H. HAYDT DE S. MELLO
HAYDT MELLO (Humberto Haydt de Souza Mello), de Rio de Janeiro, RJ, 30.06.1938, escreveu, entre outros, TRATADO DO HOMEM(1978), O MANUSCRITO PERDIDO DE FREUD (1987), sem dados biográficos completos nos livros e sem qualquer outra informação ao alcance da pesquisa, via textos publicados. Após os estudos primários em sua terra natal, deslocou-se para outros centros, onde também estudou. Formou-se em Medicina. Mudou-se para Brasília em 1963. É encontrado no DICIONÁRIO DE ESCRITORES DE BRASILIA, de Napoleão Valadares. Médico, Escritor, Ensaísta. Membro de diversas entidades sociais, culturais e de classe. Apesar de sua importância, não é suficientemente estudado na ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho, edição do MEC, 1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho, em 2001, ou no “DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO”, da Fundação Getúlio Vargas, publicado em 2002 e nem é convenientemente referido, em nenhuma das enciclopédias nacionais, Delta, Barsa, Larousse, Mirador, Abril, Koogan/Houaiss, Larousse Cultural, etc. É verbete do DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO REGIONAL DO BRASIL, de Mário Ribeiro Martins, via INTERNET, dentro de ENSAIO, no site www.usinadeletras.com.br.
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MELLO, H. Haydt de S. Antígona: poema dramático em três atos. Brasília: Colégio Freudiano de Psicanálise em Brasília; O autro, 1995. 224 p. 19,5x26 cm. Impressão: Báscula – Centro Cultural – Editora. Ex. bibl. Antonio Miranda.
“É preciso que se veja e se ouça Antígona retorcida de dor não só por estar marcada definitivamente pelo trajeto que fez junto a seu pai cego, destronado, banido, execrado; não só por ter com ele buscado, até ter encontrado a terra que, tanto política quanto geologicamente, abriu-se para ele como digníssima sepultura.” HAYDT MELLO
PEREGRINA
Busca de aplacamento.
ANTÍGONA
Assim esperei que meu pai pisasse,
Entre muitas, terra que lhe servisse:
Nem quente, nem fofa; nem seca, nem fria;
Nem dura ou molhada, ou terra que se arasse;
Mas terra só, chão que, como u´a bolsa, se abrisse
Ao presente, de sua presença, fresta que o reconhecesse
Como um final de todos os começos, desgraça
Que o acolhera, tal como à água se entrega um cuia
E, no absoluto da pura aderência, é do oco que se ocupa,
Em todo um contorno que, por dentro, não se sabia.
FICÇÃO
O humano é mais que corpo e eu.
CARPINTEIRO
O humano que há no humano
E que está nesta carcaça,
É certo que não morreu,
É certo que isso ultrapassa
O que se entende da vida,
É da vida que aí viveu.
RESGATE
Acabar com autor e autoria.
COMANDANTE DA GUARDA
Quero arrasada e banida a presença deste rito
Que suplanta a minha dor co´a pedra, a fama e seu grito!
Quero insepulto o insepulto! Do ódio, dai-lhe a salsugem!
Aquela carne, quero-a exposta:entreguem-na aos bichos
que surgem!
Quero que acabem co´o autor, e toda sua autoria
De ter refeito o amor co´a dor de tanta alegria!
Quero arrasada a estátua erguida à minha ruína!
Quero-a suja e coberta de cuspe, fezes e urina!
JURAMENTO
Condição de humano é inumação como ética.
ANTÍGONA
Viemos dos dentes da fera, nascemos deles co´a terra;
Teu leito de morte terá, da terra que o tragará,
A fera de novas amarras sem marca de presas e garras!
Um dia a pedra de toque dirá do ouro a pagar,
Em outro e certo momento, como outro ouro trazido,
Do cerne, do fundamento, do centro da pedra angular!
TESTEMUNHA
Quem viu virou mulher.
(...)
PASTOR
Dizem-no agora um poeta, já que é cego e atordoado;
Que, por ser vate, foi rebaixado a profeta,
CARPINTEIRO
Pois esse tipo de gente que só falta o que não presta
É que fala o que desmente quando o silêncio é uma festa.
RELATANTE
O flagrante é lavrado.
SOLDADO
Surgiu, do meio do pó sugado em torvelinho,
Um vulto que correu, ajoelhou-se junto as animais
Que esgarçavam aquela carne.
COMANDANTE DA GUARDA
Era ela, senhor! Era a princesa Antígona
Que gritava os gritos mais horríveis
E, com os animais, como se um deles também ela fosse,
Disputava aquele espaço, facilmente vencendo as bestas
Por uns golpes desenhados entre elas
Que, desta forma, mesmo não atingidas,
Foram magoadas pelas lâminas de uns gemidos
Que nunca de humanos tínhamos ouvido!#
SENTENÇA
Encerramento.
CREONTE
Encerram-na viva em tumba
Onde morra e apodreça sem descanso!
Onde se acabe e não possa,
Mesmo que morta e desfeita;
Onde não possa jazer senão sem conforto:
Sempre, sempre de pé!
REITERAÇÃO
Derrota como vitória.
TIRÉSIAS
Não é da guerra que falo, não é da luta,
Que bem sei o quanto dela que venceste,
E de modo tão repleto em maravilhas,
Tão eloquente, tão diretas e ostensivas
Que tremo por elas não temeres!
Página publicada em junho de 2018
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