POESIA DE GOIÁS
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
AUGUSTO RODRIGUES
/ AUGUSTO NIEMAR /
Augusto Rodrigues da Silva Junior é, também, Professor Adjunto de Literatura da Universidade de Brasília (UnB/Brasil). Realizou Estágio Pós-Doutoral (Bolsista CAPES) na Universidade do Minho – Centro de Estudos Humanísticos – Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas; Braga/Portugal (2014/2015). É Doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF; 2008) e realizou mestrado e graduação em Literatura na Universidade Federal de Goiás (UFG; 1991-2003). Nasceu e viveu em Itatiaia, cidade-satélite de Goiânia, Estado de Goiás – Brasil Central.
Prêmios: Menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte – Prêmio Carlos Drummond de Andrade; 2007. Título da coletânea: quase poesia; Concurso Nacional de Poesia Fernando Mendes Vianna – Associação Nacional dos Escritores – A.N.E. (Thesaurus) – 2009; Prêmio dado ao Onde as ruas não têm nome.- Concurso Nacional de Ensaio – Prêmio Cassiano Nunes, Espaço Cassiano Nunes – Biblioteca Central – Universidade de Brasília – 2011. Prêmio, a quatro mãos, com Ana Medeiros.
“Augusto Rodrigues projetou este livro como Lúcio Costa e Niemeyer arquitetaram Brasília. De forma simples e criativa venceu por unanimidade o prêmio Fernando Mendes Vianna da Associação Nacional de Escritores. “ VICTOR ALEGRIA – editor.
RODRIGUES, Augusto. 100ª. página Augusto Níemar. Lisboa: Chiado Editora, 2015. Exemplar na bibl. de Salomão Sousa.
“Palavra e cenas se completam no movimento veloz do ato e da memória de indivíduos e personagens resistentes que podem, e sempre são, um só e todos ao mesmo tempo, no picadeiro do mesmo circo.” (…) “Nas páginas de cada página até a centésima. O homem narrativo é materializado no poema. Os personagens, emprestados de outros, complexos, motivadores, habitadores de sala de cinema, foram criados por autores importantes da arte ocidental. Agora, refilmados por este hacedor”. LEMUEL GANDARA.
“Sonetos?! Por que não?” ANTONIO MIRANDA
DO ANJO AS FACES
anjo e asas de pedra
entre anjos do senhor
barroco, entendeu o que é uma vida
caiu. agora pouco, e foi ser andou amou foi ao cinema
e lamentou e fez poesia foi funcionário público e caiu
e visitou amigos foi à praia e foi à luta e bebeu e caiu
e se atirou da altura do último andar: caído e agora?
desceu desceu aos infernos, dançou e mais desceu,
à meia-noite, centro da terra, descida, no rio do fogo
voou com andorinhas de arame farpado e embalado
pelo venro quenre do ninho: saturnal doido de pedra
nem anjo, em pessoa, nem demónio
foi, anjo, ser gaúche na morte
caído, em si, movido comovido.
DA APARIÇÃO A JANELA
no estado físico presença e peso
no estado sólido leveza e noite
em estado, latente, de graça
no sonho, ela, por ele, fixava-se e ele, no sonho dele:
amado pra valer, penetrava, no sonho dela, seu ser
da insustentável leveza de partir ela, ao ir para fora:
da partida: saía dos dias dizia: esta história: estoria
é esta impossibilidade em que estava, departir dela,
que fez com que ela pudesse pensar em partir dele
no partir era possível, nos passos, ela, aparição, na
leveza dela: restava e ficava nele, o sentimento dela
ele, deitado calado dormia, colcha de retalhos dela
departia dela coloria, a outra, partia, parte dele, nele,
esvanecia, por emprego, empregava o dia em poesia
trabalhava até quando dormia e ela, lá fora mais fugia
e fora ficava e mais se ia: o dia
na melhor hora do dia: a noite
parte dele amava, parte dela contia.
DAS NAUS SARAMAR
cristóvão colômbia
pedro pau-brasil
américo - nome errado eternizado
para que se crie o novo admirar intuir forçar
brincar adivinhar, laranjamar, ouvir conchas
catar, voz oceana, o criado para rotar girar:
carrossel, pião, diabolô, labirintos e planetas
na carrapeta navegar para que navegue o navio
o descobridor se guiar pela paixão de imaginar
astrolábio de cegar, estrela-guia, aquémtejo,
eternidade e desejo de navegar: lusa-niemar
lance de cartas
nabolição de ocasos: as naus
renavegar, centrar, saramar.
|
De
RODRIGUES, Augusto
Onde as ruas não têm nome
Brasília: Thesaurus Editora, 2009.
110 p. ilus. ISBN 978-85-7062-953-1
O casulo reforma
fechado dorme
o corpo fechado
o olho a asa a cor
abertos formar o ar
metamorfoses em par
aberto casulo dança
dançar o corpo lançar
asas de avoar: asar
metamorformas do ar
brilhar mais forte
e mais: performar
redemunhos soprar
linhas inventar aventar
borboletas: fios de ar
a forma mundo-ser:
o mundo formado
ser-tão mundo forma
desmisturar alma for
mar a palavra escrever
mar tão se água forma
mar de água formar
o mundo coberto de mar
enformar o ser tão alma
mas de água magma ser
de lama: sertão niemar
mas: o ser a mais a mar
a forma ademais afora
formado o cerrado informa
o ser o tão o mundo a forma
um pastel um caldo de cana
almoçar lanchar jantar
tudo na mesma: viçosa boca
esperar o ônibus esperar
um tempo
(não o pleno dos deuses
nem o vazio da vista)
perdido
esperando godot na pista
De
RODRIGUES, Augusto. Do livro da carne (brasílias invisíveis). Brasília: Thesaurus, 2011. 72 p. ilus. fromato 15x15 cm. ISBN 975-85-409-0033-2. Edição de autor, impresso pela Thesaurus. Projeto gráfico e capa: BrasiliaFazBem. Supervisão: Tagore Alegria. Da mesma forma que muitos livros canadenses, esta edição tem duas capas iguais e os textos vêm de cada das partes para o centro do miolo. Col. A.M. (EA)
A seguir, uma das partes do livros, como exemplo da diagramação:
Extraído de
CAMPUS REPORTER - Ano 7 no. 12 – 2013
Universidade de Brasília – Faculdade de Comunicação
RODRIGUES, Augusto. Niemar. Goiânia, GO: Editora Vieira, 2008. 83 p. 14x20 cm. “ Augusto Rodrigues “ Ex. bibl. Antonio Miranda
NIEMAR, Augusto. Poemas da rua do fogo. Augusto Rodrigues Niemar. Brasília: Avá Editora Artesanal, 2019. 63 p. 14,5 x 21 cm. Capa: Lemuel Gandara & Pedro Maia. Projeto gráfico: Augusto Niemar & Eward Bonasser Jr. Apresentação (na contra-capa) Helena Nogueira. ISBN 978-85-54295-17-1 Ex. bibl. Antonio Miranda
ÁGUA
a primeira etnografia da chuva:
era dia, sombrio, no pinico do mundo
chegou a noite sombria
e a chuva incessante incessava
os farricocos perfilados, na chuva
as tochas, perfiladas e apagadas
intermitências do tempo
nas intermitências da morte
não houve procissão, nem fogaréu
avgvsta bracara silenciosa, calada...
e fui contando gotas pela vida...
chove o tempo sobre nós: afoga
(2014)
TRANSFERÊNCIA DO PARAÍSO
transferir a capital
ferir o princípio
o verbo e o fim
o pecado inicial
para onde seguir
queda expulsão
êxodo invertido
na reconstrução
onde os pecadores
pois é para onde?
e agora onde?
e agora, gora, josé?
*
firmar-se barroca
catacumbas de si
diante da cidade,
signa, modernidade
como é sair de si
deixar de ser em ti
não mais capital
pecado inatural
expulsa, expulsada
cidade tombada, deu
a queda, patrimônio,
matrimônio material
CANDANGOIANOS, NA POÉTICA BRASILIENSE / organização José
Sóter. Capa: Sobre o quadro Campo de Espinhos, do artista
Lemuel Gandara (escrito com tinta do Pequi). Projeto gráfico do
capista Potyguara Pereira Netto. Miolo: projeto gráfico e diagramação
de Alex Siva. Organizadores: Sóter, Augusto Niemar, Salomão Sousa.
Brasília, DF: SEMIM 2024. 116 p. ISBN 978-85- 980743-6-4
No. 10 203
Exemplar biblioteca de Antonio Miranda, doação de Salomão Sousa.
CORO CORALINO
(geopoesia)
entre aquele fio da manhã que diz que a noite
acabou
e um novo dia começa
um coro entoa promessas
e quando o primeiro galo canta
e todos os outros galos contam
tecendo uma polifonia de gritos
um coro canta, encantando, no rádio aquela
canção
das buzinas que zunem que zunem
uma sinfonia aonde sé proibido buzinar,
e do silêncio condicionado pelo ar condicionado,
um coro de diaristas grita sobre a condição
humana
(deve ser bacana ser Clarice e não ser Macabéia)
se no romper, mesmo, do dia, entre
o sangue derramado do leiteiro a massa do
padeiro
a força braça do servente de pedreiro)
nas construções: um coro, entre tantos coros,
ruge estilhaços de doses, dores, de encontrar
seus (patrões) ALGOZES
ao meio-do-dia entre aqueles que tem fé e
aqueles que não tem nada
um coro de estômagos vazios corifeita os roncos
das barrigas vazias
e um coro de crianças nos sinaleiros,
tecendo brinquedos de terreiro,
engraxates, mascates, descoteiros
grita faminto em constante berreiro
na condição de filhos brasileiros
e no chá da tarde quando a tarde arde ardente
e o poeta disso tudo faz arte a toda parte
um coro de heterônimos se reparte em sinais e
signos, grafites e histerias
— e toda histeria, nessa polifonia, é coletiva
(desse ser legal Gadiva ou Maniva)
no fim da tarde
um conjunto de carros para na faixa para divas
cansadas
que revelam dores ancestrais elas entoam
modinhas lundus suças e polcas de tantos outros
carnavais
e na hora da ave maria as aves se põem em
cantoria
e todas as Maria, diaristas nas lidas diárias,
sonham
que seus diários silenciados sejam um dia achados
por uma editora-chefa que lhes faça companhia
nas letras
e dentro da noite veloz
um coro de notícia invade as casas
e em todas as asas um coro de poucas horas nas
horas-casas
dizem muito pouco
desse admirável mundo belo e louco
e quando chega a meia-noite
todas as caveiras dançam danças macabras
e cantam cantigas malvadas entre uivos e risadas
e quem passa na porta do cemitério, entre o
cômico e o sério,
ouve em saraivada:
tumba lá catumba tumba tá
tumba lá catumba tumba tá
tumba lá catumba tumba tá
(Niemar, Iryna Maia. Residência Teatral Entre o Um e o Muitos,
coordenada pelo diretor Cristian Lampert; E. C. Renato Russo,
março/abril de 2024).
*
VEJA E LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html
Página publicada em novembro de 2024.
Página publicada em novembro de 2011, ampliada e republicada em julho de 2014; ampliada e republicada em março de 2015. Ampliada e republicada em abril de 2019,
|