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GUIDO MONDIN

 

Guido Fernando Mondin (Porto Alegre, 6 de maio de 1912 — Brasília, 20 de maio de 2000) foi um economista, industrial, comerciante, professor, pintor e político brasileiro. Foi senador da República, deputado estadual e federal, vice-prefeito de Caxias do Sul e ministro do Tribunal de Contas da União.

Guido Mondin, aos quinze anos, começou a participar de reuniões do Partido Libertador, iniciando-se na política. Dez anos depois, ele aderiu à Ação Integralista Brasileira. Com a promulgação do Estado Novo e a proibição de agremiações políticas, Mondin dedicou-se à sua formação acadêmica em Economia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Em 1956, esteve na Câmara dos Deputados exercendo um curto mandato, como primeiro suplente. Exerceu seu primeiro mandato como senador entre 1959 e 1967. Extintos os partidos pelo regime militar, em 1966, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional, a ARENA. Com o término do segundo mandato, em 1975, foi indicado ministro do Tribunal de Contas da União, do qual foi vice-presidente, em 1977, e presidente, em 1978.

Em 1982, ao completar setenta anos, Mondin foi compulsoriamente aposentado, dedicando-se, a partir de então, principalmente à pintura e ao escotismo. Ao deixar a vida pública, fixou residência permanente em Brasília, onde já vivia desde 1959. Pertenceu, além da ANE, à Academia de Letras de Brasília e ao Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, do qual foi presidente.

 

VIRA-LATAS

 

Simples vida de mulher :

havia um filho a criar,

um tanque de lavar roupa

e um barraco — coisa pouca,

numa favela qualquer.

 

Simples vida de menino :

a mãe já gasta, angulosa,

e um cachorro pequenino,

— essa fortuna ditosa

que os que têm mesa farta,

roupa bonita e automóvel,

não sabem nunca avaliar.

 

Lava roupa. Torce roupa.

Põe toda roupa a secar.

Há fome, miséria tanta,

é preciso trabalhar.

 

Nem desconfiava o menino

que, naquela tosse rouca,

sua mãe estava a finar.

Que lhe importava, do mundo,

esse viver triste, imundo

inferno de marginais,

se tudo se resumia

naquela mãe que sumia

e naquele cachorro feio,

seu tesouro, seu recreio,

o portento dos animais.

 

Assim transcorria a vida.

Lava roupa. Torce roupa.

Põe toda a roupa a secar.

Há fome, miséria tanta,

é preciso trabalhar.

 

Foi indo assim. Certa vez,

a Prefeitura, malvada,

sem sentimento, sem nada,

para sanear a cidade,

cometeu a atrocidade

de recolher cães vadios...

Foi-se também prisioneiro,

com destino ignorado,

aquele cãozinho amado,

que não era Perdigueiro,

nem Fox, nem Galgo, nem cheiro

tinha de qualquer raça.

 

— Por que levaram Totó ?

perguntou, desesperado,

o filho da lavadeira.

 

E lá, naquela ladeira,

de barracos e miséria,

a mãe deu a explicação,

usando velho estribilho :

— vão fazer dele sabão,

Que queres ? E' um vira-latas,

como nós somos, meu: filho!

Então, aquele menino

um raciocínio formou.

Pensou na mãe e chorou,

no inocente descortino :

 

— vai ser sabão meu cachorro ?

Então a nós, algum dia,

se somos dois vira-latas,

vão dar o mesmo destino.

 

E olhava a mãe e cuidava.

A mãe lavava e nem via.

Só o estranhava e sorria

dos desvelos que mostrava.

Cuidava o filho. Tossia.

Batia a roupa. .. lavava...

 

Veio um dia e a hemoptise

marcou a última crise.

A água do tanque tosco

ficou vermelha. Era sangue

escorrendo pelo mangue.

O olhar morreu. Era fosco..

 

No barraco — que ironia —

na postura derradeira,

velavam a lavadeira.

Mas o menino — este ria,

feliz na sua desventura,

pois agora a Prefeitura,

que não tinha coração,

já não faria sabão

de sua mãezinha adorada.

 

Ela morrera — é verdade,

mas que soubesse a favela,

mas que soubesse a cidade,

soubesse a gente ignara,

que sua mãe escapara

do carro da Prefeitura.

Morrera como criatura.

Fora Deus quem a levara.


 

Extraído de:
OLIVEIRA, Joanyr de, org.  Poetas de BrasíliaBrasília: Editora Dom Bosco, 1962. 107 p 

 

Página publicada em novembro de 2011


 

 

 
 
 
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