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SOARES FEITOSA
Francisco José SOARES FEITOSA, 19.1.44, Ipu, CE, órfão de pai no mesmo dia em
que nasceu, é filho único. Infância na cidadezinha de Monsenhor Tabosa, também no Ceará. Seminário de Sobral, aos 13 anos. Dos 14 aos 15, morou em Nova-Russas, na mesma região norte do Ceara, na casa do tio, padre Leitão. Toda a infância e juventude permeadas com os matos, os campos, os sertões, a caatinga, a Seca e os invernos: fazendola Catuana, às margens do rio Macacos, de sua mãe viúva, Anísia-parteira.
Foi jornalista na juventude, em Fortaleza; caixeiro-viajante no Piauí; depois funcionário do Banco do Brasil. Aos 20 anos já era Fiscal do Consumo. Sempre por concurso. Aos 22 anos, casou com uma serrana, Glaucineide, e com ela tem cinco filhos.
Viveu no Recife de 1980 a 1994. Transferido para Salvador, divide hoje residência
entre as três grandes capitais nordestinas.
Em 1993, às vésperas do meio século de vida, escreveu seu primeiro poema. Em
1996 iniciou a publicação artesanal do livro Réquiem em Sol da Tarde. Ainda em 1996, fundou, na Internet, o Jornal de Poesia. Em 1997 publica o seu primeiro livro.
Veja o e-book de uma edição artesanal do poema RÉQUIEM EM SOL DA TARDE do poeta SOARES FEITOSA:
https://issuu.com/antoniomiranda/docs/soares_20feitosa
FEITOSA, Soares. Quaesitio. [Fortaleza, CE]: Edição do Autor, 1997? 200 p. 18,3x24,5 cm. “Soares Feitosa” Ex. bibl. Antonio Miranda
De
Soares Feitosa
PSI, A PENÚLTIMA
Salvador: Papel em Branco, 1997
I9SBN 85-900248-2-2
Cumplicidade
para Dora Ferreira da Silva, poeta.
Chamar pássaros
com alpiste de amá-los livres,
procuradores eles serão,
ad judïtia,
ad negotia,
pleni,
plenipotenciários,
procuradores meus,
asas livres aos meus azuis.
Eles me pousam os parapeitos:
uma sombra,
tem que haver uma sombra cúmplice:
seja de aproximar,
seja de chegar bem perto
— parece que é.
O que garante o medo
é o gesto das duas mãos,
as duas,
conchadas de pegar
em quase...
a alma do pássaro
-não, não:
"avoe, meu bichim",
que não lhe devo...
A intimidade é sutil
(dos pássaros)
não só a deles:
é sutil
quando estremece
e pousa.
Sempre.
Salvador, noite leve, 16.1.96
Réquiem em Sol da Tarde
Grita, para ver se alguém te responde.
(Livro de Jó, 5, 1)
Sim,
a porteira do caminho do rio
ainda era a mesma.
,A direção do rio também;
presumo não tenham mudado o rio.
O benjamim,
disseram, morrera na seca do 93;
arrancaram-no pelo tronco.
Não replantaram sombra,
nem pássaro.
O banco de aroeira,
racharam-no em lenha de fogo.
O curral das vacas,
também.
O chiqueiro das ovelhas,
À esquerda da casa,
e o dos bodes,
à esquerda do das ovelhas,
sumiram todos.
O batente da porta-da-frente,
e abaixo dele outro batente,
onde uma pedra,
com um caneco d'água
lavei os pés,
ainda estão lá,
os batentes;
e nos batentes também estavam
meus rastros em riscos de fogo,
que continuam.
Os canários amarelos,
os mofumbos florados,
não os vi;
nem flor...
que também não vi.
Os armadores da rede,
na sala-da-frente, sim,
estavam no logar,
parecem,
outra vez prontos para rangir.
E daquelas pessoas,
quando perguntei por elas,
fizeram-me um gesto distante.
Perguntei por mim;
ninguém sabia quem era.
Eu disse:
é um conhecido meu que gostava muito
daqui.
Perguntaram-me quem eu era.
Um amigo, disse,
e fiz um gesto
ao tempo.
Ficaram sentidos por não saberem
nem de mim, nem do "outro".
Um menino pequeno começou a chorar,
lá dentro.
A mãe correu
para acudir.
Despedi-me
sem dizer palavra.
Salvador, boca da noite, 14.5.95
LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda
CHAMA
Essa chuva me molha depois... E, depois, outro
percurso úmido de uma brasa que não seca chama a vida.
Chama mais de mais jeitos de umidade, antes que a
saudade não possa de querer; antes que a vontade não possa
mais de tanto ser.
Chama que venha e se instale sem escapar desse sonho.
Chama que venha a que, também, às vezes, finja-se por
um fio e que seja, depois, feito tocha entre árvores em noite
de ventania.
Chama de tocha, então, esse sentir que não estanca.
Chama de chama, então, essa entrega que molha,
depois, esse percurso de chuva.
Edição (em gráfica caseira) de Edson Guedes de Moraes – Jaboatão dos Guararapes – Pernambuco.
Página publicada em janeiro de 2010; ampliada em agosto de 2016. Página ampliada em outubro de 2019
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