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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HENRIQUES DO CERRO AZUL

JOÃO HENRIQUES SERRA AZUL
(1936-2015)

 

 (João Henriques Serra Azul) - nasceu em Fortaleza (CE), em 4 de janeiro de 1936. Dipl. em Direito. Veio para Brasilia em 1963. Advogado, professor, funcionârio do LAPI, subprocurador-geral da Repûblica. Colab. em periôdicos. Pert. à Associaçào Nacional de Escritores, à Casa do Poeta Brasileiro/DF (présidente), à Academia de Letras de Brasilia, à Academia de Letras de Taguatinga, à Academia de Letras e Mûsica de Brasilia, ao Instituto Histôrico e Geogrâfico do Distrito Fédéral. Bibl.: Sonetos e poemas, 1969; Trânsito onirico, 1991 ; A poesia dos astros, 1992.

 

Poemas selecionados por Anderson Braga Horta

 

AUSÊNCIA

 

Por que demoras tanto? Cada instante

Se arrasta como uma hora vagarosa;

E há tanto que te espero, esbelta rosa,

Rainha e dona do meu peito amante.

 

O tempo, nessa marcha preguiçosa,

Faz de um minuto um século hesitante,

Que não quer avançar, ir para diante,

Nem dar-me a tua imagem vaporosa...

 

Chegas, enfim, e pagas a demora

Com um beijo, quase a me dizer: "Perdoa!"

E abres no riso uma esplendente aurora.

 

Todo me enlevo em tua imagem boa...

E o tempo que parou, meu Deus, agora

Que estás aqui, como ligeiro voa!

 

 

O SONHO

 

Gozar a vida? Só por intermédio

Do sonho. O gozo, no correr dos dias,

Todas as ilusões e as alegrias

Tornam-se tema para um epicédio...

 

Só o sonho é que serve de remédio

A tão grandes e tantas nostalgias,

Pois em meio de mágoas tão sombrias

Até o próprio amor nos causa tédio.

 

O sonho, não! O sonho não nos cansa!

Bendita, pois, a mística esperança

E todo aquele que consegue tê-la...

 

Pois é o sonho que faz, bendito engano!

A gota d'água se julgar oceano

E o pirilampo se julgar estrela!

 

 

LUTA

 

Eu sei compreender a Dor Humana,

A angústia universal, a ânsia terrível

Que une todos os homens e os irmana

Na busca da Ventura inatingível!

 

Pois a Arte, a Religião, a Ciência insana,

A procura do Bem incognoscível,

Toda a Filosofia que promana

Do homem, é apenas pela Dor possível!

 

Tudo isto é a luta universal acesa

Do ser Humano contra a Natureza;

É a luta! E pela luta, em toda a parte,

 

Desvendam-se os segredos e os mistérios,

Surgem a Ciência, a Religião e a Arte,

E crescem as cidades e os impérios!

 

 

O JUAZEIRO

 

Quantos falam de ti, por que és virente,

Quando a seca fatal, requeima e abrasa.

Não há um pingo d'água na corrente,.

Não há no espaço morto uma só asa.

 

O sol, como urna exclamação ardente,

Arde rubro no céu, como uma brasa,

E os retirantes deixam tristemente,

À mercê do abandono, a sua casa...

 

Mas porque ficas enfrentando a tudo,

Quando tudo em redor é seco e mudo,

Quando tudo é deserto e abandonado,

 

Ó Juazeiro, és um símbolo profundo:

Pois representas para o desgraçado

Que há sempre uma esperança neste mundo!

 

 

O FERREIRO

 

É forte, musculoso, alto e grisalho;

Dentro daquela furna estreita e morna,

Ao malho que rebate e que retorna,

Da ao ferro outra forma em seu trabalho.

 

Tudo da luz braseada então se entorna:

E araponga que grita em alto galho,

Grita, arrogante, novamente, o malho

Batendo sobre o ferro na bigorna!

 

E ao ferro outra feição, outro proveito,

Vai dando... Assim também do mesmo jeito

Eu transformo as angustias do meu Dia...

 

Ah! na bigorna dos meus sofrimentos,

Ferreiro singular, eu, em poesia,

Vou transformando as dores e os tormentos!

 

 

 

 

AZUL, João Henrique de Serra.  Antologia poética.  Brasília: Libri Editora, 2016.   584 p.  15x22 cm.  Organizada por Raimunda Ceará Serra Azul.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília. 

 

A UM PÁSSARO CATIVO

Cantas até os últimos minutos
Todas as melodias do teu seio,
Bem como a árvore amigo que deu frutos
Ao mesmo lenhador que a corta ao meio...

Da mágoa, ferem-te aguilhões hirsutos.
Contudo, cantas à tristeza alheio...
Se eu costumo chorar de olhos enxutos,
Tu costumas chorar com teu gorjeio.

Porém contigo como me pareço;
Sofres — e expandes melodias santas,
Sofro — e gargalho quanto mais padeço.

Não penses que enlouqueço e tresvario:
— Como tu, que soluças quando cantas,
Eu choro, passarinho, quando rio.

 

A CORRENTE

Por este bosque víride e sombrio
Que vejo ali, de trás de tua casa,
Mansa e serena, deslizando rasa,
Passa a corrente de um sereno rio...

No espaço se ouve o sacudir de uma asa,
Da corrente no doce desafio;
Mas nela vais mirar teu corpo frio
Que um perfume mirífico extravasa.

Chegaste. Deste-lhe um sorriso ardente
E desatasse a voz serena e doce,
Encantadora e virginal imagem...

E te foste mirar... mas a corrente,
Amorosa, de súbito, gelou-se
Para reter-te a sedutora imagem.

 

 

 

LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO  ESTADO DO MARANHÃO.   Dilercy Adler, org. São Luis: Estação  Produções Ltda, 1998.  108 p.  Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil        Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

VIAGEM VISIONÁRIA

 

 

Ergo os meus olhos em visão geométrica,
encantado com a luz deste espetáculo...
Quero o poder das rimas e da métrica,
para os versos compor sem obstáculo.

 

Eu vejo uma visão paradisíaca,
digna de um verso heroico ou verso sáfico.
Mas hoje eu quero é verberar o tráfico
que fez esta nação ficar maníaca!

 

O vício assume proporções marítimas:
tomando a pena, vou fazer um gráfico,
mostrando o crescimento dessas vítimas,
escravas das angústias ilegítimas,
com um fundo maldizer autobiográfico...

 

Por isto exorto às câmaras políticas
—que discutem problemas ortográficos—,
para que, em gestos cinematográficos,
façam valer as verdadeiras críticas!

 

E exijo a precisão de um logaritmo
para acabar com essa miséria trágica:
Tudo se mude, numa ação de mágica,
para que eu possa decantar com ritmo!

 

Volte a falar de essências ambrosíacas
que se desprendem das visões seráficas!
Faça imprimir canções nas grandes gráficas,
com o som candente das canções orgíacas!

 

Que todas as verdades ontológicas

o Poeta possa colocar na súmula,

para que a inspiração, erguendo a plúmula,

faça belas estrofes antológicas!

  

 

 

VIAGEM AO EGO

 

Tu és um ente subjetivo, intrínseco,
íntimo, radical, ínsito, básico,
por diferir dos mais teu ser anímico
e esse teu pensamento idiossincrásico...

 

O pensamento do teu ser congénito
é teu, somente teu, interno e orgânico:
nasceu contigo e com o teu sonho ingênito
e há de seguir-te com um terror tirânico.

 

Tua alma segue de esperanças ávida,
mas esse teu anseio é característico,
—nasceu contigo e de tua pávida
e enche de crença e fé teu sonho místico.

 

Estão na realidade do teu ânimo
as tuas ilusões, num doce acúmulo;
Tua grande alegria ou teu desânimo
são teus e serão teus até o túmulo...

 

 

OFICINA – cadernos de poesia  29.   Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2001.  108 p. 23 cm.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

VIAGEM AO CAMPO

Vou montado no dorso de uma azêmola...
Rompe uma estrela a cerração translúcida!
— Bei sei que o brilho dessa estrela trêmula
para outro mundo é uma alvorada lúcida!

 

Como brilhantes lágrimas piróforas
rolam os mundo pelo azul pelágico:
mas são as plantas colossais enóforas
para colhê-las neste instante mágico!

Desponta o Sol. Há muitas efemérides...
Cantam as aves com uma voz blandíloqua.
E eu quisera a harmonia dos homéridas
para compor uma canção grandíloqua!

Um raio corta como horrível êmulo
o seio doce e boom da nuvem célica...
Mas o orvalho que cai, límpido e trêmulo,
vai dormir na corola de uma angélica...

Ouço latidos de um temível Cérbero
que lá passa, correndo, entre as coníferas...
Mas as gotas de orvalho, num revérbero,
são astros sobre flores odoríferas.

Um cheiro forte e bom de frutos ácidos
e um gosto alegre de laranja acídula
vão-se espalhando pelos campos plácidos,
ante a algazarra da cigarra estrídula!

 

VIAGEM NA MADRUGADA

A aurora surge... Ouço o Divino Espírito
que anima a voz da Natureza enfática:
E é toda a Criação seu perispírito
que se derrama na amplidão dramática.

A árvore canta, distendendo os músculos;
ouve-se um vago sussurra de cálamos...
A madrugada aponta nos crepúsculos
mas depressa se esconde atrás dos álamos...

O monte veste o nevoeiro imáculo...
Foi assim em paisagens bucólicas
que Jesus construiu seu tabernáculo
para vencer as tentações diabólicas...

E orou nas tentações mefistofélicas...
Assim, por isso, na floresta exótica,
há um perfume de preces evangélicas
como na nave de uma igreja gótica.

Agora, pelas árvores esquálidas,
o vento enfia os dedos anestésicos,
afaga as folhas com branduras cálidas
e desperta ternuras sinestésicas...

Surge uma deusa que profere um cântico:
tem o olhar de uma estrela suave e cálida
e o sorriso de lírio alvo e romântico
que enche de luz a madrugada pálida!



*

 

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Página ampliada e republicada em novembro de 2022

 

 

 

 

Página publicada em julho de 2009; ampliada em outubro de 2016; Página ampliada em outubro de 2019

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