BASILINA PEREIRA
Basilina Pereira nasceu em Ituiutaba-MG, mas reside em Brasília desde 1983. É professora aposentada, advogada, com especialização em Direito Processual Civil, poeta e escritora. Já escreveu 8 livros , sendo 7 de poesias: QUASE POESIA , cuja primeira edição, pela editora InSanNo esgotou em 3 meses, e 2a edição saiu pela LGE editora; JANELAS está sendo editado pela Verbis Editora; os demais continuam inéditos.
TEXTO EN ESPAÑOL - TEXTOS EM PORTUGUÊS
LINGUAGENS – LENGUAGENES /Edição bilíngue Português / Español. organização Menezes y Morais; tradução Carlos Saiz Alvarez, Maria Florencia Benítez, Lua de Moraes, Menezes y Morais e Paulo Lima.. Brasília, SD: Trampolim, 2018. 190 p. (7ª. coletânea do Coletivo de poetas) ISBN 978-85-5325—035-6. Ex. bibl. Antonio Miranda
A MANCHA
E este vazio no meio da tarde!
Uma mancha de faz de conta, solta,
assim como a dor dos que ficam do lado de fora da felicidade.
Não tem pé nem cabeça;
tampouco hora para libertar os pensamentos,
presos a uma certeza tão efémera
quanto o olhar dividido na encruzilhada.
A vida que me sorri agora é um telhado sem chão
frente às tantas goteiras prontas para o salto,
mas temerosas do abismo.
O vento não traz o que falta,
talvez porque não saiba as respostas
perdidas naquela estrada cada vez mais estreita,
por onde já passei tantas vezes
desapercebida.
PEREIRA, Basilina. Janelas. Brasília: Verbis Editora, 2010. 132 p.
ISBN 978-85-62761-05-6
MINHA MÃE
In memoriam
Como uma música distante,
sei que verdejas pelos campos
onde a abelha cisma entre as cores
e os odores.
Nas grimpas da árvore mais alta
vais buscar o teu néctar,
no rastro da perfeição:
nenhum senão
admitias na tua lida:
tua vida.
Assim chegou, assim partiu.
Foi um canto distante e único
que não consegui decifrar:
constante busca, contradição
e ao fim de tudo: o chão.
Mãe de muitos caminhos,
árduos, galhos secos, espinhos,
de onde jorravam:
suor,
dor e
amor (eu sei).
INSÔNIA
De repente, é madrugada.
O galo canta macio
e o coração não diz nada.
O sono se perdeu no vazio
das promessas que ouvi
e cansei de catalogar no infinito
de minhas certezas pueris.
Já não sei em que acredito,
sigo debatendo-me no porto
onde todas as embarcações dormem
e só eu fujo do ponto cego da noite,
de onde escorrem meus cabelos soltos,
como caídos de nuvens disformes
à espera de que o sono volte.
TEXTO EN ESPAÑOL
LA MANCHA
¡Y este vacío en la mitad de la tarde!
Una mancha de faz de conte, solta,
así como el dolor de los que permanecen al otro lado
de la felicidad.
No tiene pies ni cabeza;
tampoco hora para liberar los pensamientos,
presos a una certeza tan efímera
como la mirada dividida en la encrucijada.
La vida que ahora me sonríe es un tejado sin suelo
frente a tantas goteras listas para el salto,
pero temerosas del abismo.
El viento no me trae lo que falta,
tal vez porque no sepa las respuestas
perdidas en aquella estrada cada vez más estrecha,
por donde ya pasé tantas veces
desapercibida.
PEREIRA, Basilina. Quase Poesia. Capa: Carol Reine. Apresentação por Sigrid Spolzino. Brasília: LGE Editora Ltda, 2009 128 p. No. 10 061
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito, em outubro de 2024.
DESENCONTRO
Amando te quis amigo
teu sorriso sempre comigo,
regendo orquestra de flores,
na alma, só luz e cores.
Na busca, te fiz meu mundo
no encontro, te amei profundo
não vi que este sonho meu
em névoa fria se perdeu.
Meu querer te viu poeta
encheu de orvalho a canção
fez do pecado a virtude.
Ao acordar vi a seta
indo em outra direção
pasma, chorei — como pude?
PERCEPÇÕES
...e de repente o abismo.
O que se faz diante dele?
Mais um passo se... passo.
Retrocesso? Não há.
Apenas alguns momentos:
imagens urgentes e concisas.
precisas.
Há um beija-flor pousando no ar.
Há amigos, se eu soube cativá-los,
cascatas, rios, se eu tive tempo de percebê-los,
há os filhos, se eu tive coragem de concebê-los
e a orquídea, presente maior da natureza.
Então, valeu a penas.
DEVANEIOS
Busco nos ecos de minha infância
a proximidade do horizonte,
meu pai a tanger o gado,
a lida, o fogão de lenha...
no máximo, em agosto, um entardecer de fogo.
Minha observação: que sol amarelo!
Que resta daquele império,
onde a solidão não tinha súditos
nem exércitos?
Só as lembranças dos sonhos, das brincadeiras,
dos silêncios e do horizonte, que perto,
porque o longe é tão antigo
que não vale a pena buscar.
SINFONIA DAS CORES
O vermelho colheu a rosa
como símbolo da peixão,
acrescentou-lhe o perfume
pra obter mais dimensão.
O verde cobriu as matas,
domou a relva e a esperança.
bailou em campos abertos,
verteu torrente e bonança.
O azul foi destemido,
aprisionou céu e mar,
entre a safira e o topázio,
fez da vida o seu cantar.
O branco rendeu-se à paz,
porque um dia foi criança,
na revoada dos pombos,
resumiu toda sua dança.
O amarelo quis os beijos,
tendo o sol por fantasia,
no ouro, escondeu as mágoas
tão certas de um novo dia.
O roxo chorou tristezas
do velho pintor sem mão,
e de tanto desencanto,
enforcou-se na paixão.
O preto encerrou a ausência
do preconceito e da cor,
tingiu de ébano o sangue humano
pra não sentir tanta dor.
Do marrom nasceu a terra,
onde reina a fantasia
celeiro de grão e lágrimas
palco de dor e alegria.
Nascido em berço de lua
o cor-de-rosa se enfeitou
de madrepérola e safira
e a mulher despertou.
Com poder absoluto
pra colorir o mundo inteiro,
mesclaram-se todas as cores:
desejo de luz e de cheiro.
Em tons suaves e escuros
e as mais livres gradações
fizeram da chuva: cortinas,
pra marcar as estações.
E assim nasceu o arco-íris
pra encantar nossos sentidos,
não foi no pote de ouro
nem no tesouro perdido.
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Página ampliada e republicada em outubro de 2024.
Página publicada em junho de 2012 ; página ampliada em janeiro de 2020
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