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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


HUGO CREMA

HUGO CREMA

A tomada da consciência do dever poético foi simultânea ao encontro com a palavra. Ela ali diante de mim e ao esbarrar eu soube de uma vez, o dever do poeta não é para consigo ou para com outros ou para com os sentimentos do mundo; é um trabalho de edificação dos escombros de si mesmo e de sua realidade por meio do contato com as palavras, sendo estas não apenas a luva por meio da qual toco o que  me circunda e circunda outros e sim a silhueta mesma das coisas. Há um compromisso implícito em cada poema, desde o primeiro canto da Ilíada, desvendar a proporção entre tudo e nada, entre um pássaro e um poste, um motor e uma ninfa, um deserto em coma e um rio de súplicas através do sistema taxonômico da língua que, mesmo adquirida, é anterior à experiência, às formas, ao pulso, aos suspiros, às oscilações e aos gestos - o poeta é o material da palavra.

O divã e a escada são muros a ser demolidos com a caneta e os dedos trêmulos.

Poesias: fromhellwithlasers.blogspot.com

 

 

 

 

claro, prefiere mirar al mar

            Enrique Vila-Matas

 

 

são dois que andam em calçadas separadas

estreita a calçada estreitos eles mesmos

ensimesmados querem saber sem olhar para a rua

o porquê das árvores e dos carros estarem delineados pelas montanhas ao fundo

e estas pelo céu que não acaba, mais ao fundo ainda,

atravessam as ruas transversais sem prestar atenção

trombam com cada pessoa levando cachorro e com cada caixa do correio

já pisaram em mais de um pé

foram atropelados por mais de uma porta súbita

seguem absortos cada um sobre um trilho na mesma direção ignorando

presenças mútuas perguntas que compartilham

resmungos que provavelmente serão recíprocos se confrontados

 

são dois que dividem um rumo que não é um destino

querendo o mesmo sem esforço para conseguir

nenhuma pessoa vai dizer que soube ou que quis saber

mas eles se encontram

lá no final da avenida

como um encontro marcado desde sempre

um surge com ar meio ressabiado sem saber a quem se dirigir

tem que esperar o outro perguntar

ah, você também veio

é mesmo, que coincidência, não sabia que você gostava de andar por aqui

pois é, vim pensando nessas coisas de sempre

e seguiriam não sei se pela mesma calçada,

pelo meio da rua

ou em calçadas diferentes

 

pensaram no mesmo

quiseram o mesmo

se encontraram no labirinto da cidade

se encontraram no labirinto de si mesmos

nos intervalos de cada um, na brecha que cada um

soube aproveitar só porque não tinha planejado fazer isso

caminharam pelas artérias um do outro desde já

ignorando ou fingindo

é melhor não deixar transparecer

vai que o outro percebe

o que há por dentro dos gestos por trás das palavras

aí não tem mais graça, é melhor manter sem saber

e ficar na sombra da dúvida

vai que se encontram por ali

 

quase todo mundo sabia:

os prédios previram

os carros a toda velocidade mentem, eles também previram

as coisas enfileiradas, que são a forma da cidade:

postes

canos

fios

anseios

represas

amanheceres

caminhões

poças de água

mendigos sob marquises;

a imensa fila que a cidade é previu -

se corriam paralelos na mesma direção

se perguntavam o porquê da cidade e da vida serem assim

se se encontraram, como quaisquer paralelas, num infinito

que é o âmbito dos pensamentos disfarçados de palavras

não importando a timidez narcisista de um

ou a ambição recalcada do outro

ou se quererão se ver quaisquer outras vezes

naquela convergência do esgoto de onde vivem

esgoto/vísceras/entranhas/sangue&pus ali desemboca tudo

o que corre desplanejado pelas ruas -

a colisão era visível a curto prazo

 

como um jazz modal

sem harmonia mirando um alvo bem longe

um jazz mortal/o saxofonista é um atirador cego

de facas cegas que só perfuram os órgãos

deixam intacta a pele das intenções que os juntaram

um uivo bem longe que cruza a rua

avança o sinal muda o sentido do que há até ali

naquele ponto final depois do desvio

perto da ponte que ninguém usa mais

 

sob andaimes e ao longo de entradas do metrô

antes de esbarrar já se perderam sem aviso

sem pânico para não dar mostras

não precisar parar para pedir informações

 

são dois que andam

um pelos olhos do outro

 

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Fora de temporada

é preciso que ela não esteja

em todo lugar que você procure pra poder

perceber que ela está em você e isso é irreversível

            Eloisa

 

 

te leio em caligrafias estranhas

e mulheres desconhecidas

não é raro topar com um gesto seu

sorriso seu deslocado

palavra sua fora da ordem

num muro em outros rostos

em postes e constelações

em outros letreiros luminosos

só vislumbro você

 

__________________________________________________________

 

Códigos vistos do alto.

estos hallazgos me sobresaltaban, me alteraban

hasta el punto en el que yo dejaba

de parecerme a mí mismo

            Roberto Bolaño

 

Um círculo de giz

sinal em uma plantação de azulejos encardidos

demarca

uma silhueta-ex foi o último escrito

a caligrafia torta do sangue em seus braços

 

à máquina, a bala digitara no tórax

a pontuação morse da bebida de sempre

 

último grito só ouviram o garçom

nome: willem dafoe com mais verrugas

o cachorro e uma puta

uns dizem que foi um verso de baudelaire

outros dizem que vomitou gestos e pus

 

corpo estirado entre duas mesas de lata

desabrocha presença

uma árvore velha

frondosa, cujos dentes-folha vai perdendo

(quem vê de fora sabe)

o dono não se dá conta

continua espanando copos

espantando moscas

 

o buraco é uma segunda boca

uma língua enorme caudalosa

extroverte vermelho

inunda e mancha os sapatos

 

mãos rígidas e olhar embaçado

de quem perdeu o emprego

a caneta a mulher

o ônibus

e pagou pela dose que não consumiu

 

livro recusado nas editoras

caneta estava sem tinta

e a poesia não convencia mais nem as donzelas

nem os mendigos

continuava tentando

era uma chaleira impassível só com água

em ebulição

 

dono saiu

poste apagou

e as portas da pálpebra fecharam

 

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Nascituros revêm

a mais vistosa violeta velada da vila

            Finnícius Revém - James Joyce/Donald Schüller

 

 

Espreita porta adentro

Sorri sorrateira para ninguém

Parece fingir não perceber

 

Entra e resolve

 

Olha de esguelha,

Parte e

Quero crer que se

Certificava de que

 

Nela imagino um sorriso mínimo

Infinito ínfimo

Condescendente irônico que

Quero crer que (h)ouve

 

Mas sim,

Sai triunfante
Por conseguir

 

 

Página publicada em fevereiro de 2010

 

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