HEITOR MARTINS
Nasceu em Belo Horizonte, MG, no dia 22 de julho de 1933. Crítico, cronista, jornalista, professor, livre-docente em literatura portuguesa, editor, membro da Academia Brasiliense de Letras. Participação: Lira sacra, de Manuel Botelho de Oliveira, 1971.
Bibliografia: Poesia — Das emoções necessárias, 1954; Sirgo nos cabelos, 1961; Ensaio — Manuel de Galhegos, um poeta entre a monarquia dual e a restauração, 1964; Bocage e Minas, 1966; O início do conservadorismo ideológico de Olavo Bilac, 1970 (sep. Ver. Ocidente, Lisboa); Oswald de Andrade e outros, 1973; Neoclassicismo, uma visão temática, 1973; Crítica — Tratado político de Rocha Pita, 1972; Do Barroco a Guimarães Rosa, 1983. Colaboração em diversos periódicos.
OLIVEIRA, Joanyr de, org.. Nós: poetas de 33. Brasília, DF: Thesaurus Editora, 2015. 210 p. 14x20,5 cm. ISBN 978-85-409-364-7 Inclui os poetas: Fernando Mendes Vianna, Francisco Miguel de Moura, Heitor Martins, Hugo Mund Júnior, Joanyr de Oliveira, José Jeronymo Rivera, Lupe Cotrim Garaude, Maria José Giglio, Miguel Jorge, Murilo Moreira Veras, Octavio Mora, Olga Savary e Walmir Ayala. “ Joanyr de Oliveira “ Ex. bibl. Antonio Miranda
SONETO
Perdoa-me se a morte em minha fronte
Pousou sem pejo sua mão liberta,
Sou um barco que nada
Na imensidão sem fim da noite aberta.
A morte é algo que se vem fazendo
Há muito tempo pela noite alada
Sou a paisagem triste
Duma aurora sem sol agora nada.
Não sei o que no mundo ainda existe
Atrás desse infecundo horizonte,
Desse céu frio e mudo.
Perdoa-me se a morte minha fronte
Acariciou, pálida e bondosa.
Adeus! Quebrou-se tudo!
SEIS PÊRAS ALITERATADAS
COM ESTRAMBOTO PRÉVIO
Aimer desfemmes intelligentes cest un
plaisir de pédéraste. [Baudelaire, Fusées
Rrose Sélavy demande si lês
Fleurs du Mal ont modifié les moeurs du
phalle: quen pense Omphale?
[Robert Desnos, Corps et Biens]
Porfiriosa porfírica
É Sandra entre as estrelas
Aos poucos construindo
Uma lenta fogueira
Sob a chuva de abril.
Abril, quando a colheita
De muricis começa,
É mês de estradas altas
E glúteas madurezas.
Mês de ambíguas certezas
De pálidos cristais
E estrelas negras, voa
Abril em asas brancas.
Se chove nas barrancas
Dos rios, a esperança
Aos poucos se concentra
No barro dos sentidos
Que rudes, invertidos,
São pássaros sem curso.
Fica apenas o sol
E sua rutilância.
Mas com que fogo e ânsia
Palpita a chama e chama:
— Quase pavor de pedra,
Quase sabor de vento
Ao léu, quase lamento
Sem mistério, porfírica
Em sua busca astral
É Sandra, porfiriosa.
SEIS MANEIRAS DE
ESQUECER A AMADA
Time is a test oftrouble,
But not a remedy.
Ifsuch it prove, it prove too
There was no malady.
[Emily Dickinson]
Máquina reluzente,
O amor corrói os ossos
E à luz da podridão,
Quase supinas, frias,
Já passeiam Marias
Entre Essência e Substância.
Carente, a Qualidade
Deixa-se dormir. Dorme
(No azul do leito enorme,
Gordas, férteis, passivas,
Quase em bodas de prata,
Há lagartas constantes.)
Também quase como antes
A dolorosa carne.
Restrita porém nua
A esperança vegeta.
De tudo resta a meta
Inatingida, a célere,
Dúbia degradação
Rente aos sentidos, rente.
Máquina reluzente,
O amor corrói a ação.
Página publicada em maio de 2015 |