,
doida e travessa,
humildemente dedilho.
GRANO
La poesía declina brillo
veta antigua,
pájaro tonto,
grano de maiz.
La poesía enseña vida
color de roca
cara en el sol
llanto del hijo.
Es escenario animado
ojo deseoso
filo de corset
La poesía es alta luna
ciego caminante
buena guitarra
de lloronas cuerdas,
que yo,
dolente y traviesa,
humildemente pulso.
MÃO DE MAESTRO
Preciso
de uma folha branca
para arquitetar meus traços.
A nuvem cinzenta
de meu cérebro tonto
começa a se colorir de vida
e a linha obtusa
da minha mente embaçada e confusa
parece querer se animar.
Meus dedos
correm soltos no papel
e a folha já não é
tão branca.
Ela ri de cócegas
que faz a ponta da pena
que rejo com harmonia.
Minha mão agora
é o maestro
que, preciso e destro,
rege sem preguiça
a canção de uma poesia.
MANO DE MAESTRO
Necesito
de una hoja blanca
para arquitecturar mis trazos.
La nube gris
de mi cerebro tonto
comienza a colorearse de vida
y la línea obtusa
de mi mente empañada y confusa
parece quererse animar.
Mis dedos
corren sueltos en el papel
y la hoja ya no es
tan blanca.
Ella rie de las cosquillas
que le hace la punta de la pluma
que conduzco con armonía>:
Ahora mi mano
es el maestro
que, preciso y diestro,
dirige sin pereza
la canción de una poesía.
PROCURA
Sobre o chão imperfeito
... teus passos
No meio da rua torta
... teus rastros
Sob a luz da tarde morna
... teus olhos
Atrás de teus pés incertos
... eu.
BÚSQUEDA
Sobre el suelo imperfecto
... tus pasos
En el medio de la calle sinuosa
... tus rastros
Bajo la luz de la tarde tibia
... tus ojos
Atrás de tus pies inciertos
... yo.
*
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Página ampliada em abril de 2021
Página publicada em abril de 2010
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