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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



ÉZIO PIRES

 

 

Nasceu em Cantagalo (RJ), em 1927.  Reside em Brasília desde 1960. Poeta, ficcionista, teatrólogo, crítico, jornalista, membro e fundador de diversas entidades culturais de Brasília. Trabalhou no Diário e Emissoras Associados, sendo por muitos anos jornalista do Correio Braziliense, onde foi um dos mais aguerridos divulgadores da emergente literatura de Brasília. É um dos fundadores do Sindicato de Escritores do Distrito Federal. Recebeu o prêmio Fundação Cultural do DF. De sua vasta bibliografia, destaque para seus livros de poesia: A Beleza tem fome, Da Anta Casa Editora, DF, 1990; Anjas, Da Anta Casa Editora, DF, 1990; Hora marginal, Editora Livraria D. Bosco, DF, 1962; Menina S trinta, Editora Livraria S. José, RJ, 1958; Messias da hora, 1959; O Que os olhos devoram, Editora Cultura, 1992; Poema interrompido, Convênio do SEDF e Cegraf, DF, 1988.

 

 

PARA OUVIR O SILÊNCIO

 

contra o silêncio não luto: —

sou poeta em estado bruto ...

me nasceram c/poder de morrer

... esta vida me cansa

não tenho direito à esperança

para entender o prazer ..

a poesia e os mortos do amor

estou ouvindo o silêncio ...

— não insista

todo discurso é fascista.

 

 

VOZ BAIXA

 

naquela noite de festa

a lua cor de prata

falou em voz baixa

para a minha tristeza:

                   se mata.

 

 

O QUE FAZER???

 

o que fazer

para ver longe

o que se desamou

se o beirute fechou

para a madrugada???

 

o que fazer

para ver as coisas

que não são vistas

na minha lembrança

se não tenho

mais esperança???

 

o que fazer

do fim da noite

se vem sempre o dia

para repetir o fim

         da noite?

                       ?

                             ?

 

CORES DA SOLIDÃO

 

só falo

sonâmbulo

o que acordado me calo

mas me ofereço

                   paisagem

de carne e osso

nos balanços de seios

na beira do rio

na beira do corpo...

nas viagens

das virgens

         (babilônicas)

fui feito urgente

de desejo insatisfeito

fiquei sem caminhos

(sem rios)

para chegar ao mar

                   só

me sonho boi

para mastigar cores

da solidão...

 

 

FUGINDO DE MIM

 

brasília:

no escuro

ainda te procuro...

em sonho te suponho

ilha da solidão

onde não se precisa

mais do coração...

onde se esconde

prazeres

dos mortos

de todos os poderes

— ainda não sei

se é um prêmio

ou castigo(???)

ser teu candango

                   antigo...

— quem és tu

                 brasília 

que fugiste de mim?

depois de acordares

cadáver do sonho

corpo morto de ilusão

— és mulher

flor, anja, demônio

ou uma alucinação?

onde me deixaste só

estou ouvindo

o silêncio

do ódio e do amor...

se fugiste de mim

em plena W/3

não fugirás nunca

da tua virgem nudez...

tua ausência me cansa

mas em sonho

                 mato   

o coveiro da esperança

não fugirás nunca

da nossa história

ainda que fujas de mim

nos crimes livros e filmes.

 

 

NAMORADA
 
Procure meu coração
Namorada me procure
Me procure vivo
Me procure verde
No meu verde negrume
Me procure no riso
Me procure no abraço
Me procure na glória
Me procure agora
Me procure nos rios
Me procure nos mapas
No meu sábado de folga
Me procure nos galhos
Me procure no orvalho
Me procure em tempo
Em tempo de prece
Me procure em silêncio
Em silêncio de prece
Procure meus beijos
Procure meus olhos
Me procure na dor
Namorada me procure
Procure meu coração
Namorada meu amor

 

 

 

OLIVEIRA, Joanyr de, org.  Poetas de Brasília.  Brasília: Editora Dom Bosco, 1962. 107 p    16 x 22cm. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         ENCONTRO MARGINAL

vou marcar encontro
com inimigos do regime
vou pedir seus nomes
para meu livro de poemas

vou perguntar-lhes
porque as palavras
estão velhas dentro dos homens
e porque o bom caminho
é o mais largo em cada passo
se o que conduz à vida
fica mais estreito?

depois vou lançar manifestos ás chuvas
em defesa do meu crime
vou chamá-los de irmãos da lua
e semeadores do impossível.


FRUSTRAÇÃO DA NOITE

eu quero ser maquinista
da leopoldina raiuval
aquela máquina comprindona
de verniz amarelo
de apito dobrado
e sair pelos campos
espantando os bois
correr  correr
e quando chegar na penha
eu paro
a penha é milagrosa
e eu paro na penha...

             cala boca louco!


       BALADA PARA O MOLEQUE — SOZINHO

1
chego em mim mesmo
em noites de inverno
quase fome de pássaro
corro atrás do vento-azul
em áureos tempos fluídos
sem pai e sem amigos

       2
em sonho guardado
deixaram o colégio
e as árvores — e as ruas
flutuam em meus pés...

       3
me vejo sem cor
ex-dono de uma valsa
em tardes de sol
que o boi mastigou

       4
      
me vejo sozinho
       com as noites de amor
       que Deus não beijou...

 

Página publicada em fevereiro de 2008.



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