ABÍLIO TERRA JÚNIOR
Abilio Terra Junior é natural de Belo Horizonte-MG e reside em Brasília-DF. Economista, servidor público aposentado, dedica-se, atualmente, à poesia e aos contos e crônicas. Casado com Luiza Helena, e filhos Roberto e Marcella. Possui sete livros virtuais para download e poemas formatados para leitura na sua homepage ‘Os Homens Pássaros’, http://www.oshomenspassaros.com.
Aprecia gnosticismo, música, animais, pintura, escultura, fotografia, ecologia, ciência, poesia, literatura, cinema, surrealismo, arte, natureza, universo, defesa dos direitos humanos e assuntos afins.
Possui dois livros publicados, ‘Numa Floresta de Símbolos’, pela Editora Alcance e ‘Os Homens Pássaros’, pela CBJE.
Define-se como um poeta que observa o mundo ao seu redor e não se contenta com as aparências e que tenta utilizar as palavras para perscrutar o mundo do sonho e o mundo da realidade. No seu modo de entender, estes mundos se encontram interpenetrados, não há como separá-los.
De
Abílio Terra Júnior
NUMA FLORESTA DE SÍMBOLOS
Porto Alegre: Alcance, 2010.
104 p. ISBN 978-85-7592-194-4
O Sonho é Tecido
o sonho é tecido
e então é trazido
das profundezas de um mundo
de um bem profundo
ele vagueia sonâmbulo
a procura do ‘seu dono’
imerso no sono
tropeça aqui e acolá
se aproxima devagar
pisando nas pontas dos pés
para não assustar
(pois isso pode acontecer
se de repente ele aparecer)
próximo então ele penetra
lá dentro da alma do ser
que prostrado ali se encontra
como são amigos de há muito
(falo do sonho e da alma)
os dois sorriem e se abraçam
e até trocam afagos
se amam de verdade
se vêm com assiduidade
e são quase parentes
pelas suas vibrações
que lhes permitem então
uma íntima junção
tornam-se um só ser
o sonho então conduz a alma
por caminhos às vezes sutis
outras vezes nem tanto
e por mundos tão estranhos
repletos de paradoxos
que lembram a poesia
sempre próxima de ambos
às vezes vivem momentos
de um amor tão intenso
que não existe na Terra
outras vezes um susto enorme
ou uma melodia sublime
ou uma resposta a um enigma
que jazia há tempos no fundo
da alma, fechado em si
outras vezes perambulam
pelo passado perplexo
ou por um encontro impossível
ou por dores insuportáveis
ou por uma alegria que contagia
e que alegra a ambos
e ao ser que ali repousa
05/09/2010
A Voz da Mulher
o mar invade as pedras
a voz da mulher ilumina as musas
e o sangue desce e recrudesce e pulsa
enquanto a música balança
e a mulher se embala e se deixa levar
e nada mais existe
a não ser a mulher
sua voz límpida
o seu coração que acompanha o mar
e as pedras que rolam
e as areias que se multiplicam pela praia ao infinito
a mulher não diz
ela pronuncia a música do mar
que com ela se envolve em um longo abraço
de prazer dor sensualidade
e o mais puro êxtase
correntes marítimas impregnam suas pernas
o seu sexo entre dois moluscos famintos
as estrelas do mar se colam à sua pele
e ela se esquece da lua
e se dobra como uma ave
que mergulha entre os peixes
circula com eles
em um bailado de nuvens molhadas
e toda a rocha se cala circunspeta
à espera das notas que se elevam
e são gotículas de água
que giram loucas entre as ondas
que sugam as areias
e a música se pergunta
e responde às ondas
que a voz da mulher instila inspira suspira
e permeia a voluptuosidade serena da maré
23/11/2008
Encontro-me Feliz de Repente
encontro-me feliz de repente
e me pergunto descrente
qual a fonte deste júbilo
se há motivo para tanto
se a vida em curvas incertas
me presenteou com arestas
que se aprofundaram em mim
desde as mais frescas horas
minha mente se alonga
toca meu coração
auscultando-o com tato
por sabê-lo tão vibrátil
sente-o muito sonoro
bem próximo da vida
que jorra como uma fonte
da límpida montanha
se indaga inquieta
como este órgão tão meigo
esconde secretos fonemas
herança dos tempos primeiros
e se desdobra em encantos
se enleva às alturas
permite que a poesia
seja sua augusta tutora
minha mente se revela
neste momento atônito
sua admiradora sincera
sua discípula atenta
08/01/2008
Lindas Mulheres e a Minha Pele
lindas mulheres e a minha pele
que se espelham no longo orvalho
no prazer da morna flor
que exala que se abre ao amor
nesse trajeto que se repete enrubesce
nas areias sensíveis da noite
nos esquecemos nos negros vapores
nos perdemos no covil das madeixas
suas vozes no espaço da morte
me adormecem nas estreitas vielas
dos seus hálitos perpétuos claros
dos seus íntimos anelos que vibram
suas unhas que tocam as cordas
das violas que nelas se escondem
me marcam com o sangue do espasmo
comprimem o meu jato sublime
seus pêlos em círculos estreitos
me propõem um sucinto enigma
que tento solver com a língua
que se bifurca serpente faminta
seus olhares tão crespos em pares
tocam o suor dos meus poros
se espalham em tons claros
se voltam no transe se esquecem
suas luas tão escuras tão cruas
apontam-me brejeiras as escunas
nos tormentos amenos do estreito
refulge no ardor soa em flor
17/09/2008
Página publicada em agosto de 2011
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