HEZIO TEIXEIRA
Nascido em Minas Gerais, viveu a infância e a adolescência no Espírito Santo, vindo radicar-se em Brasília em 1977. Seu gosto pela poesia vem da infância, quando recitava em festas religiosas e estudantis.
Sonhando com ela...
Imagino sua doce companhia
Luz se dissipando na folhagem.
O sol se pondo, numa forma esguia.
Sua sombra no quintal retrata.
Encarnada trama sob os cristais sugere
Do entardecer gozar a quietude.
Sorrir, brincar mostrando a alma.
Dormir, sonhar, acordar pra vida.
Dum tinto, o degustar inebriado.
Por mim, eu levaria assim a vida,
Eu, você e, atrevida, a luz da lua.
Nos vendo pelas gretas do telhado.
Um cheiro feminil me invade o olfato
Aguça o paladar, refina o tato.
Extasiado toco-lhe a pele.
E a bebida lentamente desce.
Ferve o sangue, súbito a casa doura.
Em tua taça vítrea reluzente,
Sedento, extenuado bebo a vide.
Nas curvas do seu colo derramada.
Desencanto
Sentado exausto entre o sol e a lua
Descansava da lida um trabalhador de rua
Alegres, teatrais, em pleno alvoroço,
Passam por ele em bando alegres moços
Confiantes no futuro, o calor as faces cora
O andar fincam no chão, como se deles fosse
A dança dos seus pés esperança arvora
Retrata o silente um desencanto trágico
Desconfia do futuro o que agora sofre
Desencantado, caturra ao triste fim de turno.
Cerrado deserto
Há mais de cem dias não chove
Vai-se o agosto causticante
E setembro desponta quente
Olha a fumaça lá longe!
Queimada sempre desastrosa.
Coço-me, ferindo a pele.
Seca dura, impiedosa.
No nariz, ardem gotas de sangue.
O pouco verde é privilégio
Das hastes mais resistentes,
Ao vento seco se opondo,
Umas de outras distantes
A aurora e o crepúsculo,
Com especial encanto,
Todo manhã, toda tarde,
Suavizam nosso pranto.
Mas vindo setembro ocorre
Que Deus nos vê se apiedando
E a chuva copiosa que desce
Mostra-nos o jardim revivendo.
TEIXEIRA, Hézio. Nau frágil. Brasília- DF: 2008. 120 p. 10x15 “Edição semi-atesanal” durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília. “Hézio Teixeira “Ex. bibl. Antonio Miranda
O Bom Senso
Meio termo nunca haverá, neste embate.
Não é o tempo senhor de infame loucura.
Ou remoendo se vive abrolho ulcerante,
Ou se perdoa a tudo com natural soltura.
Humor
Alegrias e tristezas
Igualmente invadem-me o peito,
Quando alcanço ou não alcanço
O que ardente almejo.
Quando vejo ou não vejo
O que devo ou não devo
E, se penso o que não devo,
Se não convém dizer e digo,
Aponta-me a culpa o dedo
Assim, passa lenta por mim,
A vida. Nem sempre a que desejo.
Verdades e vaidades
Certas verdades coram-nos a cara.
Duras expressões o brio ferem.
Pela manhã nos bajula falso agrado,
À tarde a razão nos desmascara.
Língua enganosa golpes nos desfere...
Terrível é o sabor do desagrado
Cartão-convite de uma das apresentações do poeta:
Página publicada em outubro de 2008; página ampliada em junho de 2016.
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