Foto extraída de https://twitter.com/
YOLANDA MONTENEGRO
Poeta e odontóloga,
Nasceu em Fortaleza, Ceará, Brasil.
ELAS CHEGAM
Deslumbrada
cheguei no mundo dos homens
e fui entrando em seus exclusivos redutos.
Fortalezas masculinas
planejadas por eles,
construídas para eles... e só eles!
Penetrei tímida em seus recantos.
Li seus livros
conheci seus métodos,
trabalhei com eles.
Lutei como eles lutam.
Ombro a ombro me igualei.
Não vi lágrimas nem desesperos
nesse mundo masculino.
A revolta, as crises, a submissão...
Isso eu não vi!
Nada de meu mundo de mulher...
Tanques, panelas e fraldas...
Foi tudo que na terra nos foi destinado.
Roupas em varais se estenderiam
da terra ao sol. Anos de roupas!
Pilhas de pratos em léguas de barricadas
pelos anos de vida
Fortalezas de pensamentos remoídos
e silenciados..
A eterna condição feminina do só receber
mas não dispor, nem conceder,
sem a precedida.
Nunca a livre determinação.
Meus novos companheiros, acreditem em mim:
Elas estão vindo ávida e decididas
a compartilhar e dirigir.
Chegando rápidas, elas vêem — eu sei!
Pois venho com elas!!!
|
ANTOLOGIA DEL SECCHI, 2005 Volume XV, Rio de Janeiro: 328 p. 14 x 21 cm ISBN 85-8649-14-3 No. 10 231
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito, Brasília, novembro de 2024.
A PRESENÇA DA POESIA
Na placidez da caverna do meu ser,
Debaixo da pedra de minha vida,
Dormito em paz!
Assim,
A poeta dentro de mim desperta!
Agita meus sentidos
Então escrevo...
Que se dobrem as gramáticas,
Que se quebrem as matemáticas
Do verbo e do verso.
E Ela, senhora dos meus tormentos
Vitoriosa chega!
Então escrevo...
Plasmem-se as letras,
E as rimas, que se vão...
Que importam as rimas
Se o tropel das palavras, ginetes de fogo,
Dominam minha mente, regem minha mão?
Então escrevo...
A presença da poesia
Na crueza da realização
Faz morada dispersa dentro de mim;
As entranhas queimando em versos,
Na germinação do pensamento
Urgente na chegada — pede desafogo!
Então escrevo...
As liras que vibram sem cessar,
Na inspiração, no tempo da busca,
Da presença da poesia,
Invadem meus espaços
E quero-te presente!
Então escrevo...
O SILÊNCIO DA MULHER
Na poeira dos séculos
Gostaria de pressenti-las
Através de símbolos ou sinais
Auto-realizados.
Mas só o silêncio em resposta.
O que nos contaram os livros,
Não foi por elas descritos.
Nos alfarrábios e nas pedras
O que disseram as mulheres?
Silêncio.
Coorte anônima
Marchando pelas eras
Nos caminhos da vida
O que sentiam?
O que pensavam?
O que desejavam?
Auroras da vida
Guardiãs da criação
Em raças, credos e cores.
Ricas ou pobres.
Traziam dentro de si, então,
O pavor de gerar outras mulheres
Outros vultos silenciosos.
Mercadoria de compra e venda,
Caluniadas, apedrejadas.
Sem defesa.
Os tempos passaram,
Veio a explosão gerando espantos!
Hoje libertas donas de seu ser
Do amar e do querer.
Tudo teve alto preço
Se valeu a pena?
Sim, poeta...
Valeu a pena!!!
*
VEJA e LEIA outros poetas do CEARÁ em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/ceara/ceara.html
Página publicada em dezembro de 2024
Página publicada em março de 2020
|