Fonte: http://www.museuvirtualbrasilia.org.br/
AFFONSO HELIODORO
Quem vê o senhor magro e esguio subindo e descendo escadas, enquanto fala de forma contundente sobre o presidente Juscelino Kubitschek, na sua casa no bairro Lago Sul, em Brasília, não imagina que esse senhor tenha 95 anos de vida e grande parte deles dedicada ao ex-presidente JK.
Affonso Heliodoro é história viva de Brasília e do Brasil. O coronel da Reserva da Polícia Militar de Minas Gerais, bacharel em Direito pela antiga Faculdade Nacional de Direito, do Rio de Janeiro, membro de várias academias de Letras e tantos outros trabalhos, sabe datas, nomes e locais, tudo na ponta da língua, e é capaz de falar hora e horas sobre política brasileira e seus personagens.
Mas o menino Affonso Heliodoro teve uma infância difícil. Nascido em Diamantina, em 17 de abril de 1916, perdeu o pai, José Heliodoro, no dia de seu aniversário de sete anos. A família, então, passou a depender da pensão, que era metade do dinheiro que o pai ganhava em vida.
A mãe, D. Dolores, teve de cortar gastos e fazer sacrifícios para sustentar a família. Os filhos mais velhos tiveram de deixar a escola e arranjar trabalho. Para ajudar em casa, Affonso Heliodoro trabalhava nas férias escolares. Vendia doces, engraxava sapatos, trabalhava em bancas de jornal. O menino Affonso Heliodoro foi aluno da mãe de Juscelino Kubitschek, Dona Júlia.
Em 1933, entrou definitivamente para a força pública quando teve seus primeiros contatos com Juscelino Kubitschek, que era capitão-médico. Quando o capitão da companhia viu o jovem todo alinhado, sabendo tudo, passou-o direto para auxiliar de escrita, sem precisar se submeter aos seis meses na escola de recrutas. Heliodoro trabalhou no hospital militar, ajudando na reorganização da administração. Fez curso para cabo, para sargento e fez exame para oficiais, passando em quinto lugar. Havia dito que em vinte anos seria coronel. E, com vinte anos de serviço, foi nomeado coronel.
Quando Juscelino assumiu o governo de Minas Gerais, foi chefe do Gabinete Militar (1951-1956), aprofundando, então, uma amizade que duraria até a morte de Juscelino, em 1976.
O coronel da Polícia Militar exerceu na Presidência da República o cargo de subchefe do Gabinete Civil (1957-1961), dirigiu o Serviço de Verificação das Metas Econômicas do Governo (1957-1961) e o Serviço de Interesses Estaduais (1956-1961).
Heliodoro esteve ao lado de Juscelino na construção do Palácio das Mangabeiras – residência oficial do governo de Minas Gerais após o fechamento da área residencial do Palácio da Liberdade –, na idealização do Museu da República no Rio de Janeiro, nas diferenças enfrentadas pelo presidente na época da revolução e do golpe militar, no exílio, em Paris, mais de duas vezes. Participou das campanhas eleitorais de Juscelino para a Presidência da República, em 1955, e para o Senado, em 1961, pelo Estado de Goiás. Fundou o Movimento JK – 65. Atuou, principalmente, como um legítimo pioneiro na vinda ao planalto, onde seria erguida a nova capital, participando, então, de todas as etapas da construção. De Juscelino sabe todas as histórias, das mais engraçadas às mais íntimas, as oficiais e as lembranças de momentos de grande tristeza do ex-presidente, como a época do exílio em Paris.
Autor de vários livros, como "JK – de Diamantina ao Memorial", "JK – Exemplo e desafio", "Rua da Glória – histórias de um menino", Heliodoro escreveu, também, diversos artigos e crônicas publicadas em jornais nacionais e estrangeiros.
Depois de dezesseis anos à frente do Memorial JK, em Brasília, o coronel Heliodoro foi atuar na área cultural, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, instituição que administra desde sua fundação, em 1995. Importante figura pública de Brasília, o coronel Heliodoro colabora na divulgação e na preservação, também em nível internacional, da memória de JK e do Brasil contemporâneo.
Affonso é também poeta, escritor, pintor, gestor, homem de bem e está sempre envolvido em projetos. Acredita que Juscelino foi assassinado. Diz, também, que a cassação e a morte de Juscelino tiveram como causa a construção de Brasília e a integração nacional.
Obras publicadas:
1. JK - de Diamantina ao Memorial. Brasília: OFF SET Editora Gráfica e Jornalística LTDA.
2. JK Exemplo e Desafio. 2ª Ed. Brasília: Thesaurus, 1991.
3. Rua da Glória – histórias de um menino. Brasília: Editora Thesaurus, 1993.
4. O Memorial JK – um monumento e centro de cultura. Brasília: Verano Editora & Comunicação Ltda, 1996.
5. Um copo de cerveja. Brasília: Verano Editora, 2001.
6. Luas de minha caminhada. Brasília: Verano Editora, 2001.
7. O dragão da lua e a ninfa Sirinx. Brasília: Thesaurus, 2008.
Artigos e crônicas publicadas em jornais do Rio de Janeiro, Lisboa e Brasília.
HELIODORO, Affonso. Luas de minha caminhada. Brasília: Verano Editora, 2001. 88 p. 15x21 cm. Capa e projeto gráfico de Oswaldo Sérgio (Dinho). Col. Bibl. Antonio Miranda.
PAZ
Esta noite tu dormias tão tranquila!
Teu respirar ritmado trazia-me aos ouvidos
músicas que ninguém ouviu.
Só eu, apaixonado, pude encantar-me
com os acordes dos anjos que,
no ritmo suave de teu sono,
tocavam, de leve, as cordas de suas harpas
e delas tiravam notas e sons celestiais.
A harmonia de teu sono encheu de paz
o nosso quarto.
Mais uma noite feliz ao lado teu.
VÊNUS CIUMENTA
Desponta lá no céu a lua cheia!
Sobe airosa e toda se enfeita.
Brincam e bailam ao seu redor
milhões de estrelas!
Vénus enciumada afasta-se do bale.
Orgulhosa, fica lá em baixo,
lá embaixo, sozinha.
Perco meus olhos pelas alturas.
Sonho.
Surpreendo-me a vogar pelo passado.
Cenas de um tempo que se foi.
Acordo e vejo as marcas que ficaram
e hoje voltam à minha realidade.
ACALANTO
Para embalar teu sono de menina
fiz do meu canto doce melodia.
Minh'alma ao ver-te toda se ilumina.
Se escura a noite, para mim é dia.
Teu sono leve, ao leve respirar,
é belo encanto que me alegra a alma.
Vendo-te pura e doce para amar
sinto que me seduz e a alma me acalma.
Olho-te mais e mais me asseguro:
Caminhos vários aqui me trouxeram,
ao porto desta vida em que seguro
meu pobre barco que vogava ao léu,
por mares turvos que te antecederam,
encontra em ti a terra firme e o céu.
FERREIRA, Sônia. Chuva de poesias, cores e notas no Brasil Central – história através da arte. 2ª. edição revista e melhorada. Goiânia: Kelps, 2007. 294 p. ilus. col. (antologia de poemas de autores do CECULCO – Centro de Cultura da Região do Centro-Oeste) Ex. bibl. Antonio Miranda
Lua quente, cheirando a peixe.
Lua da brisa branda do São Francisco.
Lua que tão pouco vi naquela quadra.
Lua que se espelha e se espalha nas águas do grande rio.
De ti lembro-me tão pouco, fulgente lua.
Mas tenho, guardadas no peito,
lembranças saudosas
da Lua de Pirapora.
Lá, em noites de plenilúnio,
os moços vão à rua buscar as namoradas
e cantam.
Do seu cantar, de endechas tristes,
fluem juras de amor, confissões de afeto,
promessas de carinho.
As noites passam, as luas voltam.
Sempre um jovem apaixonado
há de esperar por elas,
nas margens mornas do meu Rio São Francisco..
Página publicada em maio de 2014; ampliada em dezembro de 2019
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