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EDMUNDO BRANDÃO

 

Escritor e professor mineiro, nascido em Caxambú, morador em Brasilia. Mais informações sobre o autor em sua página http://www.edmundobdantas.com/

 

O que agora vou contar

Não vi, nem dou testemunho,

Que como pessoa do bem

Por aí não meto o punho,

Foi só um sonho que tive,

Um sonho de horrível cunho.

 

Nem bem findou dia 20

De agosto, 2007,

E certa alma penada

Vagava que nem confete,

Leve como uma pluma,

Pelo espaço celeste.

 

Tão logo deixou o corpo,

Em danada ansiedade,

Disparou chispando ao céu,

Em alta velocidade:

Buscaria uma vaguinha

Na nata da santidade.

 

Bateu na porta do céu,

Atendeu-lhe senhor austero:

— Mas se não é meu São Pedro!

Rolou o espírito um lero.

O santo porteiro do céu

Deu um suspiro sincero.

 

“Ai, meu Deus, lá vem mais um

Político brasileiro,

Pensando que aqui no céu,

Ainda vale o dinheiro,

Vai tentar me subornar

E querer entrar, fagueiro.”

 

O espírito era ACM,

Malandro velho baiano,

Que achava que lá no céu,

Qualquer fulano ia entrando;

Bastava nome importante,

E os santos ir subornando.

 

São Pedro, esperto que só,

Ficou só observando,

O papo liso da alma,

Que falava discursando,

Com o peito todo estufado,

Que nem um galo cantando.

 

O discurso de ACM,

Alma boa de retórica,

Quase convence São Pedro

Numa decisão histórica,

A abrir-lhe as portas do céu,

Com sua prosa metafórica.

 

Mas santo bom que se preza,

Não se deixa enganar,

E quando ACM deu brecha,

São Pedro voltou a mandar,

Tomou as rédeas da coisa

E botou pra arrebentar.

 

— Olha aqui, senhor baiano,

Gente ruim não entra aqui.

O que você fez lá na terra,

É de fazer corar sagüi.

Enganava tanta gente

E não estava nem aí!

 

— Engano seu, meu santinho!

Eu não enganava ninguém!

Sempre fui homem do povo,

Trabalhando pelo bem.

Dava pão ao mais faminto,

Ao pobre dava vintém.

 

— Que mentira deslavada

Acaba de me contar!

Roubava dinheiro do povo

E agora quer me enrolar?

Daqui do céu vejo tudo.

Não tem como me enganar!

 

ACM pressentia

Que São Pedro não era bobo.

Chamou o santo num canto,

Como fazia com o povo,

Achou que santo era otário

E então tentou de novo.

 

— Olha aqui, meu bom São Pedro,

Quando vi que ia morrer,

Mandei buscar na Bahia

Lembrancinhas pra você,

Uma figa de madeira,

Um barrilzinho de dendê.

 

— Pra que vou querer figa?

São Pedro então perguntou.

— Acaso sou macumbeiro,

Que precisa se benzer?

E santo só come nuvem,

Não precisa de dendê.

 

ACM, espertalhão,

Fez cara de humilhado,

Como se o não de São Pedro,

O deixasse acabrunhado.

Ensaiou estranho beicinho,

Mas não se fez de rogado.

 

— Aí o senhor tá me ofendendo!

Disse o espírito ao santo.

— Eu só lhe quis ser gentil,

Não sei por que o espanto.

Lembrancinhas da Bahia

São um presente e tanto!

 

— Quem sabe o senhor prefere,

Insistiu a alma irônica,

Fitas do Senhor do Bonfim?

Olha, são elas que dão a tônica

Em butique ou botequim,

Curam febre e tosse crônica.

 

São Pedro, nervoso que estava,

Teve um acesso de tosse,

Achava um acinte da alma

Fosse ela de quem fosse,

Comprar o céu com propina,

Como se o céu fosse um doce.

 

Precisava urgentemente

Retomar a situação,

Pois, se mais trela ele desse,

Maior a enrolação,

Aquele baiano danado

Não desistiria não.

 

— Agora chega ACM.

Seu lugar não é aqui não.

No Brasil você mandava,

Mas o céu tá em outras Mãos.

Aqui só entram pessoas

De boa reputação.

 

ACM então mostrou

O seu lado malvadeza.

De dedo em riste gritou:

— Meu álibi é minha defesa!

Exijo audiência com Deus,

Com Ele não terei surpresa!

 

São Pedro, bom secretário,

Barrou de cara o sujeito.

— Que audácia, audiência com Deus!

Falta a você o respeito!

E aqui não é a Bahia,

Procê berrar desse jeito!

 

Aquele foi o estopim.

São Pedro, meio petetéu,

Despachou o vivaldino

E fechou-lhe a porta do céu.

A alma de ACM foi caindo

Perdida, jogada ao léu.

 

Ao passar pelo purgatório,

Ainda tentou brecar;

Quem sabe lá ficava uns tempos,

Tentando se arrumar,

Depois voltava pro céu

Pra só de delícias gozar?

 

Mas o freio não vingou:

Era alta a velocidade.

O buraco, bem lá em baixo,

A dura realidade.

Já sentia um calorzinho,

E um ar de calamidade.

 

À medida que baixava,

O calor só aumentava,

E um cheiro podre de enxofre

O ambiente dominava,

Era vulcão explodindo,

Rugindo, soltando lava.

 

Quando chegou lá embaixo,

Tava um calor desgraçado,

Tinha uma porta vermelha

Com cadeado dourado.

Para a entrada do inferno,

Até que era bem arrumado.

 

Suando feito um cavalo,

Cabreiro e desconfiado,

ACM não sabia se batia,

Ou ficava ali parado,

Mas aquele calorão

O deixava desatinado.

 

Tomou então a decisão

De bater logo à porta;

Bateu uma, duas, três vezes,

Inês agora era morta:

Abriu-se o tal cadeado,

Deu com uma cara torta.

 

Um sujeito desdentado,

Pele amarela, corcunda,

Escamas por todo o corpo,

Rabo pendendo da bunda,

Que ser horrível era aquele,

Que vinha lá das profundas?

 

“Deve ser este o Diabo”,

Retomou então o leme.

“Este sujeito é tão feio,

Que até a alma treme.

Mas eu enrolo esse cara,

Ou não me chamo ACM”.

 

Lembrava-se a velha raposa,

Dos baianos do sertão,

Tão feios quanto o diabo,

Mas mansos que nem um cão,

Que ele habilmente enrolava

A cada nova eleição.

 

— O que quer? Grunhiu o monstro.

— Você é o chefe, o tenente?

— Claro que não, seu babaca!

Meu chefe tem chifre e tridente.

Queima mais do que chaleira,

Que faz ferver água quente.

 

— Quero falar com seu chefe.

Insistiu determinado

O espírito baiano.

O monstro olhou-o de lado,

Gargalhou e deu as costas

Pro baiano empertigado.

 

Arrastando os pés na brasa

Que cobria o chão do inferno,

O monstro fazia ACM

Segui-lo qual subalterno.

O calor insuportável

Trazia saudade do inverno.

 

Chegaram numa ante-sala,

Portal vermelho de brasa,

Cheiro fedido de enxofre,

Vontade de bater asa,

Tinha que dar um jeitinho

De fugir daquela “casa”.

 

Ouviu-se o estrondo de um peido,

Sentiu-se um cheiro terrível;

Seria o diabo cagando,

Ou aquele cheiro horrível

Era o cheiro natural

Do maligno temível?

 

Ao escutar o estrondo,

Ao sentir o cheiro forte,

O monstro saiu correndo,

Deixando ACM à sorte,

Mas o que seria pior,

Se ele já passara pela morte?

 

A porta de brasa se abriu,

E o diabo e seu tridente,

Com seu sorriso de fogo,

Ficou logo à sua frente,

Mas ACM não tremeu

E o encarou valentemente.

 

— Então você enfim chegou,

Não é, seu baiano safado?

Quanto tempo eu esperei

Pra tê-lo aqui ao meu lado!

Pensava que não ia morrer,

Por causa do corpo fechado?

 

— Pois eu lhe digo uma coisa:

Aqui não tem disso não.

Aqui até corpo fechado

Ferve no caldeirão.

Não existe alma fechada,

Vantagem não existe não.

 

E deu grande gargalhada,

Que abalou as estruturas.

Olhou fixo pro baiano,

Que por pouco não se segura:

“Esse tal de Belzebu

É general linha dura!”

 

— Pois é, meu caro Diabo,

Vim aqui negociar:

O que eu posso fazer

Pra você não me aceitar?

Passo um tempo no purgatório,

E pro céu subo de lá.

 

O Diabo ficou possesso,

Com a audácia do bandido.

Achou aquele baiano

Um sujeitinho atrevido.

Negociar com o Maldito,

Mas que baixinho metido!

 

— Olha aqui, seu sem-vergonha,

Disse o Diabo a ACM,

Vou lhe dizer outra coisa:

No inferno não tem reme-reme,

Aqui é preto no branco,

E eu segurando o leme!

 

— Não me entenda mal, Anjo Negro,

Mas é questão de bom senso.

Aqui serei alma perdida,

Pelo menos é o que penso.

Não morri pra vir pro inferno.

Meu negócio é cheirar incenso.

 

O Diabo, cheio de ódio,

Lançou uma faísca no baiano,

Queimou a bunda do baixinho,

Que teve que pensar em novo plano:

E mesmo com o rabo ardendo,

Tentou não demonstrar o dano.

 

— Desculpe-me vossa excelência,

Se porventura o ofendi.

Não ache que sou prepotente

Pois isso não cabe aqui.

Quero só negociar

E fica tudo por aí.

 

O Demônio vociferava,

Tamanha a cara de pau

Daquela alma safada

Que na terra fez tanto mal,

Mas que depois de estar morta

Tentava ser fraternal.

 

Apesar do cheiro horrível,

ACM surpreendeu.

Deu um sorriso pro Diabo

Que não lhe correspondeu.

Mas, determinado que estava,

Nem um pouco retrocedeu.

 

— Olha aqui, seu Satanás,

A gente bem que podia se acertar:

Você quebrava o meu galho

E me deixava voltar,

É tão perto o purgatório

Que vou andando até lá!

 

Uma enorme labareda

Saiu então do tridente,

Na direção do baiano

Ainda de rabo quente.

O Diabo não era mole,

Queria fritar a gente.

 

Tentou desviar ACM,

Mas de nada adiantou;

E o fogaréu do tridente

A bunda gorda acertou.

Assim se divertia o Diabo,

Que de prazer gargalhou.

 

Com a bunda em frangalhos,

Queimando qual lenha madura,

ACM deixou soltar

Com sua desenvoltura,

Um palavrão pro Diabo

Na maior da cara dura.

 

— Ora, que merda é essa, Belzebu?

Quem você pensa que é?

Sabe com quem está lidando

Seu Diabo Zé Mane?

Sou macumbeiro da Bahia,

Comedor de acarajé!

 

— Pois já lhe disse, seu bosta,

O Diabo assim respondeu,

Que aqui isso não vale;

Macumbeiro, político, judeu,

Se fez o mal lá na terra,

Depois que morre é só meu.

 

Sem se fazer de rogado,

O baiano não se alterou,

Propôs pro Dono das Trevas,

O que São Pedro não aceitou;

Bugigangas de Bahia,

Que logo o Diabo pegou.

 

Tinha figa de madeira,

Colares de pais-de-santo,

Efó de fubá mimoso,

Charuto de todo o canto,

Fitas do Senhor do Bonfim,

E de outras coisas um tanto.

 

O Diabo aceitou tudo,

Só as fitas mandou queimar;

Chamou com presa os seus monstros

E mandou que as fossem guardar.

Mas os barris de dendê,

Esses ficaram por lá.

 

ACM pensou logo:

“Esse já tá no papo!

Corrompi o Coisa Ruim,

Corrompi o Cara-de-Sapo.

Hoje eu saio desse inferno.

É hoje que eu escapo!”

 

Mas diabo que se preza,

Além de malandro é sacana.

Foi falando pro baixinho:

— A mim você não engana!

Deu-me esses presentinhos,

Alguns até que bacanas.

 

— Agora que é tudo meu,

Toma um pouquinho de fogo!

E atiçou o tridente,

Retomando o velho jogo.

Não deu à alma baiana

Sequer qualquer desafogo.

 

A cara de pau do baiano

No entanto não se alterou,

Foi logo propondo mais coisa

Praquele que lhe queimou:

— Quero ir pro purgatório!

Vou poder ir ou não vou?

 

Duas chispas de luz vermelha

Encararam ACM:

— Agora entendo você

Com todo esse reme-reme!

Quer me enrolar, não é safado?

Pois quero ver se você geme!

 

Lúcifer deu um safanão

Com a mão descomunal,

Que atirou ACM

Bem num buraco infernal.

Caiu num tacho, o danado,

De um líquido com cheiro mau.

 

ACM, puto nas calças,

Queimando no caldeirão,

Falou logo pro diabo:

— Porra, seu danado do cão,

Isso que você fez agora

Não vai ficar assim não!

 

E tentou sair da panela,

Mas ficou logo atolado.
O diabo só olhava,

Com seu olhar de malvado.

Tava pensando o que,

Aquele baiano arretado?

 

— Eu quero sair daqui!

Gritava o baiano no forno.

Estava louco o baixinho,

Seus gritos tomaram o entorno.

— Me tira daqui, seu demônio,

Ou estouro esses seus cornos!

 

— Pois fique de castigo aí,

Que tenho mais a fazer;

Isso é só o aperitivo,

Do que você vai sofrer.

O Diabo foi embora,

Deixando a alma a ferver.

 

ACM quando viu

Que não dobraria o Maligno,

Ficou lá no caldeirão

De jeito nem um pouco digno.

Queimava qual lenha podre,

Fervia até o seu signo.

 

Ficava lá só gritando,

Gemendo de tanta dor,

O fogo sempre aumentando,

E aquele terrível fedor,

A alma até crepitava

Tamanho do fogo o calor.

 

Quando foi lá pelas tantas,

Vieram dois monstros iguais,

E arrastaram o caldeirão

Pro salão dos imorais:

ACM descobriu que ali

Só se escutavam uis e ais.

 

Havia um milhão de almas

Em caldeirões como o seu,

Como sofriam as danadas,

Como gritavam, meu Deus!

Ali não tinha refresco,

ACM reconheceu.

 

Quando olhou pra um caldeirão

Perto do seu colocado,

Viu que conhecia a alma

Que sofria do seu lado:

Era o general Médici,

Frito e todo enrugado.

 

Com ódio olhou pro baiano

O Emílio Garrastazu,

Fez-lhe um gesto obsceno,

Mandou-lhe tomar no cu.

Mas logo aumentaram o fogo,

Por ordem de Belzebu.

 

Mais à frente, noutro caldeirão,

ACM viu todo um batalhão

Do tempo da ditadura.

Fritava inteiramente o pelotão,

Sem sequer respeitar hierarquia:

Fosse soldado raso ou capitão.

 

Político tinha de monte

Nos caldeirões do salão:

Getúlio Vargas, Arnon de Mello,

Felinto Müller, Armando Falcão,

Bandidos de grosso calibre,

Desde o sul ao Maranhão.

 

O delegado Fleury

Quase virava sabão,

De tanto queimar no fogo

Que ardia no caldeirão;

Era um dos que mais gritava,

Pelando feito quentão.

 

Impressionante era o grito

De um outro que estava ali;

Um bandido inteligente,

Amigo, talvez de Fleury,

Nada mais, nada menos,

Que o general Golbery.

 

Mais adiante de ACM,

Num canto meio escondido,

Num caldeirão coletivo,

Outra tropa de bandidos,

Torturadores famosos

Se esturricavam fodidos.

 

Tinha uma ala no inferno

De ditadores latinos:

Stroessner, Batista e Somoza,

Choravam feito meninos,

Pulavam dentro do tacho,

Sofrendo, cortavam um fino.

 

No caldeirão mais fedido

De merda até o tampão,

O general Pinochet

Era assado no fogão;

Seu fogo era de caldeira,

Mais de mil graus de explosão.

 

A ala dos americanos,

Essa era a mais lotada;

Reagan, Nixon, Lindon Johnson,

Roosevelt e toda a gringaiada;

Os Bush, George pai e George filho,

Já tinham vaga reservada.

 

Ironia do destino,

O caldeirão desses dois,

Ficaria lado a lado,

Nem antes, nem depois,

Daquele em que ardia

Sadam Hussein, ora pois.

 

O Diabo declarou,

Um tanto solenemente,

Que dali a algum tempo,

Iria chegar mais gente:

Um tal de Marcos Valério,

Um cara um tanto indecente.

 

Zé Dirceu, Roberto Jéferson,

Presidente FHC,

Eram bastante aguardados

Pra acompanhar Pinochet;

Nas fornalhas do inferno

Eles iriam arder.

 

Havia vaga também

Pra um bando de senadores,

Que votavam secretamente

Traindo seus eleitores,

E para alguns deputados

Corruptos e delatores.

 

Um tal de Renan Calheiros

Presidente do senado,

Tinha caldeirão de honra,

Também por lá reservado.

Quando morresse, por certo,

Era um dos mais aguardados.

 

Um dia chegaria Lula,

Com seu lero-lero petista,

De quem não sabia de nada,

De que não era avalista,

Dizendo-se surpreso

Por estar naquela lista.

 

ACM, impressionado,

Com a astúcia do Capeta,

Mesmo com o rabo estourando

Admirava a mutreta,

O bicho era inteligente

Para armar uma treta.

 

Mas se tinha alguém que sofria

Dentro de seu caldeirão,

De todos o mais lascado

Era um safado gordão:

O Sérgio Motta, o Trator,
Que quase afundou a Nação.

 

Entregou a Telebrás,

Sem esconder seus pudores,

E a preço de banana,

Sem vergonha, sequer dores,

O Motta facilitou

Farras de especuladores.

 

A alma do gordo espumava,

Berrava mais que bezerro,

Mais até que torturado,

Mais que choro de enterro,

Só mesmo ali no inferno

Para pagar por seus erros.

 

ACM, incomodado,

De tanta dor que sentia,

Sua alma, de tão quente,

Quase que derretia,

Danou a gritar também,

Na mais pura rebeldia.

 

O Demônio então chegou,

Puto dentro das calças,

E foi logo investigar

Quem era o mala sem alça.

— Só podia ser você,

Sua malvadeza falsa!

 

— Pode berrar a vontade,

Que daqui você não sai,

O inferno é sua casa,

Pra outro lugar cê não vai.

O Diabo é sua família:

Mãe, irmão, irmã e pai!

 

A alma ficou desolada

Por ter que ficar ali,

Com tanta alma safada,

Quando podia ao céu subir,

Mas, na mão do Tinhoso,

Só podia desistir.

 

Cheio de bolhas, queimando,

A alma toda empolada,

Então destampou a gemer;

Que sina mais desgraçada

Podia uma alma ter

Naquela cruel empreitada?

 

O Diabo só atiçava o fogo,

Feliz com ACM por lá;

Figurinha carimbada,

Que não podia faltar,

Elite da ruindade,

Pior espécie não há.

 

Deixasse o baixinho chorar,

Deixasse o baixinho sofrer;

Alma daquele quilate,

Tinha mais que se foder.

E os presentinhos da Bahia

Algum destino iam ter.

 

Passou então algum tempo,

E ACM era agora,

Alma desacorçoada,

Sem vida, jogada fora,

Queimando no fogo do Inferno,

Sem chance de ir embora.

 

Exceto a piora a cada dia,

Nada mais mudava ali.

Era só grito, choro, ranger de dentes,

E o Diabo feliz, a sorrir.

Esse sim, era Malvadeza,

Craque em fazer punir.

 

Um mérito, porém, de ACM

Que Lúcifer tinha que reconhecer,

Era que o combustível do Inferno,

O mesmo que ora fritava o Pinochet,

Agora vinha direto da Bahia:

Nada mais era que azeite de dendê!

 

Eu termino por aqui

Esse sonho indesejado.

Um sonho com ACM

É pesadelo pesado.

Não deu pra dormir direito,

Acordei impressionado.

 

Mas já que o sujeito malvado,

Que aquela peste morreu,

Deve mesmo estar no inferno,

É o que imagino eu.

No céu eu sei que não está,

Que aquilo não era gente de Deus.

 

Rezo dez Ave-Marias,

Pai Nosso e Salve Rainha,

Benzo-me com sinal da cruz,

Protegei-me Senhora Minha,

Que agora, enfim, vou dormir,

Depois desta ladainha.

 

 

Edmundo Brandão Dantas

Setembro de 2007.

 




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