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VIRGÍLIO MAIA
VIRGILIO Nunes MAIA nasceu em Limoeiro do Norte, Ceará, Brasil, em 7 de março de 1954. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará (1980), é advogado militante. Poeta, letrista de músicas, contista bissexto e xilógrafo. Incursionou também pela etnologia com o livro Álbum... e pelo notável Rudes Brasões – Ferro e Fogo das Marcas Avoengas (2004).
Virgílio Maia é um talhador, um tecelão, um ourives do verso em sua imagem submersa em textos de fina e (por razão estética) de rude tessitura. Sua Cartilha impõe um leitura quase litúrgica, de perder o fôlego, pela emoção que suscita em sentido cabalístico, axiomático. O poeta Francisco Carvalho já havia feito jus ao efeito da obra sobre o leitor incauto: “poesia desse quilate não é iguaria para o paladar de iniciante”. Mas é justo dizer que sua poesia é iniciática, de alfabetização poética, é fundante de significados transumanados. Seus versos são densos, contidos, sintéticos, emblemáticos: sextilhas, quadras e sonetos em que a fôrma e a forma se irmanam em conteúdos/inscrições imanentes. Como o poeta mesmo reconhece: “é pergunta que chega a qualquer mito”. Antonio Miranda
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VIRGÍLIO MAIA
TEXTOS EN ESPAÑOL
De
La ciudad docena
Era una noche llena de jardines. yo te soñé conmigo, mi ciudad, tu cementerio, luces y confines, tus muros blancos y tu castidad.
Y pudo ver, soñé, sin que imagines, todos los potros de la soledad. Tus mujeres celosas, querubines, los arcanos del mal, de la bondad. Oí frangancias de cosas ya remotas, calles desiertas, las huellas rotas, el pasado de moros y judíos.
La Cruz, la inmensa Cruz, su gloria: el Creciente, la Estrela y la memória de las três oraciones y un solo Dios.
La aldea
Su nombre no diré, que aquella aldeã muy callada la traigo em mim memória. Solo quiero olvidarla y’toda Idea de unos tiempos sin luz y rara gloria.
Olvidar, olvidar. Es vanagloria traerla, ahora, acá dónde fondea esperanza pequeña de mi historia sobre una mar tan gris que ya se ondea.
Triste aldea: quedose en la muy ancha y seca soledad de La Mancha, en el polvo amarillo Ella se pierde.
Pero sopla su nombre a los molinos el mismo aire que toca a leves linos: quinzás Miguel Esteban o Villaverde.
Aranjuez
Calladas soledades de Castilla: murmullos pedregosos del cristal que es alcandora, es lámpara divinal, alburente naranjo, almohadilla.
Es la luna que pasa, que se brilla en su trilla celeste, colosal, mientras el viento sopla el robledal con un bermejo olor de banderilla.
Se escucha por los Aires Dulce nota que a azahares se junta y se alborota entre las ciegas cuerdas del testigo
del menester de amores y jaezes. Rozan las rosas de floridos meses cinco puñales de Joaquín Rodrigo.
Teruel
Los toros encendidos en sus patas clavan la tierra en trepidar de estrellas, en trasnochadas coplas de centellas tejidas de marfil y tíbias platas.
Aldebarán se duerme en las botellas: es espejo de muy remotas actas de corage, de honor y de las gratas bruñidoras de espadas y de huellas.
Es leyenda de dos tristes amantes; Ilenos de noches – pero deslumbrantes; es reflejo del rudo rubro rito
de las hirvientes espuelas y peleas; de los acesos fuegos de las teas; de caballos de acero y de granito.
Amanecer en una ciudad de España
Albahaqueres se duermen en las ventanas azules de la calle más callada, mientras se escucha el agua derramada desde un jarro Iloroso en las fontanas.
Hay un fragor de luz y porcelanas, cuando la noche se hace madrugada y se rompe la luz anaranjada dibujando infinitas filigranas.
Los duendes se van. la petenera cesa sus coplas de oro y de madera. El sol Lanza los brazos a las parras,
estrechando sus muslos y sus senos. Brilla la vida y el día ya sin frenos, canta em la voz de todas las guitarras.
Virgílio Maia
ROMANCE:
No centenário do nascimento de Rachel de Queioz. 1910-2010
As HISTÓRIAS contadas no romance Memorial de Maria Moura, de Raquel de Queiroz, têm sua secura lítica irrigada por um comovente veio de ternura: o caso de Marialva e Valentim. Sem se importarem muito com as mortes, os tiros, os incêndios, as traições ou com os amores menores do enredo, os dois mergulharam na própria paixão. A passagem em que Marial- va recebe, mandado por Valentim, o bonequinho de madeira que traz pintados no rosto dois grandes olhos verdes e no peito um coração vermelho traspassado por um punhalzinho, é cena, como dizia Pedro Nava, cuja evocação é uma esmagadora oportunidade poética. Foi aí, em tomo disso, que teci este pequeno romance, modesta homenagem a Raquel de Queiroz e ao amor de Valentim e Marialva.
PALAVRAS DE VALENTIM
Vou, mas volto. Marialva. Vou caminhar muitas terras, vou passar por tantos vales, subindo e descendo serras, vagando por povoados, pelas feiras e bodegas, andando por esse mundo sem direito de ter pressa, tendo só por companhia as cordas desta rabeca, a poeira das estradas e o chouto da burra velha. Vou vagar, é que eu preciso de pagar uma promessa. Mas carrego nos meus olhos o verde que com certeza é o mesmo que fíca aqui, na cor dos teus, à espera do dia em que poderei, finda então a minha reza, regressar ao teu sorriso que desde agora me enreda. Vou, mas volto Marialva. E vamos deixar que cresça este ramo de saudade que entre nós dois se segreda.
MARIALVA CISMA A SÓS
"Vou/mas volto. Marialva". Minha alegria se alegra lembrando as palavras dele, ditas assim, com firmeza, quando por aqui passou o bom Valentim Pereira. Era belo saltimbanco, mas pagava uma promessa de mendigar pela estrada colhendo tristes moedas para o Senhor do Bonfim, tocando triste rabeca. "Vou, mas volto. Marialva". Disse assim e foi-se nesta estrada quase sem fim, comprida de muitas léguas, deixando guardada em mün esta saudade que pesa e o verde dos olhos verdes que desde então me tem presa. "Vou, mas volto. Marialva". Passou-se o tempo da ferra, passou-se o tempo das frutas e Valentim não me chega. "Vou, mas volto. Marialva". Palavras que são promessa. Passou-se o tempo das chuvas, passou-se o tempo da seca, passou-se o tempo, passou-se já tanto tempo de espera.
ALGUMA PROSOPOPÉIA
A rua daquela vila estava todinha cheia da muita gente que foi pra festa da padroeira. Era tanta gente que se assemelhava a uma feira, havendo até cantadores disputando uma peleja. Fui pra lá mais meus irmãos todos feitos de madeira, folguedos para meninos, bonecos pra brincadeiras, que um carpinteiro nos fez com taliscas de primeira. Chegamos lá bem cedinho, no comecinho da festa, e depressa armou-se banca bem no patamar da igreja. Um por um foram vendidos pra meninos que se alegram. Um por um foram levados e eu fiquei só sobre a mesa, mas lá do céu me fitava minha madrinha tão bela. Pois aí chegou um moço, tendo à mão uma rabeca. Tinha uns olhos grandes, verdes em sua cara morena, mas trazia no semblante tristeza de fazer pena. Pegou-me e pagou-me ao dono, mas não se desfez da queixa que a saudade imprime em quem muito longe um amor deixa. Guardado no seu alforje, pude ouvir a noite inteira doídos sons que tirava com o arco, não na rabeca, mas das profundezas d'alma e d'alma das profundezas.
Limpo de qualquer pintura todo o meu corpo assim era, que da madeira branquinha se viam todas as veias. O moço dos olhos verdes a um pintor me fez entrega, de cujas mãos então trouxe, pintado com cor vermelha, desmedido coração que rudo punhal espeta. Traspassado coração donde o amor, rubro, goteja. Enormes dois olhos verdes, que aos do moço se arremedam, tenho agora no meu rosto. São verdes, verdes de relva. Pelo moço fui mandado, por carinhosa encomenda, e em menos de dia e meio cheguei às Marias Pretas, saudoso sítio onde mora Marialva, uma princesa por graça e por formosura, por seu riso de donzela. Marialva, a que me acolhe no seu colo quando reza e que se ri quando brinca no peitoril da janela, fazendo rodopiar um bailarim nas mãos dela.
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