HÉLIO SOARES PEREIRA
Natural de Teresina, Piauí, formado em Letras ( Língua Portuguesa e Literaturas Latina, Portuguesa e Brasileira ), havendo iniciado na Fundação Universidade Federal do Piauí e concluído no Uniceub (DF). Fez pós-graduação em Moderna Literatura Brasileira (DF), e Metodologia e a Didática do Ensino (SP). Em Teresina foi auxiliar de escritório, inspetor geral da polícia estudantil secundarista (1963 até 30/03/64), e delegado de polícia (1º DP, de 1970 a fev/74). Chegou em Taguatinga (DF) em 1974, trabalhou no jornal Correio Braziliense, Caixa Econômica Federal e Banco de Brasília (BRB). É professor da Secretaria de Educação do DF. Membro-fundador da Academia Taguatinguense de Letras, do Sindicato dos Escritores de Brasília e da União Brasileira de Escritores ( seção,Brasília/DF ). Colaborou na criação da Biblioteca Braille Dorina Nowill em Taguatinga, DF.
Bibliografia: Onde o Horizonte vem Esconder-se...(Poesia. Gráfica e Ed. Esteio. Tag, DF/82); Poesia com Chantilly (Thesaurus, BSB,DF/93); Carícias que as mãos e os lábios tecem (Thesaurus, BSB,DF/93); No Laço da Opressão (Gráfica Valci Editora, BSB, DF/98); Eclipse das Mentes (Gráfica Valci Editora, BSB,DF/98); Para que não reste o silêncio (Gráfica e Editora Bandeirante. BSB, DF/2007).
Participou de antologias, dicionários de escritores, enciclopédia de literatura e traduziu alguns de seus textos para o latim, italiano, espanhol, francês, inglês e alemão. Fez texto poético trilíngue e em gíria. Premiado em vários concursos literários. Alguns de seus textos poéticos foram colocados nos ônibus de Brasília, juntamente, com os de outros escritores, SECDF/1995).
O PENSADOR MODERNO
O laço da opressão
espremeu a fome
e da multinacional
veio o aborto
O pensador moderno
- controle-remoto
piscou os olhos
num curto-circuito
e viu o pensamento
reprimido
contraído
corrompido
Então
chegou o eletricista
e colocou
no pensador
olhos novos
importados
(Do livro: Onde o Horizonte vem Esconder-se....
Ed. Esteio. Brasília, DF. 1982)
DUAS AMIGAS
Pelas ruas do meu ser
a morte e a vida
são duas amigas
que passeiam
de mãos dadas
(Do livro: Onde o Horizonte vem Esconder-se...)
O HOMEM E A NATUREZA
Vi um homem praguejando
à margem de um rio
e as águas batendo forte
nos troncos
abafavam-lhe a voz
Vi um homem pescando
à margem de um rio
e as águas batendo forte
nos troncos
harmonizavam o silêncio
do pescador
(Do livro: Onde o Horizonte vem Esconder-se...
Ed. Esteio. Brasília, DF. 1982)
OCEANO DO MEU SER
A ilha do meu jardim
vaga nas ondas livres
do meu pensamento
que me joga
na minha mais distante praia
e me arrasta
no mais fundo oceano
do meu ser
. (Do livro: Onde o Horizonte vem Esconder-se...
Ed. Esteio. Brasília, DF. 1982)
TERESINA
Hoje eu te contemplei
na fantasia
dos meus olhos
E te senti
no calor da terra solta
de minha infância
E subi
nas tuas árvores verdes
de minha juventude
E te molhei
na água filtrada
de minha saudade
(Do livro: Onde o Horizonte vem Esconder-se...
Ed. Esteio. Brasília, DF. 1982 )
AS ABELHAS
Besouros papões
não gostam de abelhas lindas
que bebem nas flores
raios de sol
Nem do girassol
que gira o sol
das tardes belas
Preferem
as abelhas
de rapina
- abelhas
amarelas
(Do livro de poesia infanto-juvenil: Poesia com Chantilly.
Ed. Thesaurus. Brasília, DF, 1993)
BARQUINHO
Coloquei meu barquinho n’água
e deixei o vento soprar
Vai pro mar barquinho!
Vai!
Entra no verde das algas
e lava todas as mágoas
depois vem
Vem passear de trem
comigo
Olha pro sol
sorrindo no céu
E aceita
este abrigo
com muito carinho
barquinho
(Do livro de poesia infanto-juvenil: Poesia com Chantilly)
TODO PRAZER
Todo prazer
traz insônia
Traz alguém
que fica
também
sem
o olhar
que escorre
no canto do olho
e cai
na boca
de quem
sente
a leveza do sim
derretido
nas malícias
de um completo
cio
(Do livro: Carícias que as mãos e os lábios tecem.
Ed. Thesaurus. Brasília, DF, 1993)
FUGIR
Fugir para dentro das ruas
é sentir-me só
distante da vida
sem palavra
sem eco
no exílio
Fugir para dentro de mim
é encontrar-me nos encontros
dos cantos e das fontes
entre as manhãs e as noites
Fugir para dentro das ruas
é esquecer-me nos dias inúteis
é tornar-me desfigurado
entre os figurantes
Fugir para dentro de mim
é libertar-me em gestos crescentes
de amor e memória
(Do livro: Eclipse das Mentes. Gráfica Valci Editora.
Brasília, DF, 1998)
O HOMEM E A PEDRA
A pedra permaneceu intacta
na velha estrada
até o dia
em que o homem
tropeçou nela
e enfurecido
resolveu jogá-la
no fundo do rio
A pedra permaneceu intacta
no fundo do rio
até o dia
em que o homem
precisou de areia e pedra
para construir sua morada
(Do livro: Eclipse da Mente. Gráfica Valci Editora.
Brasília, DF, 1998)
O MALA (*)
A onda anda mansa
nas bocas da maré
sem o agito das moitas
Um mala
pinta no pedaço
na cola
de quem tem trampo
Alguém dá o berro
- Cadê meu cruza?
A boca esquenta
O cana vai fundo
pisando nos calos
do brasuca cara-de-pau
que tenta
fugir da raia
É a maré
que não tá pra peixe
- só pra anzol
O mala é fisgado
com um berrante na cuca
que se funde nos grilos
Mas muito Vivaldino
saca na fuça do cana o chapa
que se liga em cascata
E deixa cair de leve
a gaita
na boca do balão
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(* )Poesia em gíria.
(Do livro: No Laço da Opressão (1964/84). Gráfica Valci
Editora. Brasília, DF, 1998)
CAMINHEIRO DA PROCURA
E o homem parte
à procura de si mesmo
num ponto de luz
criando imagens
- al di la dos sentidos
E passa imóvel
até se descongelar
na alma
e na lógica
de todos os reflexos
Olhos do corpo
Olhos da mente
Nessa oficina de idéias
a luz é um ponto de vista
que mistura as cores ao sabores
e ilusões
E o brilho da noite
ou o brilho do dia
depende da magia
que existe em nós
(Do livro: Para que não reste o silêncio. Gráfica e Editora
Bandeirante. Brasília, DF, 2007)
ANTOLOGIA DE POETAS DE BRASÍLIA. Rio de Janeiro, DF: Shogun Editora e Arte Ltda, 1985. 140 p. Coordenação editorial: Christina Oiticica.
[Este exemplar foi doado por Carlos Edmundo da Silva Arnt, que tem seu poema na p. 27, para a biblioteca da Caixa Econômica, de Brasília, em 1985. A empresa se desfez do acervo e este exemplar foi para a livraria "sebo" de nosso amigo José Jorge Leite de Brito, que por sua vez nos doou um lote de livros para ajudar na montagem de nosso Portal de Poesia Ibero-americana, em 2021. A editora explicava: "Se você é um autor novo e quer editar seu trabalho, fale com a gente.", na intenção de promover a criação literária entre os jovens. ]
BRASÍLIA
Vi hoje Brasília
vestida de mármore
e grama queimada
vi hoje Brasília
Quem terá
a coragem primeira
de rasgar essa roupa
em pleno cerrado
e mostrar esse corpo
de velado silêncio?
O chão de candangos!
— Soterrados nesse barro cor de sangue
— Esquecidos em céu coar de fumaça
Também sou passageiro desse avião
que tem pressa de voar contra o tempo
na servidão do espaço
*
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/distrito_federal.html
Página publicada em fevereiro de 2021
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