ILDEFONSO DE SAMBAÍBA
Nasceu na cidade de Grajaú (Maranhão) e reside em Brasília desde 1972. É Titular do grupo literário Academia de Letras de Taguatinga (Distrito Federal); Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo e Relações Públicas); pós-graduado em Literatura Brasileira (Universidade Católica de Brasília) e em Educação (Universidade Portucalense Infante D. Henrique – Portugal); mestre em Teologia (Escola Superior de Teologia, do Rio Grande du Sul), com a dissertação “A Ética sob a Ótica da Poética Candanga”; doutor em Filosofia pelo programa Bircham University (UE), com a tese “Remo, Rima, Rumo: os três erres da filosofia do Homem de Samjahlia”. Funcionário do Banco Central há mais de 30 anos, jornalista, poeta e ex-professor municipal. Na imprensa, teve militância em vários órgãos: funcionário da Imprensa Nacional (editoração do Diário da Justiça); Jornal dos Sports/RJ (repórter); jornalista responsável pelo Escriba (1998/2000), periódico do Sindicado dos Escritores; atualmente, publica no Jornal "Ciência e Cultura" a coluna “Ciência ponto Consciência”. Integrou delegação brasileira que participou do "V Festival de Poesía y Arte de La Habana" (Cuba), em 2000. Verbete no Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos, de Adrião Neto, Editora COMEPI, 1998; verbete no Catálogo da Coleção Especial do Escritor Brasiliense/2000, da Câmara Legislativa do Distrito Federal; verbete no Catálogo de Escritores Brasilienses/2001, da Fundação Cultural do Distrito Federal; verbete no Dicionário de Escritores Brasilienses/2003, 2a. edição, de Napoleão Valadares.
Obra editada
Florescência, poesia, em edição comemorativa pelos 175 anos de fundação da Imprensa Nacional, Brasília, 1984; Vida de Vidro, poesia, Jotanesi Edições / RJ - 1994; Quem matou as Gazelas? (2ª edição), poesia, Fundo de Arte e Cultura da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, Brasília, 2002; Buquê de Urtigas, coletânea poética da obra do autor, editada pela Academia Taguatinguense de Letras e Projeto "O Livro na Mão", para a rede oficial de ensino do Distrito Federal/1999; participante em várias antologias, entre elas, II Antologia de Poetas Lusófonos, editada em Portugal, em 2009; Brasília Vida em Poesia - 36 anos, DF/1996 (org. de Ronaldo Mousinho), e três outras, bilingües (português/espanhol), Espejos de la Palabra/1999 e Poesía de Brasil/2000, editadas pelo Proyecto Cultural Sur (integra autores da autores da América Latina); Entresiglos – Selección de poesía de autores contemporáneos , Bianchi Editores, Montevidéu (Uruguai), 2002.
Fortuna Crítica
"Se um Buquê de Urtigas não nos tirar do lugar, o que mais o fará? A poesia de Ildefonso Sambaíba é assim, tanto buquê quanto urtiga. Explico: a suavidade das palavras, das imagens, é uma pista-falsa. O poeta esbanja uma intensa consciência, por vezes amarga, na maior parte das vezes crítica, dos seus sentimentos, ou seja, dos sentimentos do eu-lírico."(Sylvia Helena Cyntrão – doutora em teoria literária, pela Universidade de Brasília e chefe da revista Universa, da Universidade Católica de Brasília);
"Buquê de Urtigas é uma coletânea com 49 poemas, subdividida em três partes. Na primeira, há um lirismo construtivo do homem-cidadão, aquele que se fez identidade diante do espelho, sem ser Narciso. Na Segunda parte, homem e poeta, em linguagem essencialmente metalingüística, interpretam o mundo, dissecam dizeres e fazeres da poesia e da antipoesia de viver e de fazer versos. A terceira parte é o que se poderia dizer de constante migração: é o homem que veio à busca do poeta, deixou seu norte (Nordeste) e não consegue ficar distante dos seus sentimentos." (José Ferreira Simões – mestre em Educação, professor da Universidade Católica de Brasília e Presidente da Academia Taguatinguense de Letras/DF, escritor e poeta);
"A obra Buquê de Urtigas apresenta-se adequada para a clientela à qual se destina: estudantes do segundo grau. O autor utiliza-se de linguagem coloquial, recurso de grande importância para construir a formação do leitor... poemas permeados de grande musicalidade, rimas e recursos estilísticos, capazes de atrair, encantar, enfim, seduzir o leitor." (Renata Rodrigues Freire - Representante da Fundação Educacional do Distrito Federal, na comissão de seleção de obras para o Projeto "O Livro na Mão");
"A poesia é seu reino. Continue a ser-lhe fiel. Gostei de lê-lo, em Vida de Vidro."(Antônio Carlos Villaça - escritor e membro Academia Brasileira de Filosofia - Rio de Janeiro).
"Foi com grande satisfação que recebi Vida de Vidro e constato que a produção cultural maranhense se manifesta em diversas partes do país. E o que é mais importante, com qualidade." (Fernando Bicudo - Teatrólogo, presidente do Centro Cultural Ópera Brasil, e do Teatro Artur Azevedo - S. Luis);
"Vida de Vidro descreve a trajetória poética e pessoal de um autor que alia a compreensão do mundo à preocupação com a forma... Em versos bem construídos são impressas reflexões, crenças, reminiscências e utopias. O conjunto reforça a tese de que a poesia é e será sempre necessária.” (Zuleica Porto – Jornalista, resenhista e cineasta - Brasília).
"Em Florescência temos uma poesia que nos traz a personalidade do poeta, ambivalente... Uma poesia nativa de raízes distantes – o velho interior do Maranhão; uma poesia solitária, que brota dos cerrados de Brasília; um jogo de palavras, de sentimentos e realidades.” (Manoel Antônio Barroso – Jornalista, articulista e critico literário e resenhista - Brasília).
Prece IdS
Ó Mestre,
És luz que manobra mentes rumo à compreensão do mundo
Gratidão plena por excluir-me de sofrimentos maiores
Torna-me forte e abranda meu coração!
Amém.
Poemas de Ildefonso de Sambaíba
Vida de Vidro
(aos frutos incertos
do futuro... juro!)
Quando nos vem tal a espinhos
cravados entre a carne e a unha,
doída;
Doma lobos que habitam fendas,
entre as pedras, entre as lapas,
lapida.
Ainda que farta e desimpedida,
há uma pergunta a ser res-
pondida:
Onde foste, ó doce encanto
um dia profícuo e encantador?
Que se retraia meu espanto
atormentador!
“Si dar” é adaptar-se
ao tempo, incontinente,
que não aprendeu retornar ...
... acepções cujas deveriam
não constar em gramática.
Vida enigmática:
Vidraça!
*** *** ***
A flor de káktos
Quando de mim
nenhuma palavra, sequer, nascer
estarei mudo?
Quando de vós
nenhuma idéia, sequer, verter
cessara tudo?
– É inútil pensar
que nada mais restará
a não ser partir e calar
Então vinde, ó vozes,
ao permanente encontro
com os caminhos da luta!
Em campo raso
não há palco, nem cenário
Somos nós em nosso plenário
Em território neutro
não deve haver ressentimento
Somos nós em nosso parlamento
Aqui nada pode ser negado
Somos condutores da verdade
tragada em palavras límpidas
como flor em galho sem folhas
(a flor de káktos)
E ninguém
se renderá ao fracasso
Quanto a mim
só quero um destino:
ser feliz!
*** *** ***
Quem matou as gazelas?
Deixem-me exaltar as formosuras
e nada mais pedirei
até que a próxima noite envelheça
e um novo dia amanheça
Vêm-me lembranças
das moçoilas em perfil escultural
convidando-nos a compartilhar da ceia
Vejo o arco-íris
pendente, debruçado acima dos cumes
Místico facho...
faixa multi que me encandeia!
Ai! Agora há confronto:
Gazelas deterioradas exalam
retalhadas sobre o capim da savana
(lidam com as brutas leis das selvas)
Qual das três cenas
pode o artista fazer não constar
na aquarela que irá para moldura?
(desenhará fugas, ausências e relvas)
Omitir é uma forma de mentir
Quais os critérios de sutilezas
para reconstrução de belezas?
Meditativos nos alpendres
queiramos prever
só risos.
*** *** ***
Flagraste minha alma em repouso
Tanto quanto Johannes Vermeer
inspirou-se nas belezas de Delft
Além mais do que Marcel Proust
encantou-se com “Vista de Delft”
impressionei-me por ti
– Quando Atos Institucionais
eram as leis válidas no País
No campus fervilhavam filhos
Nos campos guerrilhavam pais
Sob rescaldos daquela fogueira
o ataque da águia rasteira
sobre a presa indefesa
(flagraste minha alma em repouso)
Impassível, tornei-me cativo
das tuas aparentes ausências
de estética, de poética...
diabrete!
Dezoito anos após
encontro desculpas
que tanto buscava:
eu te amava!
*** *** ***
Se prometi menti
Citaríamos a situação
Estávamos tu e eu
numa colônia
num coliseu
Espalhei
nos quatro cantos
superstições
Ofereci bons atos
em orações:
Grutas de chamas
pular
Muros farpados
polir
prometi?
*** *** ***
Lavradores dos Sentimentos
Têm os artistas
mais luz nas vistas
ou são apenas artistas?
– Dragam dos mares
dragões dos males
Malabaristas?
Além, nos lares
têm sonhos altos
Alpinistas?
Na paz do ócio
são poetas
Lavradores
dos sentimentos
No equinócio
semiprofetas
Trabalhadores
dos pensamentos
São alquimistas?
São simplesmente
artistas.
*** *** ***
Sarah-Cura
(à hospitalidade)
Campos de Goytacazes,
óleo de pedra dura
Campos de Jordão
fonte de água pura
Sarah: oficina de cura
Campos da Paz
Campos Formosos
(campos belicosos)
Cantai
com total candura:
Germinam roseirais
a semente está
madura!
*** *** ***
Outono de cedro
Flores
exalam e expiram
de forma poética
Frutos
recém-madurecem
de forma patética
No outono da vida
homem é fruta ma-
dura...
dura dialética!
*** *** ***
O “z” da questão
Mariete
esbarrou
na muralha da incredulidade
Dizia ser atéia
Marizete
embarcou
na enxurrada do total fanatismo
Seguia meio à toa
Marionette
equilibrou-se
na eqüidistância daqueles extremos
Fingia como um’atriz
Para vossas mercês,
com “z” maiúsculo:
nota 0,3.
*** *** ***
Caem tábuas do palanque
Fale-se tudo
antes que as tábuas do palanque
comecem ranger e ameacem ruir
- Fica-se mudo
se o último confidente
razões tem para se despedir
...se todos os recados
já se fizeram transmitir
...se nenhum auditório
quer-nos outra vez ouvir
O grito há de ser profundo
quando poliglotas
diálogos em nosso dialeto
se recusam a traduzir
Afonia é tormento
Elaboremos o ungüento:
clamar, clamar, clamar
pra curar e ungir.
*** *** ***
Anéis de Saturno
(Embriaguez)
No primeiro trago
zero, nadinha
percebi
O segundo trago
foi o primeiro
que repeti
Nos tragos terceiros
os anéis de Saturno
reconstituí
E os demais tragos?
Moldaram estragos
e nem os vi
Pouco sobrou:
amparar
reparar
ré!
*** *** ***
O tom da toada
A melhor escola é o mundo
Repleto de sabedorias,
ápice das utopias
Competências de fada
Demonstra
o tom da toada
Compassos do fado
Repete
e haja tablado!
Tanto ensina
Tanto ensina
Tanto ensina
que se aprende
ou se desatina
tonto.
*** *** ***
Maria Pia
Quisera
ser boa companhia
para as pessoas dignas
de piedade
Quisera
ter companhia
de pessoas dignas
e pias.
*** *** ***
C.O.M.
O mundo
é como nós
incompleto
O mundo
é comigo
complexo
Confuso
pára... fuso!
*** *** ***
Dói
Há dor na alma:
A dor do corpo
Dores distantes
Dores vizinhas
...talvez
nem fossem minhas
não fosse eu pó...
poeta.
*** *** ***
Fiel
Agüentar até a final
Ver a última cena
Contar a história
total
Testemunha fiel
não balança
pesa.
*** *** ***
Tête-à-tête
Ao olhar a claridade,
todos franzem a testa
Nas mesmas caras
mesmas caretas
Às mesmas mulas
mesmas muletas
em seus andares
Homens
são iguarias iguais.
*** *** ***
Eva
Caçar em um cassino
sobras do destino
Perseguir, peregrino,
sombras do assassino
Trafegamos trôpegos
para rumos incertos
- Bando bandido!
Mar-Morto
nave navegar
Aborto
Eva evitar
Vida!
*** *** ***
Sonora Catástrofe
Guardaram armas
nos armários
Um mau hábito
Mencionam mentiras
com palavras ricas
de mau hálito
Agora chega:
Daí pra cá, nenhum passo!
Obediência e sapiência
O chão mesmo
donde brotam hortaliças
consome todas as carniças
Goteja!
*** *** ***
Nas terras dos marabás
O Rift-Valley e sua tradição:
africanos masais
bebem leite com sangue
e bocejam à sombra dos baobás
Vales brasis: tramita a traição
e bravos braçais
derramam suor e sangue,
a bala, nas terras dos marabás
Ó, alminha etérea!
Flutuavas entre os astros
Bailavas em altíssimos astrais
Suponho, foste sugada
(displicentemente atraída)
Vieste morar em estes murais
Não chores a cântaros
Tudo é passageiro
Verás!
*** *** ***
Grito Iinfinito
Vaza bílis
nos calcanhares-de-aquilis
A pobreria caótica
faminta degusta
sopa-de-pedra
Oxalá cuscuz!
À minoria exótica
voraz e robusta
cálices tintos até
filé de avestruz
Excêntricas
formas de alimento
Homólogas
fôrmas de excremento
...igualmente
jorra faeces
(jarra de pus)
pelos respectivos
cuuus ...
*** *** ***
Nos intervalos são cavalos
A solidão mora na cidade
Vizinha à perversidade
Gera comportamento
de pedra e cimento
A léguas
soltos nos cipoais
semitonam livres os urus
Aqui, logo aqui
nas portinholas frontais
blasfemam eremitas hindus
a marra, o murro
a barra, o burro
a fera, o urro
os homens:
pa-ca-trá pa-ca-trá pa-ca-trá.
*** *** ***
Língua de faca
Caídas pálpebras, ardentes olhos
Vesgos demais de ver-te sempre
escoando por cada narina:
Da esquerda sai veneno
na direita entra morfina
Peçonha com dorsal quebrado
Mui mal consegue arrastar-se
Ainda assim agride e ataca
Tem no bote uma foice
e na língua uma faca
Mais nociva que saliva
de jararaca.
*** *** ***
Ato Inexato
Rasgam-se as cortinas,
ei-los: Pilares sem calços
sustentam sorrisos falsos
─ Vísceras
de indiscretos senhores
Repositório de caras más
Carcaças
de imperfeitos atores
Repertório de máscaras
No anverso dos panos
urdem sôfrega aliança
de disfarces e enganos
...poupem-me!
*** *** ***
Coração de jabuti
No bojo de todo este fole
sacolejam em ampla folia
E a novidade que bole
provoca só embolia
Embaixo de cada tapete
há bafo de hipocrisia
(abaixo deste topete)
Interrogas: E daí?
Vozes te interrompem:
Coração de jabuti!
*** *** ***
Tulipas Negras
Colher tulipas negras
em chãos de pedras
raras
Sorrir contidamente
Temos dentaduras
ralas
À direita volver
À esquerda volver
Em qualquer direção
Crianças...
às traças
Criadas nas praças
Vem ver!
*** *** ***
Prazeres da carne
Em psicosfera influída
másculos e fêmeas
se embrenham
Sob declamação gemida
aos pares se deitam
e se emprenham
Esparrama-se o odor
das carnes fritando
no fogo do desejo:
sexo! sexo! sexo!
cegos ...
e razão vira cacos.
*** *** ***
O assunto assusta
Na sunga
o sangue
Sinal de vingança
O tango
A tanga
Mesquinha dança
O fumo
A fama
Vício, ganância
– O lucro
ou o sepulcro:
um dois três
já!
*** *** ***
Macia Maçã
Leiamos anais de uma história
de conquistas, de abandonos:
– Eram dois corações
Peças avulsas, sem donos
Se conhecem no shopping
(afagos, beijos, drinks)
Se amam no drive-in
Proliferam dois, três rebentos
E enquanto felizes
permitem, desatentos
Da serpente sagaz
em missão sem paz
a sedução fatal: a fatia
da saborosa maçã-macia
Montanhas de mágoas
invadem frondoso pomar
Mútuas máculas
profanam paradisíaco lar
Mas enfim
a torre é de marfim
E mantêm-se feitios planos
pra duas velhices de afetos
a celebrar os lindos anos
junto à platéia de netos...
*** *** ***
Sussurro das paixões
Correspondidas
favorecem à procriação
– Fã atrevido
Se enrustidas
estimulam a criação
fantasiosa
– É o sussurro
das paixões
sêmen das demências
gene dos gênios
ou ...
*** *** ***
O grande abraço
Américas, mares, eurásias,
antártidas, oceanos, áfricas
Abraçados sem qualquer cerimônia
se agarram sob o Sol a pino
se esfregam, fazem amores
...plenos
Exibem paixões imantadas
Machos e fêmeas grudados
num feixe único
Os refluxos nas praias
produzem gemidos
Os reflexos dos raios
se fundem – fluidos!
Edifiquemos esta química
que faz surgir
vidas.
*** *** ***
Os lírios lilases
Ainda que me embriagues
com acérrimos licores
de todos os barris
Não me convencerás
com estas poses
cruéis e viris
Ainda que me enxágües
com as frescas águas
de todos os cantis
a intuição vem e diz:
Nada é igual à suavidade
que deu Margaret Mee
aos desenhos lilases
de suas flores-de-
lis.
*** *** ***
Pam (pãrãrã) pam-pam
Tua presença traz terremotos
ao pobre anjo que me guarda
E incontida vontade de fugir me atrai
Só um pecado-mortal
arderia com tal lampejo
no momento em que trêmulo te vejo
Mas te digo:
As vitrines que vês
As páginas que lês
e o quadro na parede
se deixam violar por teus olhares
Eu jamais!
Oculto minha paixão adúltera
e ela continua... ... ...
intacta.
Página publicada em abril de 2012
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